Robson Oliveira Teixeira

Resumo: O presente artigo visa apresentar uma reflexão sobre a relação entre corpo e alma, colocando em evidência, a partir de um longo percurso reflexivo, que esta relação deve ser vista não como dualismo, e sim uma relação de dualidade. Além disso, visamos apresentar que o corpo, embora visto como um mal por muitos filósofos possui grande importância, e deve ser assumido como parte constitutiva do homem, e que o corpo pode oferecer benefícios que sejam positivos para a pessoa humana. Assim, ao apresentar a diferença entre dualismo e dualidade, discorremos sobre a visão de corpo e alma em Platão e Santo Agostinho, dando uma ênfase maior em Aristóteles e Tomás de Aquino, concluindo com a categoria de Corpo Próprio de Padre Lima Vaz.

Palavras chave: Corpo, Alma, Dualismo, Dualidade, Totalidade Intencional.

Introdução

A relação entre corpo e alma sempre obteve lugar significativo nas discussões filosóficas, desde o período clássico até a contemporaneidade. Cada período da história da filosofia, assim como os respectivos pensadores e filósofos destes períodos apresentaram diversas compreensões acerca desta relação, como também a função específica destas substâncias.

O intuito deste artigo, no entanto, não é dar uma solução objetiva para tal problemática, uma vez que muitos pensadores já dedicaram-se a tal serviço, mas sim orientar a reflexão acerca da importância do corpo, como parte constituinte da pessoa humana, além de fomentar a necessidade de ampliar a visão de corpo para uma visão mais integral. Este desejo parte justamente pelo fato do corpo ser visto como um mal, ou fonte dos males, para muitas compreensões acerca da relação entre corpo e alma.

Com isso, ao apresentar a diferença entre dualismo e dualidade, pretendemos expor algumas ideias e seus respectivos filósofos, acerca da relação corpo e alma, com o intuito de ampliar a discussão até de culminar no ponto chave desta pesquisa, que é reconhecer a relação entre corpo e alma não como dualismo, mas sim dualidade, e que o corpo deve ser compreendido de forma integral, sendo parte constitutiva de toda pessoa humana.

Dualismo ou dualidade?

Como já é do nosso conhecimento, a problemática em torno do corpo e da alma é um tema que perpassa toda a história da filosofia. No desenvolvimento da discursão sobre corpo e alma, analisar a distinção etimológica dos termos corpo e alma é de fundamental importância para esclarecer se há uma relação de dualismo ou dualidade.

O termo dualismo expressa dois princípios, um que se refere ao bem e outro ao mal; há um embate entre os dois lados. No entanto, o significado que tornou-se comum na história da filosofia, acerca do dualismo, diz respeito ao fato de admitir a existência de substâncias que sejam materiais e também substâncias espirituais. O dualismo, então, expressa a existência de duas substâncias, ou duas realidades, cuja relação é de oposição; sendo que uma delas se sobressai à outra.

Na continuidade desta consideração, o vocábulo dualidade também se refere a dois elementos e aspectos, os quais, diferentemente do dualismo, são distintos. . No entanto, estes elementos podem assumir um papel fundamental de complementação, o que não é admitido pelo dualismo. Apresentar um significado preciso sobre dualidade é uma dificuldade, no entanto a dualidade, em sua essência, refere-se comumente a um conjunto de termos que mantêm uma relação fundamental, sendo interdependentes ou opostos entre si. O embate que se faz presente na dualidade, uma vez que há presença de elementos opostos, aponta para um suplemento, ou seja, algo que é acrescentado a um todo para aperfeiçoar e até mesmo ampliar.

Diante destas considerações, a dualidade parece assumir uma visão integral das substâncias opostas, ou seja, não há diminuição ou restrição de ambas, mas uma espécie de remate. O Dualismo, ao contrário, assume uma posição diferencial, evidenciando de forma parcial a diferença das substâncias sem a conciliação das mesmas. Assim, seguimos para algumas considerações acerca da relação de corpo e alma, colocando em evidência o pensamento de alguns autores.

Corpo e alma na perspectiva de Platão e Agostinho

No diálogo de Platão, Fédon, Sócrates, ao discursar sobre aqueles que se dedicam à filosofia, expõe alguns apontamentos acerca do corpo e da alma. Isto se deve ao fato de intuírem que tal Vulgo conceberia que “os que se dedicam à filosofia são homens que se estão preparando para morrer”. Assim, segue-se que a morte seria então o ato de apartar e afastar o corpo da alma, como também a alma do corpo.

