Rosemberg do Carmo Nascimento
A problemática que se pretende abordar neste artigo adentrando-se ao pensamento Hegeliano, tem como objetivo analisar de maneira concisa, a partir da Enciclopédia das Ciências Filosóficas, a relação do homem com o espírito absoluto. Como sabemos, Hegel (1770-1831), é considerado o maior expoente do idealismo alemão que teve início em Fichte e Schelling em oposição à filosofia kantiana. Hegel afirma, categoricamente, que a dimensão mais profunda com a qual o homem se relaciona, é com o espírito absoluto, por se conhecer, profundamente, a si mesmo, facultando o desdobramento de três níveis relevantes, a saber: a arte, a religião e a filosofia.
Tanto a arte, quanto a religião e a filosofia possuem, no pensamento de Hegel, níveis de realidade diferentes, estes correspondem aos seguintes significados: natureza espírito e ideia. Sendo estas manifestações do espírito absoluto. Ademais, é no homem ou mais propriamente em sua intuição que a arte em sua representação, como também a religião em seu conceito e a filosofia o espírito que essencialmente se manifesta como o absoluto. Sendo assim, estas fortalecem o pensamento contemporâneo fundindo-se aos três níveis já mencionados a posteriori, somando-se a imagem da realidade tão eficaz para a elucidação desta temática intrínseca por si somente em sua natureza filosófica. Todavia, há diversos modos pelos quais as imagens podem ser reproduzidas. A imagem distorcida, desfocada, ou até mesmo transfigurada até chegar à realidade. Levando-nos a intuir esse pensamento se torna pertinente o pensamento Hegeliano. Qual a relação entre a arte, à religião e a filosofia cujos níveis se manifestam ao homem através do espírito absoluto? Qual seria a relação da religião com a arte e com a filosofia? São indagações instigantes que nos induzem a averiguar sobre o assunto para obtermos maiores esclarecimentos do ponto de vista gnosiológico do conhecimento que são úteis para a compreensão humana.
Uma das questões primordiais que perpassa o pensamento de Hegel é a relação com o absoluto, sendo esta a dimensão mais profunda do homem. Por outro lado, o conceito que corresponde ao espírito tem sua realidade nele, isto é, intrínseco, inerente, portanto o conceito, o denominamos de o saber da ideia absoluta que implica o aspecto necessário em que podemos dizer que a inteligência em sua efetividade, seja em si livre.
O espírito absoluto pode ser denominado, segundo Hegel, como aidentidade eternamente em si, Uma vez que ele conhece por si mesmo. Além disso, a substância infinita é una e universal, não enquanto particular e finita, sendo dividida por meio do juízo em si mesma, em um saber para o qual ela exista como tal. Quanto à religião, esta pode ser designada como algo que se parte do sujeito pertencente a ele o espírito absoluto, isto é, a subjetividade.
A consciência subjetiva do espírito absoluto é essencialmente, em si, processo; cuja unidade imediata e substancial é a fé no testemunho do espírito enquanto a certeza da verdade objetiva. A fé, que contém ao mesmo tempo essa unidade imediata, essa unidade enquanto a relação daquelas determinações diferentes passou na devoção, no culto implícito ou explícito. Para o processo de suprassumir em libertação espiritual a oposição de confirmar por essa mediação aquela primeira certeza, e em ganhar a determinação concreta daquela certeza, isto é, a reconciliação, a efetividade do espírito. (HEGEL, 1995, p.340).
Cogita-se que o espírito absoluto é espirito enquanto universal e não particular finito. Seria o mesmo que receber a verdade de uma verdade universal. Certamente, isso se torna um hábito ao colocarmos o espírito ao lado da natureza como se estes tornassem iguais em dignidade. Por outro lado, a relação entre espírito e natureza pode-se dizer que serão simultaneamente iguais.
1 A arte
Hegel ao afirmar que a dimensão mais profunda com a qual o homem se relaciona é o espírito absoluto faz, simultaneamente, uma abordagem aos diferentes níveis, nos quais ele ressalta as manifestações no homem através destes importantes aspectos. A arte que se manifesta no homem ou, mais propriamente, em sua intuição se manifesta como o absoluto. “O absoluto é o espírito: esta é a suprema definição do absoluto. Pode-se dizer que a tendência absoluta de toda a cultura e de toda a filosofia tenha sido a de encontrar tal definição e de compreender conceitualmente seu sentido e conteúdo”. (REALE; ANTISERI, 2005, p.145).
Essa concepção hegeliana do homem desenvolve-se no conceito do espírito que é o verdadeiro ápice de sua filosofia. “O espírito absoluto opõe-se a si mesmo, como espírito finito. Só é espírito absoluto quando é reconhecido como tal. Como esse é o ponto de vista da arte, considerada na mais alta e verídica dignidade, logo aparece evidente que a arte se situa no mesmo plano da religião e da filosofia”. (HEGEL, 1980, p.161). A arte é um saber importante enquanto ela se torna imediata na exterioridade sensível do belo, na qual a natureza do espírito quer dizer a unidade imediata, através da forma de intuição e não o espírito absoluto que penetra na consciência.
De acordo com a doutrina Hegeliana a arte representa a ideia, na qual o homem em sua intuição acredita, que o espírito absoluto se manifesta. Neste caso abordaremos alguns aspectos relevantes referente à arte. Na arte clássica, situa-se a arte da sublimidade, e enquanto na arte simbólica, para Hegel, podemos situá-la na configuração adequada à ideia que ainda não se encontra no pensamento apresentado, como algo que está além da figura propriamente dita, a qual que se esforça para interferir. Com isso, a arte ainda não alcançou a forma infinitiva consciente de si através do espirito livre.
