José Mário Santana Barbosa*

Resumo: Objetiva-se, por meio deste presente estudo, compreender melhor o conceito filosófico de tempo no pensamento aristotélico, no intuito de avaliar sua real existência ou não no universo. Para isso, será analisado principalmente o livro IV da obra “Física”, de Aristóteles, no qual o autor apresenta sua definição de tempo, “refinando” esse conceito juntamente com os de movimento, número e infinito, dentre outros. Essa análise será também acrescentada por uma breve contextualização do entendimento de tempo para Platão a partir de sua obra “Timeu” e para pensadores neoplatônicos (especialmente no que tange à dimensão ontológica do tempo), bem como a atualização desse tema em filósofos posteriores a Aristóteles, como Santo Agostinho.

Palavras-chave: Tempo. Física. Movimento. Mudança. Percepção.

 

INTRODUÇÃO

 

Desde o início do pensamento filosófico, alguns questionamentos tomaram a frente dos debates no meio acadêmico e perpassaram gerações quer por sua atualidade, quer pela dificuldade de seu entendimento, resultando na manutenção de aporias (isto é, questões não solucionadas) por longos períodos. A problemática do tempo é uma dessas. Há muitos filósofos que dedicaram grande parte de suas obras para tentar entender melhor o tempo em suas mais diversas características, como sua real existência ou não no universo.

O tempo, contudo, pode ser estudado pelo menos a partir de dois pontos de vista: o psicológico e o filosófico. O primeiro refere-se, dentre outras coisas, à maneira como nos relacionamos com ele, como por exemplo por meio da recordação e da expectativa. Esse é um modo de ver o tempo que não responde diretamente aos questionamentos filosóficos a que esse trabalho se propõe e, ainda que seja citado (especialmente na obra de Agostinho), não será analisado tão profundamente quanto o segundo.

O objetivo principal é, portanto, analisar a existência do tempo em nosso meio, como algo real e, portanto, demonstrável do ponto de vista filosófico. Isso perpassará pelas análises de termos importantes, tais como “número”, “agora”, “mudança”, que à medida em que são melhor compreendidos, levam-nos a uma melhor compreensão do tempo, de maneira geral.

Para essa análise, a principal obra a ser utilizada é a “Física” (em seu livro IV) de Aristóteles, na qual o autor explana a respeito das dificuldades do estudo do tempo (capítulos 10, 11, 12 e 13), compara-o a outros importantes conceitos e analisa suas características. Grande importância, e por isso também utilizados neste estudo, são as obras “Timeu” de Platão e “Confissões” de Santo Agostinho, nas quais poderá ser percebido uma estrita ligação entre o pensamento aristotélico com aqueles que vieram antes e após o Estagirita.

 

1 EXPOSIÇÃO DO PROBLEMA DO TEMPO

 

Aristóteles inicia sua explanação a respeito do tempo, no livro IV da Física, apontando as grandes dificuldades para estudá-lo. De fato, o primeiro questionamento que surge ao analisarmos o tempo mais minuciosamente é: ele é “ser” ou “não-ser”? Para Aristóteles, essa não é uma pergunta tão fácil de ser respondida. Uma só é a sua certeza: se o tempo “é”, ele não é da maneira como pensamos. Ou o tempo “não é” ou, na melhor das hipóteses, ele “é” de maneira obscura: “Que não é totalmente, ou que é, mas de maneira obscura e difícil de captar, nós podemos suspeitar pela maneira como se segue” (ARISTÓTELES, Física, IV, 217b, tradução nossa). [1]

O primeiro grande entrave nessa questão gira em torno da divisibilidade do tempo: o que já passou, foi e já não é mais, enquanto o que ainda não aconteceu, será em algum momento, mas não é no momento presente. Esses momentos seriam, pois, “não-ser”. Como então fazerem parte do “ser” tempo, se ele realmente existir? O que é então o tempo, uma vez que nem o que passou, nem o que ainda virá fazem parte dele?