No decorrer do diálogo, Sócrates questiona se o fato de dedicar-se inquietantemente aos prazeres como comer e beber, seriam ações próprias de um filósofo; a resposta foi negativa (PLATÃO, Fédon, 64d). Assim, intui-se que o filósofo seria aquele, que se afastando dos cuidados do corpo, tende a dedicar-se ao cuidado da alma. Neste sentido, o filósofo seria o que se prepara para a morte.

Diante disso, percebe-se que há uma compreensão negativa do corpo:

E é este então pensamento que nos guia: durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos! Ora, este objeto é como dizíamos, a verdade (PLATÃO, Fédon, 66b).

O corpo, neste sentido, possui uma influência negativa. O corpo, sob este olhar, seria como um cárcere para alma e esta só alcançaria o seu desejo, ou seja, a verdade, quando fosse libertada deste mesmo corpo. Assim, a alma assume um lugar de grande importância e destaque.

No seguimento desta reflexão, nos deparamos com Agostinho de Hipona (354- 430 d.C.), o qual possui influência da tradição platônica, sobretudo em sua compreensão de corpo e alma. Para Agostinho, a alma humana é quem rege o corpo, sendo esta então superior. No entanto, na compreensão de Agostinho o ser humano ou a pessoa humana, não é somente alma e nem somente corpo, mas a junção de ambos (NIEDERBACHER, 2016, p.162).

Mesmo afirmando que a pessoa humana é constituída de corpo e alma, Agostinho deixa claro que o corpo é fonte do desejo desordenado. Este dado comprova o fato de afirmarmos que Agostinho possui traços da tradição platônica em sua filosofia, pelo fato de considerar o corpo e tudo aquilo que está sujeito a este, como um bem ínfimo.

O ouro, a prata, os corpos belos e todas as coisas são dotadas dum certo atrativo. Por todos estes motivos e outros semelhantes, comete-se o pecado, porque, pela propensão imoderada para os bens inferiores, embora sejam bons, se abandonam outros melhores e mais elevados, ou seja, a Vós, meu Deus, à vossa verdade e à vossa lei. (AGOSTINHO, Confissões, cap.II, §10).

Ademais, Agostinho apresenta a morte do ser humano como a separação da alma do corpo (NIEDEBACHER, 2016, p.164), assim como a tradição platônica. Sendo a alma considerada imortal, diferentemente do corpo que padece, após a saída da alma, intui-se, de fato, certa superioridade entre ambos. Além disso, a alma, segundo Agostinho na obra sobre a potencialidade da alma (Cap. 33, § 70, p.160), tem a capacidade de vivificar, unificar e manter organizado o corpo, não permitindo que o mesmo se dissolva nos elementos próprios da composição orgânica.

Diante dos fatos apresentados, não é difícil perceber uma relação entre Platão e Agostinho no que concerne a compreensão de corpo e alma. Em Platão, como vimos, o corpo é visto como um obstáculo para a busca da verdade, um prisão que impede a realização plena dos desejos. Em Agostinho, o corpo é notado como fonte dos desejos desordenados, no entanto, reconhece a união entre corpo e alma, como algo constitutivo da pessoa humana. A superioridade da alma sobre o corpo, como também a separação de ambos com a morte, são temas concordantes na visão destes dois filósofos.

A compreensão de corpo e alma na perspectiva de Aristóteles e Tomás de Aquino

Aristóteles (384-322 a.C), assim como os filósofos apresentados anteriormente, também desenvolveu parte de seu pensamento na discussão sobre corpo e alma. Seu pensamento acerca destas duas substâncias, parte da crítica feita à teoria das ideias de Platão. Segundo Marcondes (2010, p.70), “a principal objeção de Aristóteles ao dualismo platônico está centrada, portanto na relação que a teoria das ideias supõe existir entre o mundo inteligível e o sensível, podendo ser considerada uma versão do paradoxo da relação”.

Diante desse paradoxo da relação, percebido por Aristóteles na teoria Platônica, o caminho que o filósofo percorrera para sanar as incoerências das teorias anteriores a ele, é justamente optar por um caminho metafísico. Em outras palavras, haverá uma nova compreensão da realidade, assim o que existe é a substancia individual, ou seja, “o indivíduo material concreto (synolon)” (MARCONDES, 2010, p.72).

