Vinícius Nepomuceno Marra
Nenhum pensamento filosófico surge em detrimento do acaso, e sim do contexto em que cada filósofo está inserido. O contexto sócio-político é indispensável na construção do pensamento filosófico de Nicolau Maquiavel[1]. Tal é sua preocupação, que escreve O Príncipe[2], sua obra principal, como expressão do desejo de ver uma Itália poderosa e unificada, através da possibilidade de um príncipe “capaz de unir a Itália, preservando-a das intervenções estrangeiras” (MAQUIAVEL, 2010, p.10).
O termo política tem sua origem no grego e se refere a todos os procedimentos relativos à pólis, a cidade-estado. Assim, pode se referir tanto a estado, quanto sociedade, comunidade e definições que se referem à vida humana.
Para Maquiavel, a política, no início da Idade Moderna, se desvinculava das esferas da moral e da religião, constituindo-se em uma esfera autônoma.
Mas o que deve reter do pensamento de Maquiavel é que ele inaugura um novo patamar de reflexão política, que procura compreender e descrever a ação política tal como ela se dá realmente. (COTRIM, 2000, p.300).
Ou seja, são questionamentos que almejam a instauração de um estado estável. “É que, em verdade, não há garantia de posse mais segura do que levar a província à ruína” (MAQUIAVEL, 2010, p.18), porque senão a província poderá destruí-lo. Dá-se a entender sobre este pensamento de Maquiavel que se o príncipe viver apenas do lado dos fracos, os mais poderosos poderão derrotá-lo, é por isso que o príncipe deve ter cuidado ao pronunciar, ou até mesmo praticar alguma ação diante da sociedade, ou seja, ele deverá viver bem com ambas as classes. Segundo Maquiavel, “É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-ser disso segundo a necessidade”. (ARANHA, MARTINS, 1993, p.203), por isso que o príncipe deve estar por dentro de tudo que acontece em seu meio.
A política deveria ser bem vivida por todos, sem nenhuma distinção, sendo que, aquele que estaria na frente do poder, deveria agir com justiça e prudência perante os direitos de cada cidadão, defender a sua pátria com o auxílio de seus dirigidos e fazer com que o seu governo transmitisse à sociedade, maior tranquilidade e segurança possível. Mas nem sempre a política buscará os direitos de cada cidadão, podendo assim, tomarem-se várias decisões radicais sem consultar os seus dirigidos, levando assim o seu Estado a grandes progressos ou levá-lo ao fracasso. “Nas repúblicas, há mais vida, o ódio é mais poderoso, maior é o desejo de vingança” (MAQUIAVEL, 2010, p.18), já que dentro da política há grandes disputas para ver quem será o melhor, sendo assim o ódio e a vingança estão presentes na República.
Para Maquiavel, um príncipe não deve medir esforços nem hesitar, mesmo que diante da crueldade ou da trapaça, se o que estiver em jogo for a integridade nacional e o bem do seu povo.
Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é mulher e, para dominá-la, é preciso bater-lhe e contrariá-la. E, é geralmente reconhecido que ela se deixa dominar mais por estes do que por aqueles que procedem friamente. A sorte, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos circunspectos, mais ferozes e com maior audácia o dominam. (MAQUIAVEL, 2010, p.54)
Ele expressa também a necessidade de um monarca com pulso firme, que honrasse o seu período de poder, sem escrúpulo e sem medir esforços.
Um príncipe em seu Estado tem a missão de aconselhar sempre o seu povo, “os bons conselhos, de onde quer que provenham, nascem da prudência do Príncipe, ao passo que a prudência do Príncipe não depende dos bons conselhos” (MAQUIAVEL, 2010, p. 52). O príncipe deverá ter grandes objetivos para o progresso de seu Estado juntamente com o seu povo, por isso ele sempre deverá viver junto deles. “Um príncipe sábio, amando os homens como eles querem e sendo por eles temido como ele quer, deve basear-se sobre o que é seu e não sobre o que é dos outros” (MAQUIAVEL, 2010, p. 39). Sendo que se o príncipe basear sobre o que é do outro, ele será odiado na sociedade. O bom político nunca deve falar tudo o que pensa, ele deve sim, respeitar e caminhar junto com a tradição de cada lugar, cumprir aquilo que ele prometeu, e principalmente saber ouvir o que muitos têm a dizer.
Conclui-se, com isso, que a política do mundo hodierno, faz lembrar em partes o pensamento maquiavélico sobre o exercício do poder. Maquiavel pensava em um governante, que fosse capaz de doar a sua vida completamente para a sociedade, que dedicasse inteiramente a sua vida na política. No entanto, hoje há uma incongruência com seu pensamento, muitos que estão no poder procuram manter boa parte da população na condição de escravizados, levando em consideração que grande parte dos projetos governamentais não procuram promover as pessoas, mas sim inseri-las dentro de um assistencialismo. Portanto, a maioria dos modelos políticos estão em contradição com o que propôs Maquiavel, uma vez que a máxima estabelecida hoje são os interesses pessoais, gerando ódio e vingança entre eles e colocando a sociedade apática a um dos mais nobres exercícios de direito dos cidadãos. Daí, a necessidade de rever os conceitos políticos vigentes, pois para Maquiavel o bom governante que desejava assumir uma República, deve ser inteiro no seu exercício, doar-se completamente para a política, ser justo e paciente com as pessoas, sendo assim, a política será bem vivida por todos.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1993.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 15.ed. livro VI. São Paulo: Saraiva, 2002.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2010.
[1] Nasceu do dia 3 de março em Florença na Itália, em uma família antiga daquela região. Seus pais preocupavam muito com o seu futuro, por isso desde cedo ele começou os seus estudos, conseguindo ler os clássicos na juventude. Sua educação dada pelos pais, foi fraca por falta de recursos da família, podendo assim ele ficar prejudicado diante dos políticos e magistrados.
[2] Obra que tem o propósito de tratar da política tal como ela se dá, ou seja, sem pretender fazer uma teoria da politica ideal, mas, ao contrário, compreender e esclarecer os princípios da política real.