Segundo Puente (2001, p. 125-126), Aristóteles inicia sua explanação a respeito do tempo expondo aporias que vinham desde escritores anteriores a ele, dentre eles Górgias e Parmênides. Para eles, o tempo – uma vez que assim pensam sobre o ente – não “é”, já que só o que existe é o presente (o passado e o futuro não são “alcançáveis”) e este mesmo se tornará um daqueles quase que simultaneamente.

Interessante visão possui Agostinho, em sua obra bastante posterior à de Platão, na qual considera os tempos passado e futuro, como presentes que já passaram e que ainda virão, respectivamente. Essa visão, contudo, parte estritamente do ponto de vista psicológico, isto é, da lembrança e da expectativa de algum evento, e não puramente do ponto de vista filosófico, ao qual Platão se dedicara em sua obra.

O que agora claramente transparece é que nem há tempos futuros nem pretéritos. É impróprio afirmar que os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das presentes, presente das futuras. Existem, pois, estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras. (AGOSTINHO, Confissões, XI, 26)

Para Aristóteles, nem o “agora” pode ser a medida do tempo, uma vez que, para que algo seja a medida de seu todo (como no caso, o agora quanto ao tempo), é necessário estar inserido nele. Se, dessa maneira, o agora é o limite entre o passado e o futuro – que na realidade não existem –, então ele não pode ser usado como parâmetro para medir o tempo. Além disso, para o “agora” ser medido ele precisaria de ter uma duração. Se assim o fosse, ele não seria realmente um “agora” (ARISTÓTELES, Física, IV, 218a).

Contudo, entre o “agora” ocorrido há pouco e o “agora” presente não pode haver um espaço. O que “foi” é diferente do que “é”, que é diferente do que “será”, mas entre eles não pode haver uma descontinuidade, que é inconciliável para Aristóteles. De fato, um dos traços marcantes da filosofia aristotélica é a negação de toda e qualquer teoria de constituição das coisas por átomos e vazio, como propunham os atomistas pré-socráticos. Assim, o “agora” seria, em uma visão mais ampla, uma sucessão contínua de fatos, sem nada que os intermediasse.

Outro problema levado e aparentemente resolvido por Aristóteles é a questão da simultaneidade do “agora”. Se ele fosse de fato simultâneo, sendo sempre o mesmo (uma vez que não tem limites), todos os acontecimentos seriam atuais e fatos ocorridos há milhares de anos seriam ainda presentes e existiriam em nosso meio. Dada a impossibilidade lógica desse argumento, ele é logo rechaçado pelo filósofo.

Uma outra questão levantada nessa parte da Física é a natureza do tempo, isto é, qual sua origem, sua atuação e presença no mundo. Retomando o pensamento de Platão (e de outros filósofos anteriores a Aristóteles), para quem o tempo era um movimento cíclico e estritamente relacionado ao movimento dos astros do universo (logo, eterno) Aristóteles rebate que até mesmo dentro do movimento circular – que por si só é perfeito e infinito –, podemos tirar uma parte e, nela, há tempo, uma vez que “uma parte de um movimento circular não é mais o movimento circular, enquanto uma parte do tempo continua sendo tempo, mais precisamente um intervalo de tempo” (PUENTE, 2001, p. 127).

Interessante discordância com Platão (e concordância com Aristóteles) assume Santo Agostinho ao analisar esse aspecto e rechaçar completamente a hipótese de o tempo se resumir ao movimento dos astros.

Ouvi dizer a um homem instruído que o tempo não é mais que o movimento do Sol, da Lua e dos astros. Não concordei. Porque não seria antes o movimento de todos os corpos? Se os astros parassem e continuasse a mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver tempo para medirmos as suas voltas? (AGOSTINHO, Confissões, XI, 29)

De fato, na obra Timeu, em que trata sobre o tempo, Platão (e os pensadores posteriores), deixam evidências de que o tempo pode ser identificado de duas maneiras: como movimento do universo (tese rebatida por autores contemporâneos, como Remi Brague, que indica ser esse pensamento uma interpretação neoplatônica do Timeu) e como imagem móvel do eterno, essa última, mais plausível (PUENTE, 2001, p. 129).