2 Religião
Um dos traços importantes que podemos observar o qual fundamenta o ponto de partida no pensamento hegeliano é o conceito de religião. Tendo ultrapassado a etapa das determinações da representação, chega-se à ideia, isto é, a representação do verdadeiro em si e para si. Nessa perspectiva o discurso sobre a necessidade do ponto de vista religioso está inserido na ideia. A ideia é que estrutura e diferencia a unidade.
Sendo a ideia que diferencia a unidade de si mesma, ela é a essência da natureza e do sujeito. O fio condutor do pensamento de Hegel procede a partir do objeto em que ele sente a necessidade em si de algo ideal que representa a consciência do movimento aquilo que contrapõe o objeto sendo este a suprassunção e a identidade.
A presença de um objeto, é presença de um outro, determinado como o ser não divino, o mundo finito, a consciência finita. Essa finitude do outro articula-se na natureza em si ou no espirito em si, ou então na consciência ou no espírito para um outro. (AQUINO, 1989, p.242).
No entanto, tendo observado essa junção que se refere a presença de um objeto e de um outro, ambos estabelecem uma relação com a consciência. Na representação, a consciência está em relação tanto com o mundo, quanto com outra consciência. E nesta interrelação com o outro ela determina o seu próprio mundo. A verdadeira religião é aquela que se manifesta do espírito absoluto e que se revela em verdade por Deus.
Não obstante, sendo esse saber o princípio pelo qual a substância é inerente ao espírito, enquanto para si, a forma infinita seja aquela que autodetermina de certo modo através do saber no qual o espírito se manifesta. “O espírito só é espírito, na medida em que é para o espírito; e na religião absoluta é o espírito absoluto que se manifesta, não mais seus momentos abstratos, mas a si mesmo”. (HEGEL, 1980, p.346). Evidencia-se que a religião autêntica é aquela que se manifesta pelo espírito absoluto e que apreende em si mesmo o próprio conhecimento. Pelo fato do espírito absoluto ser essencialmente manifestação, observa-se que a dialética do espírito por sua vez suprassume o saber para o saber subjetivo ao da representação. “O espirito absoluto, tendo suprassumido a imediatez e a sensibilidade da figura e do saber, é, segundo o conteúdo, o espírito essente em si da natureza e do espírito”. (HEGEL, 1980, p.347).
3 Filosofia
No estudo da relação lógica que perpassou a filosofia do real aparece a verificação de termos que articularam o pensamento e o discurso hegeliano assim como: arte, religião e a filosofia que correspondem à natureza, espírito e ideia, concomitantemente ligadas à intuição, representação e pensamento. Segundo a concepção hegeliana, a filosofia é à ciência que está intrinsicamente ligado à arte e a religião, por isso, o modo de intuição da arte é exterior quanto à forma e sua maneira de reproduzir é subjetiva. Logo a mediação destes elementos se desdobram em um todo. Embora, estejam unidas na intuição espiritual, estão submetidas a se elevarem sob o pensar consciente de si. Porquanto, esse saber é o conceito, que se conhece através da apreensão do pensamento, da arte e, sobretudo da religião.
A filosofia se determina de modo a ser um conhecimento da necessidade do conteúdo da representação absoluta, como também da necessidade das duas formas: de um lado, da intuição imediata e de sua poesia, e da representação, que pressupõe da revelação objetiva e exterior; de outro lado, primeiro, do adentrar em si subjetivo, depois do movimento para fora subjetivo e do identificar da fé com a pressuposição. Esse conhecimento é, assim, o reconhecimento desse conteúdo e de sua forma, e a libertação da unilateralidade das formas e a elevação delas á forma absoluta que se determina a si mesma para ser conteúdo, e permanece idêntica a ele, e nisso é o conhecimento daquela necessidade essente em si e para si. Esse movimento que é a filosofia encontra-se já realizado ao apreender na conclusão o seu próprio conceito, isto é, Só olha para trás na direção do seu saber. (HEGEL, 1980, p.351).
Retomando o que foi exposto acima, sintetizamos do seguinte modo: o espírito absoluto de Hegel é o conhecimento próprio de si mesmo. Esse espírito absoluto é que se manifesta no homem através de três relevantes níveis: a arte, religião e filosofia. Destarte, a relação desses níveis são diferentes pelo fato da arte representar a ideia, a religião o espírito e a filosofia a natureza. A relação da religião com a arte e com a filosofia pode-se dizer que, a religião é a representação, a arte é a intuição e a filosofia o conceito. Desta maneira, o espírito absoluto somente pode ser pensado corretamente, se o compreendermos de fato, como uma manifestação que se dá pelo espírito absoluto ao qual Hegel trata essa dimensão profunda a qual o homem tem a primazia de se relacionar. A percepção hegeliana, na contemporaneidade, tematiza a dialética do espírito como reflexão em torno do âmbito da ética e da moral. O homem não está inserido na história, ele é história.
Referências
AQUINO, M. F. O conceito de religião em Hegel. São Paulo: Loyola, 1989.
HEGEL, G.W.F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas Em Compêndio. Tradução Paulo Meneses e José Machado. 2. ed. São Paulo: Vozes, 1995.
______. Fenomenologia do Espírito. Tradução Henrique Cláudio de Lima Vaz, Orlando Vitorino, Antônio Pinto de Carvalho. 2. ed. São Paulo: Vozes, 1980.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia 4: de Spinoza a Kant. Tradução Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2005.
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Muito esclarecedor.