2 Comentários

  1. Ellen Nunes

    A começar pelo questionamento que finaliza este artigo coloco-me a pensar que sem a “língua” e seus “símbolos” – constituintes da linguagem – não há nada a se fazer. Como seres racionais que somos, impossível que consigamos fazer algo sem a comunicação que a linguagem nos possibilita.
    Há de se convir que a discussão sobre comunicação e linguagem não se aparta dos problemas sociais advindos da contemporaneidade e que tal discussão se constitui de todo um arcabouço teórico.
    As teorias nos orientam ao mesmo tempo em que as práticas reformulam as teorias. Isso nos leva a crer que estamos nos aperfeiçoando cada vez mais em nossas potencialidades, fato este que, a meu ver, impossibilitaria o fim da filosofia.
    Uma vez instituída como a ciência responsável pelo julgamento das ações, ela se encontra intrínseca à Sociologia, que dá sentido à ação e interação – e à Psicologia – que lança um olhar sobre as causas da ação. Notamos claramente que todas se encontram imbuídas da manifestação de uma força, a própria ação. Tudo o que discutimos hoje é comunicAÇÂO, interAÇÂO.
    Somos constituídos de matéria e ação. Nossas ações é que ditam as práticas e conceitos vivenciados, compondo com isso as transformações pelas quais perpassamos, cunhadas em momentos históricos com aspirações político-ideológicas particulares. Por tal motivo é que não posso concordar que exista uma ruptura de um período com o outro, mesmo que marcado por um fato histórico. Acredito sim que existe um panorama crítico composto de cenários formados e construídos a partir de experiências de “mundo vivido”, onde história e cultura se unem na formação do social.
    Não estamos perdendo nossa referência paradigmática. Prefiro até ousar dizer que nós, seres pensantes, não possuimos paradigmas de determinadas correntes. Isso nos leva a assumir um apartidarismo – muito positivo para que nos tornemos mais originais.
    Reforço aqui que não é preciso colocarmo-nos num prisma que fundamente nossa auto-afirmação. O próprio termo “auto” nos leva a pensar que nosso prisma somos nós mesmos no “ser” e no “devir” humano enquanto ser social, portanto, em sociedade.
    Então eu lhe pergunto: é mesmo necessário distinguirmos a era em que vivemos? Acredito que não, até mesmo porque não temos a certeza de que nossos antepassados conseguiram tal feito. Nesse ponto me encontro em meio às infinitas possibilidades que a linguagem me fornece para conseguir expressar o que penso. Reporto-me agora à Bourdieu e ao poder simbólico instituído a partir da linguagem. Considero até que o hábitus, citado por ele, é o grande diferencial das passagens históricas – a que você chama de paradigma – delimitadas pelos períodos que as caracterizam. Pelo hábitus conseguimos “perceber” a essência e “evidenciar” a existência humanas de uma maneira que transcende as ciências. Estaremos nessa eterna dinâmica transdisciplinar de discussão inevitável e infinita nos entornos do kosmos que molda um corpus de conhecimentos, materializados na práxis – o que sucumbe com qualquer viés, seja metafísico, escatológico. Retornamos com isso para o nosso ponto de partida, que é também o ponto de chegada, o ser humano.

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  2. Rodrigo Artur

    Pois é, Hellen! Obrigado pelas suas colocações, bem como pelo seu questionamento, os quais são, por sua vez, bastante pertinenetes, além de bem fundamentados. Entretanto, creio, sim, ser necessária uma distinção paradigmática da época em que vivemos. Percebamos: se refletirmos sobre a postura do ser humano na contemporaneidade – seja como sujeito, seja como interlocutor de suas ações -, creio não conseguirmos desatrelar a nossa formação de consciência da postura relativista que acarreta em nós mesmos várias outras posturas, a saber: permissividade, libertinagem, racionalização deturpada dos atos, desenfreamento em nossas ações, deseticidade, desmoralização etc. Tais posturas advindas do relativismo, na minha visão, sucumbem não apenas o ser humano, como, principalmente, o período no qual estamos inseridos. Lembro-lhe, em respectiva, de um filósofo e dois sociólogos, quais sejam: Lyotard, Lypovedsck e Zigmunt Baumam. O primeiro – FRANCÊS – CRIA o termo “pós modernidade” e aplica-o à história apenas a partir da última década de cinquenta – aqui vale lembrar que o pouco conhecimento de história que temos nos afirma a dizer que o período da Modernidade termina com a Revolução Francesa, ao fianl do séc XIX. O segundo decalca o ser humano como inserido num contexto de Modernidade elevada à sua máxima potência, isto dá a entender, na pior das hipóteses, que os ideais dos modernos estão sendo alcançados somente agora. Já o terceiro “liquidifica”, na contemporaneidade, vários traços da modernidade, isto é, torna-os líquidos, solúveis, numa linguagem mais científica, tranvalora-os, remodela-os ou até mesmo sublima-os. Percebe? As diversas interpretações das práxis humanas culminam numa dificuldade de “temporizar” a idade “Contemporânea” ou “Pós-moderna”… Não há mais um molde, um modelo, um paradigma, um referencial para o nosso modus vivendi atual…
    Como, então, salvaguardar a nossa própria identidade, ainda que seja como seres de “comunicAÇÂO” e de “interAÇÂO”, conforme você bem pontuou e com a qual eu concordo? Parafraseando Sartre: “[…], tudo nos será permititdo”?

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