Nesse sentido, o céu visível não é nada senão um relógio astronômico. Ele possibilita medir a duração de todos os movimentos, na medida em que seus movimentos regulares são observados e medidos uns relação aos outros segundo números (pros allêla symmetrountai skopountes arithmois, Tim. 39c). (SCHÄFER, 2012, p. 299)

Dessa maneira, o tempo é presente em tudo e em todos os lugares, e é ele que mede a velocidade ou não da mudança das coisas (que estão subjugadas a ele). Fica evidente, então, para Aristóteles, que o tempo mede o movimento das coisas, mas que ele não pode medir-se a si mesmo, uma vez que não há, nele mesmo, mudança ou movimento.

 

 2 RELAÇÃO ENTRE TEMPO, MOVIMENTO E NÚMERO

 

Aristóteles, citando uma lenda de seu tempo (na Sardenha), conceitua, aqui, um ponto crucial de seu entendimento sobre a existência do tempo. Se não percebemos a mudança das coisas que estão ao nosso redor, ou ao menos do nosso pensamento, seria como se vivêssemos vegetando, como seres inanimados, que não estão sob o jugo do tempo. Realmente, em algumas ocasiões de nossas vidas, tempos a impressão de que o tempo “não passou”, como por exemplo quando estamos em sono profundo e acordamos horas depois, sem nem mesmo darmo-nos conta de nossa existência por tanto tempo. O tempo só existe quando se percebe algum movimento, sendo aquele a medida deste. Daqui infere-se que, se o tempo não é movimento, como já foi abordado, ele é então pertencente a este, uma vez que os dois são tão estritamente ligados.

Aqui surge um outro problema: o movimento pode ser medido, uma vez que ele alcança a mudança ocorrida entre um estágio inicial e um final de uma determinada coisa (isto é, a sua “magnitude”). Se assim acontece com o movimento, também o tempo que o segue pari passu tem um “antes” e um “depois”. De fato, as duas coisas parecem se confundir em muitas ocasiões (já que tempo e movimento transcorrem simultaneamente e na mesma intensidade). Mas, para o Estagirita, o tempo implica o movimento, sendo algo deste (o tempo seria um predicado de todo ente que se move) (PUENTE, 2001, p. 139-140).

Portanto, quando percebemos o “agora” como uma unidade e não como anterior e posterior no movimento, ou como o mesmo em relação ao anterior e o posterior, então não parece que tenha transcorrido algum tempo, já que não houve nenhum movimento. Mas quando percebemos um antes e um depois, então falamos de tempo. Porque o tempo é justamente isto: número do movimento segundo o antes e o depois. (ARISTÓTELES, Física, IV, 219a-219b, tradução nossa).[2]

Após essa explanação, Aristóteles conclui que o tempo é, pois, um número, uma vez que mede o movimento (se ele é maior ou menor). Esse número mede a duração do movimento em sua magnitude, ele “é um atributo que se justapõe a ele [ao tempo] a fim de quantificá-lo” (PUENTE, 2001, p. 184).

Quanto ao “agora”, ele pode ser, ao mesmo tempo, o mesmo e diverso ao longo do tempo. Se considerarmos o momento atual, o presente, o agora é o mesmo, ficando entre o passado e o futuro. Em contrapartida, se considerarmos a característica de cada “agora” que passa ao longo de um determinado período de tempo, veremos que eles são todos distintos, uma vez que a própria coisa movida (condição necessária para que haja movimento, como visto) já não é mais a mesma do momento anterior ao início do movimento.