Dois conceitos chaves surgem então a partir desta nova compreensão da realidade, matéria e forma:

Aristóteles afirma, entretanto, que os indivíduos são, por sua vez, compostos de matéria (hyle) e forma (eidos). A matéria é o princípio de individuação e a forma a maneira como, em cada indivíduo, a matéria se organiza (Metafísica Z e H, Física I, II). Assim, todos os indivíduos de uma mesma espécie teriam a mesma forma, mas difeririam do ponto de vista da matéria, já que se trata de indivíduos diferentes, ao menos numericamente. É como se, de certo modo, Aristóteles jogasse o dualismo platônico para dentro do indivíduo, da substância individual. Matéria e forma são, entretanto indissociáveis, constituindo uma unidade (o sentido literal de “indivíduo”): a matéria só existe na medida em que possui uma determinada forma, a forma por sua vez é sempre forma de um objeto material concreto. (MARCONDES, 2010, p.72).

Diante disso, de forma bem simples, poderíamos, ao nos depararmos com os vocábulos matéria e a forma, relacionados ao ser humano, usarmos os termos corpo e alma; sendo o corpo o que torna o ser humano um individuo presente no mundo, e a alma a forma de como o corpo se organiza no mundo. Além disso, como dito na citação anterior, matéria e forma são “indissociáveis”, o que nos permite intuir que há, de fato, uma espécie de unidade entre ambas as substâncias.

Parece também que todas as afecções da alma ocorrem com um corpo: ânimo, mansidão, medo, comiseração, ousadia, bem como a alegria, o amar e o odiar- pois o corpo é afetado de algum modo e simultaneamente a elas. Isto é indicado pelo fato de que algumas vezes mesmo emoções fortes e violentas não produzem em nós excitação ou temor; outras vezes, contudo, somos movidos por emoções pequenas e imperceptíveis (por exemplo, no caso em que o corpo irritado já está como encolerizado). Isto se torna ainda mais evidente quando, não havendo ocorrido nada de temível, experimentamos o sentimento de temor (ARISTÓTELES, De anima, cap. I, 403ª29).

Podemos perceber que há uma interdependência entre as afecções da alma e do corpo, assim como a intrínseca ligação das experiências emocionais com as condições físicas. A relação entre alma e corpo é também uma relação complexa, uma vez que as emoções complexas nem sempre resultam em ações físicas visíveis, enquanto emoções mais amenas podem despertar respostas corporais visíveis. Neste sentido, pode-se intuir que o corpo é afetado de maneira simultânea às experiências emocionais.

Aristóteles também aponta para situações nas quais o corpo já apresenta certa predisposição a alguns estados mentais, como por exemplo, a irritação que precede a raiva. Diante disso, pode-se perceber como o estado físico prévio possui certa influência na experiência emocional subsequente. Ao expor que o temor surge mesmo na ausência de ameaças tangíveis, Aristóteles também destaca a complexidade da interação entre alma e corpo, apresentando que tanto fatores internos, quanto externos desempenham um papel na variedade de emoções externas.

Diante dessa interação complexa acerca da relação corpo e alma, não pode-se deixar de referir a questão do prazer que envolve justamente tanto o corpo como a alma. Segundo Hutchinson (2009, p.273) embora Aristóteles não olhe com bons olhos para a vida de prazer, ele não se opõe ao prazer. Isso se deve ao fato de apresentar que o contrário de prazer seria a dor. Dessa forma, o prazer seria visto de forma negativa quando viesse de situações frívolas de divertimento, e não de atividades dignas e sérias.

Diante disso, assim como Santo Agostinho herdou grande influência da teoria platônica, o mesmo pode-se dizer de Tomás de Aquino, em relação à teoria Aristotélica. Portanto, pode-se afirmar semelhanças entre ambos, mas também diferenças, mesmo que mínimas: “Ambos distinguem claramente o material do imaterial, a sensação da intelecção, o temporal do eterno, o corpo da alma” (Owens, 2019, p.53).

Como visto anteriormente, há alguns pontos da teoria de Tomás de Aquino que estão de acordo com a teoria de Aristóteles; dada a influência da segunda sobre a primeira. Dentre estes pontos destaca-se a relação entre matéria e forma, que para Tomás de Aquino são consideradas essenciais para entender qual é a natureza das substâncias, como também suas transformações. Segundo Wippel (2019, p.139), Tomás de Aquino dá significativas importâncias à geração pura e simples, a qual representa a mudança substancial. O que acontece é que a mudança substancial possui grande diferença da mudança acidental. A primeira diz respeito a uma transformação fundamental na essência de uma substância. A segunda, porém, refere-se a alterações que são superficiais e que não afetam a essência.

