Fabiano Alves de Assis
A palavra pessoa nos traz à mente a individualidade de cada ser humano com seu conjunto físico, psíquico, biológico, espiritual e etc. Ela nos passa a ideia das particularidades e singularidades de cada um e também de suas generalizações tais como as necessidades comuns inerentes a todos os seres humanos.
É a partir dessa linha de pensamento que conduziremos o presente ensaio filosófico, à luz de São Gregório de Nissa, acerca do termo pessoa. Partindo da diferenciação das três pessoas da Trindade, refletiremos sobre o tema na sua singularidade e na convenção da utilização do mesmo para designar o ser humano.
Das três pessoas que se encontram em Deus
Vemos em São Gregório de Nissa que se utilizássemos a palavra Deus para cada pessoa da Trindade, estaríamos dizendo que existem três deuses e não apenas um, o que problematizaria a questão para os cristãos. Por isso, passou-se a utilizar o termo pessoa para cada membro da Trindade com o objetivo de especificar cada um, porém sem separá-los pela sua essência ou natureza que é a de ser Deus.
Dessa forma, surge um novo aspecto para iluminar a presente reflexão, que há diferença entre a essência do ser e a forma como é designado, ou seja, o termo vem a ser uma convenção para explicitar determinada realidade cabendo, portanto, a um termo que pode denotar, aparentemente, certo equívoco.
É o que vemos ao chamarmos as pessoas da Trindade de pessoas, visto que se diferem apenas na missão, mas a sua natureza é a mesma, a natureza divina:
Se o nome “Deus” fosse nome para designar as pessoas, ao falar de três pessoas, por força falaríamos de três deuses; Em vez, se designa a essência, ao confessar que é uma a essência da Trindade, com razão glorificamos a um único Deus, já que o nome “ Deus” é um só nome correspondente a uma só substância. (FERNADEZ,1970, p 128).
O mesmo critério quando falamos de pessoa é o que se aplica à palavra homem. No tocante à sua essência, o termo homem significaria a essência da coisa, ou seja, a humanidade. Porém o que observamos é que ganhou a mesma denotação do termo pessoa. Quando falamos, por exemplo, de Renê ou Robson falamos que são dois homens, em suas particularidades e fazem parte da humanidade. E concluímos que o termo homem tem duas vertentes: designar a essência do ser e a sua particularidade.
Desta forma, tendo estabelecido o critério do termo pessoa a partir do que São Gregório nos apresenta, perceberemos o contexto em que surgiu tal variação no sentido das palavras.
Pessoa: essência e características peculiares
Para início de conversa, cabe ressaltar que na época em que surge a discussão sobre o tema exposto, a compreensão que se tinha acerca da divisão biológica era de gênero e espécie. Todo animal pertencia ao mesmo gênero – o animal – porém era dividido em duas espécies somente: a dos animais racionais e irracionais. Perspectiva essa que foi quebrada com a evolução do estudo científico das ciências biológicas.
Conforme já discutimos, não há distinção em si nos termos pessoa e homem. Ambas significam a essência da humanidade e da pessoalidade. Porém, por uma questão de convenção para melhor se compreender a Trindade de Deus é que se convencionou utilizar de modo particular cada uma das palavras. A essência será a mesma para toda pessoa e para todo homem; vão diferir apenas nas características particulares de cada um. Ora, se dissermos “Renê é alto e Paulo Augusto é baixo”, a essência de ambos é a mesma – são homens –, mas as características diferentes – um é alto o outro é baixo. Assim o é com os termos aos quais temos nos referido. Ao dizer “vi dois homens”, quer dizer: vi dois seres com características distintas. Cada um é um, mas não estarei dizendo que vi duas humanidades diferentes, sendo que, no sentido estrito da palavra, estaria dizendo: vi duas humanidades distintas. A essência será sempre a mesma, o que diferirão são as características.
É o que percebemos:
Também dizemos que Pedro se distingue de Paulo enquanto que cada um deles tem sua própria hipóstase, já que diferem entre si em certas notas que são constituintes de sua hipóstase e não de sua essência como, por exemplo, a calvície, a estatura, a paternidade, a filiação e similares. É evidente que não é o mesmo espécie e indivíduo, nem tampouco essência e hipóstase. (FERNANDEZ, 1970, p 130).
Considerações finais
Após refletir sobre o assunto proposto e iluminados pelo pensamento de São Gregório de Nissa, percebemos a diferença entre a significação e o modo como são empregados os termos pessoa e homem. Poucos percebem no dia-a-dia tal diferença, mas ao nos depararmos com um trabalho de pesquisa percebemos o quão significante é tal distinção entre a significação a e utilização dos termos. Percebemos que entre dizer pessoa como particularidade e como generalidade far-se-á pouca diferença, pois não se pode falar de pessoa sem remeter implicitamente à sua generalidade e pessoalidade.
Referência
FERNANDEZ, Clemente. Los Filósofos Medievales. Madrid: Católica, 1960. v. 1.
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Fabiano, parabéns pelo seu ensaio. Muito bom: claro, curto e objetivo, como penso que têm que ser os ensaios. Assim, o leitor é motivado a ler e aprofundar mais no assunto.
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Olá, amigo de Caminhada!
Parabéns pelas suas ricas e dignas palavras de bom Filosofo. Também gostei dos exemplos colocados no presente pensamento trabalhado.
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Caro Rodrigo Artur, sinto-me lisonjeado pelas vossas palavras, apesar de muito das vezes carregadas de sofistícas ou sofismas, mas de qualquer modo me sinto engrandecido pelas vossas palavras. Isto evidencia que tenho trilhado nas pistas de um bem filosofar e me serve de incentivo em minhas pesquisas filosóficas.
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Caro irmão João Gualberto, muito me agrada e me engrandece saber que o presente trabalho, embora sucinto ajudou-o a refletir sobre o termo pessoa! Sua delicadeza em comunicar-me tais impressões são indicativos que trilho pelo caminho certo da filosofia! Um abraço!