O problema que poderia surgir aqui seria a consideração do “agora” como um ponto isolado, o que levaria à compreensão de que haveria, entre o “próximo agora”, um espaço (descontinuidade). Para Aristóteles, isso não pode ocorrer, já que o tempo está sempre “movendo-se” e, por isso, não para em um determinado ponto, mas age como se fosse uma linha.

Portanto, o tempo é número, mas não como se fosse o número de um mesmo ponto, que é começo e fim, mas melhor à maneira em que os extremos o são de uma linha, e não como as partes da linha, tanto pelo que foi dito antes (pois tomaríamos o ponto médio como dois, e então o tempo se deteria), como porque é evidente que nem o agora é uma parte do tempo, nem a divisão é uma parte do movimento, como nem o ponto é parte de uma linha; mas duas linhas são partes de uma linha. […] É evidente, então, que o tempo é o número do movimento segundo o antes e o depois, e é contínuo, porque é número de algo contínuo. (ARISTÓTELES, Física, IV, 220a, tradução nossa).[3]

Daqui surge, então, a importância da análise dos termos “anterior” e “posterior”, referindo-se a passado e futuro. Para Aristóteles, tanto o passado como o futuro funcionam apenas como lembrança e possibilidade, respectivamente. Esses eventos “distantes” não podem ser contíguos a outros pontos, pois eles carecem de extremos (PUENTE, 2001, p. 196 e 202). O tempo, mais uma vez, surge com a clássica denominação de “número do movimento segundo o antes e o depois”.

 

3 CARACTERÍSTICAS DO TEMPO

 

Como número, o tempo pode ser dividido em partes (um, dois…), mas como medida da magnitude de um movimento, não. Assim, o tempo não pode ser considerado rápido ou lento, já que não há um número que possa medir tal característica. Como número, o tempo pode representar a mesma “quantidade” de movimento em duas ou mais ocasiões, mas isso não significa que o ocorrido nelas seja o mesmo. Para exemplificar, Aristóteles cita o ano ou a primavera, que são eventos que acontecem sempre (como forma que o homem encontra de organizar sua vida à medida que os nomeia), mas que não expressam as mesmas características. Em anos diferentes, as primaveras são eventos distintos.

Tempo e movimento, como visto, estão estritamente ligados, inseparáveis. Da mesma maneira como medimos o movimento pelo tempo, medimos o tempo pelo movimento. Dessa forma é medido também o repouso, sendo ele também uma forma de tempo.

E medimos a magnitude pelo movimento e o movimento pela magnitude, pois dizemos que o caminho é muito se o é a viagem, e que esta é muito grande se o caminho o é, e também que o tempo é muito se o movimento o é, e que o movimento é muito se o tempo o é. (ARISTÓTELES, Física, IV, 220b, tradução nossa).[4]

Após essa análise, chega-se à evidente conclusão de que tudo o que existe, “é” no tempo e é sujeito às suas leis, à sua influência e à sua medida. Uma vez que o tempo (ou o movimento que o compõe) é causa de “deterioração”, as coisas que estão sujeitas ao tempo são sujeitas a ela.

Por outra parte, “ser no tempo” é ser afetado pelo tempo, e assim se diz que o tempo deteriora as coisas, que tudo envelhece pelo tempo, que o tempo faz esquecer, mas não se diz que se aprende pelo tempo, nem que pelo tempo se chega a ser jovem e belo; porque o tempo é, por si mesmo, mais causa de destruição, já que é o número do movimento, e o movimento faz sair de si o que existe. (ARISTÓTELES, Física, IV, 221a-221b, tradução nossa).[5]

Para fugir disso, é necessária uma natureza que exclua a submissão ao tempo, isto é, a eternidade. Aqui, chega-se à ideia de Deus, ainda que não seja citada por Aristóteles por razões óbvias. A identificação de Deus (da forma mais próxima à tida pelo pensamento cristão inúmeras vezes) como um ser temporal implicaria que ele fosse sujeito a todas essas ações do tempo, que excluem por completo alguns de seus atributos, como o de Criador do universo. A única explicação coerente – de forma empírica, sem levarmos em conta os dados da fé – para que isso não ocorresse (a “corruptibilidade” de Deus) seria a de Ele ser um ser eterno, criador inclusive do tempo. Platão, no Timeu, já analisava a respeito dessa característica do eterno no tempo:

No entanto, aquilo que é sempre imutável e imóvel não é passível de se tornar mais velho nem mais novo pelo passar do tempo nem tornar-se de todo (nem no que é agora nem no que será no futuro), bem como em nada daquilo que o devir atribui às coisas que os sentidos trazem, já que elas são modalidades devenientes do tempo que imita a eternidade e circulam de acordo com o número. (PLATÃO, Timeu, 38a)

Santo Agostinho, estudando o tempo especialmente sob o seu caráter psicológico (e não propriamente ontológico), parece concordar em parte com Platão, ao pensar na existência de Deus como eterno e, inclusive, criador do próprio tempo: “Não houve tempo nenhum em que não fizésseis alguma coisa, pois fazíeis o próprio tempo. Nenhuns tempos Vos são coeternos, porque Vós permaneceis imutável, e se os tempos assim permanecessem, já não seriam tempos” (AGOSTINHO, Confissões, XI, 17).

 

4 O AGORA

 

Um problema que permanece, em todo caso, é a relação estabelecida entre o “agora” e o tempo. De fato, durante todo o capítulo IV da Física, o autor utiliza inúmeras vezes esse termo, o que indica a importância de sua compreensão. Para Aristóteles, como foi visto, o agora é um instante que a todo tempo muda e que, ao mesmo tempo em que divide passado e futuro, não é um ponto – o que levaria à ideia de uma descontinuidade, inviável no pensamento aristotélico. Sendo início de um tempo e fim de outro, o “agora” funciona como em um círculo, em seus lados convexo e côncavo, isto é, o tempo está sempre começando e terminando, e não da maneira linear como poderíamos ficar tentados a imaginar (ARISTÓTELES, Física, IV, 222b). Assim, o tempo, que nunca é o mesmo, também não se extinguirá.

Em outros termos: ao se pensar a infinitude do tempo o agora deve ser pensado não mais como um dos limites que determinam um intervalo temporal, mas sim como um limite único e indivisível que conecta incessantemente o passado e o futuro. (PUENTE, 2001, p. 125)

 

CONCLUSÃO

 

Após esse breve estudo, a pergunta principal a que ele foi dedicado pode ser respondida com mais certeza: sem dúvidas, ainda que não seja da maneira como corriqueiramente pensamos, o tempo existe, na visão de Aristóteles. Sua existência está estritamente ligada à presença de movimento e, ainda que ele não exista (como no caso do repouso), o tempo é o número que possibilita a medição dessa magnitude (ou ausência dela) a partir do instante último em que houve alguma mudança.

Assim, possivelmente nenhuma denominação, na visão aristotélica, será mais abrangente para caracterizar o tempo, como a de “número do movimento segundo o anterior e o posterior”. À medida em que determinamos o “tamanho” (ou a “amplitude”) de um movimento a partir de seu início e fim – e, estes, a partir do movimento que os antecede e sucede, respectivamente –, o tempo funciona como número para medir esse movimento e o seu tamanho é, pois, estritamente ligado a ele.

Dito isso, segue-se que não há tempo sem movimento e mudança, como foi lembrado por Aristóteles, a partir da lenda passada na Sardenha. O tempo age em tudo e em todos, que, uma vez “submissos” a ele, são também corruptíveis. Daqui também infere-se a necessidade de uma urgente revisão do modo de pensar cristão – no que tange à comprovação filosófico-racional de seus dogmas, sem levar em conta o âmbito da fé –, no que se refere à sua crença em um Deus que, ao mesmo tempo em que é eterno, é também corruptível pelo tempo. A solução única para essa questão é a de ser ele também criador do tempo (não agindo mais nele), e, por isso, eterno, como já propunha Platão em seu pensamento.