Além disso, para Tomás de Aquino, o corpo e a alma formam uma unidade substancial, sendo ambos essenciais para a natureza humana. Assim, a alma é considerada a forma substancial do corpo, conferindo ao corpo vitalidade. Nesta perspectiva, percebe que há uma profunda ligação, ou ainda, uma interdependência intrínseca entre corpo e alma: “O corpo é para a alma, assim como a matéria é para a forma” (AQUINO, Suma teológica, Q.76, Art. 1).

Mesmo que a alma seja considerada imortal, não deixa de estar conectada ao corpo, uma vez que ela é considerada a sede das faculdades intelectuais e espirituais, enquanto o corpo é responsável por todas as experiências sensoriais e pela ação no mundo material.

Assim como todos os homens desejam naturalmente conhecer a verdade, também é inerente aos homens o desejo natural de evitar os erros e de refutá-los quando tiverem essa capacidade. Ora, dentre outros erros, o mais aberrante parece ser o erro através do qual se erra a respeito do intelecto, pelo qual somos capacitados por nascença a, afastados os erros, conhecer a verdade (AQUINO, Cap. I, 2016, p.19).

Este trecho diz respeito à resposta dada por Tomás de Aquino aos Averroístas, por afirmarem que o intelecto e o corpo agem de formas separadas e não possuem ligação. Mas sim, há uma profunda ligação entre ambos. Tal trecho confirma esta unidade substancial entre corpo e alma.

Diante dos fatos apresentados, pode-se intuir que há, de fato, na teoria de Tomás de Aquino uma visão integralizada de corpo e alma. Ou seja, Tomás de Aquino valoriza e reconhece a importância de ambas as sustâncias, e salienta que há uma profunda unidade entre elas, e esta é comum a toda pessoa humana.

Lima Vaz e o corpo como totalidade intencional

Por fim, depois de percorremos um longo e significativo caminho sobre a problemática entre corpo e alma, chegamos diante de um importante autor contemporâneo, Padre Henrique Cláudio de Lima Vaz (1921-2002), que em seus escritos de Antropologia filosófica, apresenta uma visão positiva do corpo, de forma categórica e integral, culminado assim com uma profunda ligação com a categoria de psiquismo, ou como dito nos parágrafos anteriores a alma.

Para Lima Vaz, o Corpo não é somente uma entidade físico-biológico, mas uma “dimensão constitutiva e expressiva do ser do homem” (VAZ, 1991, p. 175). Pelo corpo, o homem está em contato com o mundo, assim como se faz presente no mundo. O corpo, para Lima Vaz, é uma dimensão constitutiva da pessoa humana e é dimensão expressiva, pois é por meio dele que o homem se expressa no mundo. Além disso, o referido filósofo apresenta em seus escritos de antropologia filosófica, três formas de compreensão do corpo, ou em suas palavras, “corpo próprio”.

A Pré-compreensão é a primeiro passo no pensamento de Lima Vaz. Esta pré-compreensão tem como objetivo apresentar a distinção do corpo entre substância material e organismo, ou respectivamente totalidade física e totalidade biológica, como também a distinção de corpo próprio ou totalidade intencional.

Nas duas primeiras ocorrências, o homem é simplesmente seu corpo, é seu corpo físico e seu corpo biológico, como o animal. Na terceira ocorrência, ö homem é também seu corpo próprio, mas não o é pura e simplesmente por identidade, mas tem seu corpo próprio, sendo capaz de dar-lhe uma intencionalidade que transcende o nível do físico e do biológico (VAZ, 1991, p. 176).

Por meio do corpo próprio o homem se faz presente no mundo. Poderíamos dizer que há uma compreensão mais integral do corpo. De fato, o conceito de corpo próprio transcende os limites do corpo físico-biológico, pois ele é lugar fundamental do homem enquanto se faz presente no mundo.

A segunda compreensão é chamada de compreensão explicativa da corporalidade. Esta explicação visa apresentar a visão da ciência acerca do corpo, por meio das diversas ciências da vida, como também por meio da Biologia humana. No entanto, esta compreensão implica em determinado risco, no qual submeto o corpo humano, como mero objetivo, o que vem a desconsiderar e reduzir uma compreensão integral do corpo.

Com efeito, embora sendo o seu objeto o corpo tal como é dado na natureza e não o corpo próprio, o processo de objetivização do corpo — mesmo no caso da total redução do corpo a um objeto como no cadáver —18 não suprime a referência humana do corpo e sua integração na totalidade do fenômeno vida enquanto vivido pelo indivíduo (VAZ, 1991, p.178).

Diante disso, a compreensão filosófica de corpo é quem melhor no ajuda a compreender o corpo e a não reduzi-lo a mero objeto para a ciência, mas sim como totalidade intencional, ou seja, reconhecer o corpo de uma forma mais integral. Esta compreensão mostra o avanço significativo na forma de perceber o corpo.