Fato é que, nem o passado, nem o presente, são considerados tempos existentes (exceto do ponto de vista “psicológico, como podemos perceber na obra de Santo Agostinho, uma vez que eles ou já existiram e hoje são apenas memória, ou ainda não existiram, mas existem no pensamento humano no campo da expectativa). Quanto ao tempo estritamente presente, isto é, o “agora”, para Aristóteles ele não pode ser, de maneira nenhuma, pensado como um ponto isolado em uma linha, pois isso levaria à ideia da presença de um limite entre diferentes “agoras”, o que acarretaria em uma visão de descontinuidade (e existência de “não-ser”), tão combatida pelo pensamento aristotélico. O agora é, sim, uma sucessão contínua de fatos que começam e terminam, mas não sob um aspecto linear, como estamos automaticamente acostumados a pensar. Sem dúvidas, realmente a figura que pode melhor representar essa sucessão de fatos seja a do círculo, uma vez que nunca encerra-se em si mesmo, mas a todo tempo, embora inicie um novo ciclo, ele não para em um momento após um período de tempo decorrido.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

AGOSTINHO. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1973.

ARISTÓTELES. Física. Traducción y notas de Guillermo R. de Echandía. [S. l.]: Editorial Gredos, S.A., 1995. Disponível em: <http://www.uruguaypiensa.org.uy/imgnoticias/662.pdf>. Acesso em 15 ago. 2016.

PLATÃO. Timeu. Tradução de Rodolfo Lopes. Coimbra: CECH, 2011. Disponível em <http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/2012/10/Timeu-e-Cr%C3%ADtias-Plat%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2016.

PUENTE, Fernando Rey. Os sentidos do tempo em Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2001.

SCHÄFER, Christian. Léxico de Platão. Tradução de Milton Camargo Mota. São Paulo: Loyola, 2012.

 

* Bacharelando em Filosofia pela FAM

[1] Que no es totalmente, o que es pero de manera oscura y difícil de captar, lo podemos sospechar de cuanto sigue.

[2] Así pues, cuando percibimos el ahora como una unidad, y no como anterior y posterior en el movimento, o como el mismo con respecto a lo anterior y lo posterior, entonces no parece que haya transcurrido algún tiempo, ya que no ha habido ningún movimiento. Pero cuando percibimos un antes y un después, entonces hablamos de tiempo. Porque el tiempo es justamente esto: número del movimiento según el antes y después.

[3] Por consiguiente, el tiempo es número, pero no como si fuera el número de un mismo punto, que es comienzo y fin, sino más bien a la manera en que los extremos lo son de una línea, y no como las partes de la línea, tanto por lo que se há dicho antes (pues el punto médio lo tomaríamos como dos, y entonces el tiempo se detendría), como porque es evidente que ni el ahora es una parte del tiempo ni la división es una parte del movimiento, como tampoco el punto es parte de una línea; pero dos líneas son partes de una línea. […] Es evidente, entonces, que el tiempo es número del movimiento según el antes y después, y es continuo, porque es número de algo continuo.

[4] Y medimos la magnitude por el movimiento y el movimiento por la magnitude, pues décimos que el camino es mucho si lo es el viaje, y que éste es mucho si el caminho lo es, y también que el tiempo es mucho se el movimiento lo es, y que el movimiento es mucho si el tiempo lo es.

[5] Por otra parte, “ser en el tiempo” es ser afectado por el tiempo, y así se suele decir que el tiempo deteriora las cosas, que todo envejece por el tiempo, que el tiempo hace olvidar, pero no se dice que se aprende por el tiempo, ni que por el tiempo se llega a ser joven y bello; porque el tiempo es, por sí mismo, más bien causa de destrucción, ya que es el número del movimiento y el movimiento hace salir de sí a lo que existe.

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