Lima Vaz, à medida que avança a reflexão sobre a compreensão filosófica de corpo, expõe que há relação entre o sujeito e o corpo como objeto no mundo. Neste sentido, surgem duas direções opostas, a saber: o corpo como algo objetivamente percebido e como parte da interioridade do sujeito (VAZ, 1991, p.180). Assim, surgem dois momentos na abordagem dessa posição. O primeiro denominado momento eidético, que examina a essência do corpo. O segundo, portanto, momento tético, que investiga a corporalidade como categoria essencial na antropologia filosófica (VAZ, 1991, p.180).

Com esse desenvolvimento, Lima Vaz (1991, p.181) apresenta duas proposições-chave: que o corpo é o próprio sujeito, estruturando-se como expressão de sua presença no mundo, e que o corpo age como sujeito, atribuindo significados em relações interpessoais e interações objetivas.

Assim, a categoria da corporalidade é o primeiro passo no discurso da antropologia filosófica, estabelecendo que o corpo humano é fundamental para a essência do homem, permitindo uma conexão conceitual entre ambos. No entanto, essa conexão é complexa, envolvendo uma identidade na diferença. Lima Vaz apresenta três proposições principais: o homem é seu corpo, mas também vai além dele; a corporalidade é fundamental para a Antropologia filosófica, mas a totalização do discurso leva a uma busca mais profunda da identidade, indo além dos limites da presença física no mundo (VAZ, 1991, p.181).

Conclusão

Diante do que fora apresentado ao longo do desenvolvimento do presente artigo, pode-se intuir que diante das particularidades próprias do corpo, como também da alma, seria necessário aderir há uma nova compreensão acerca da relação entre corpo e alma, passando da visão de dualismo para a dualidade, uma vez que o dualismo apresenta o corpo e a alma de forma extrema, ou seja, considera como importante a alma e reduz o corpo a algo que não possui relevância. A dualidade, no entanto, considera tanto o corpo como a alma, não deixando de apresentar que são substancias distintas, mas que se complementam.

Assim, a compreensão proveniente de Aristóteles e posteriormente assumida por Tomás de Aquino, com algumas significativas mudanças, é quem melhor traduz a relação entre corpo e alma como dualidade, afirmando assim uma compreensão integral entre ambas as substâncias. Não podemos, no entanto, desconsiderar a teoria sobre corpo e alma de Platão, como também a de Agostinho, as quais serviram de inspiração para teorias posteriores, como por exemplo, as teorias de Aristóteles e Tomás de Aquino. No entanto, tanto Tomás de Aquino quanto Aristóteles foram capazes de avançar na compreensão e desenvolver ainda mais esta ideia da relação entre corpo e alma.

Além disso, o próprio Lima Vaz, sendo considerado um pensador contemporâneo, apresenta o corpo não como um mero objeto, ou como um simples organismo físico- biológico, mas como totalidade intencional. O corpo é a forma com a qual o homem se expressa no mundo e também se faz presente no mundo. Como poderíamos reduzir o corpo a uma mera prisão ou simplesmente fonte dos desejos desordenados? Seria desconsiderar nossa própria existência que só é no mundo por meio do corpo próprio.

Com isso, à medida que vamos tomando consciência de que o corpo, apesar de apresentar certas dificuldades, nos torna presentes no mundo, como também torna possíveis nossas intenções e expressões no mundo, passaremos a valorizá-lo, sobretudo no que tange as relações interpessoais, nas quais muitas vezes o prazer torna-se o foco. Ao possuir uma visão integral do corpo, como também uma visão reconciliada, liberta de compreensões envoltas no dualismo, nossa capacidade de realização se tornará cada vez mais possível, uma vez que o homem não é só corpo e nem só alma, mas sim uma unidade que integra ambas as substâncias.

Referências bibliográficasCom isso, à medida que vamos tomando consciência de que o corpo, apesar de apresentar certas dificuldades, nos torna presentes no mundo, como também torna possíveis nossas intenções e expressões no mundo, passaremos a valorizá-lo, sobretudo no que tange as relações interpessoais, nas quais muitas vezes o prazer torna-se o foco. Ao possuir uma visão integral do corpo, como também uma visão reconciliada, liberta de compreensões envoltas no dualismo, nossa capacidade de realização se tornará cada vez mais possível, uma vez que o homem não é só corpo e nem só alma, mas sim uma unidade que integra ambas as substâncias.

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