Rodrigo Artur Medeiros da Silva
Ao se propor um itinerário filosófico na linha metafísica, ou seja, um aprofundamento a respeito do transcendente, cabe ao estudante de filosofia fazer uma reflexão mais apurada de tudo aquilo que lhe diz respeito, sobretudo investigar o que não lhe é claro no processo da busca pelo saber verdadeiro. Partindo deste pressuposto, o presente artigo exporá uma tese de Anselmo, escrita em sua obra “Proslógio” – reformulada a partir de outra obra que fora escrita pelo mesmo autor, intitulada “Monológio”. Tal obra traz explicitamente o argumento usado pelo filósofo para provar a existência de Deus na perspectiva ontológica.
1. Um paralelo entre o Deus transcendental e o Deus encarnado
Ao perpassar-se pelos pensamentos de alguns filósofos antigos, sobretudo por Sócrates, Platão e Aristóteles, considerados os pilares da filosofia, perceber-se-á uma incógnita a ser estudada: a existência de Deus. Daí, pergunta-se a Filosofia consegue ou não provar tal existência? Alguns filósofos antigos entendem “Deus como unicamente transcendental, como um motor movente dos demais motores[1] – estes movendo as demais coisas existentes; – também há um entendimento de Deus na filosofia antiga como um artífice bom e perfeito, o qual governa o mundo inteligível (transcendental) e, posteriormente, permeia e ordena o mundo sensível.” [2]
Porém, a partir da filosofia medieval, mais precisamente com Dionísio, começa a aparecer a ideia do Deus cristão, “criador uno e múltiplo, o Lógus encarnado, a Trindade supra-essencial mais que divina e mais que boa, que tudo sabe e conhece.”[3] Este pensamento veio para refutar a tese de Plotino, na qual o mesmo defende o “Uno, do qual o ser provém e para o qual o ser retorna.”[4] Para o cristianismo, de Deus tudo vem e para Deus tudo retorna, porém, o Deus referido é o que se entende como Criador, de modo que a única relação entre ser e divino se dá entre o criador e a criatura, salvo o Lógus, este sendo gerado[5], não criado no momento de sua concepção; caso contrário não poderia ser Deus, pois, para o pensamento cristão, há um só criador. Daí a inquietação de alguns filósofos medievais em provar a existência ontológica de Deus.
2. A prova a posteriori da existência de Deus
Anselmo aceita a causa como tese e passa a trabalhar para tentar provar a existência ontológica de Deus. Eis que o autor, então, escreve a obra “Monológio”. Esta se subdivide em quatro provas através das quais o autor tenta mostrar como o ser humano, a partir do mundo, chega a Deus.
A primeira prova versa sobre a tendência de cada pessoa a se apoderar daquilo que se julga como coisa boa. Anselmo argumenta inferindo que tudo o que é bom, só o é, em virtude da bondade, que é única. Portanto, para existirem coisas boas, necessariamente, deve existir uma bondade absoluta.[6]
Na segunda prova, o autor argumenta acerca da grandeza qualitativa. De acordo com Anselmo deve existir uma grandeza da qual provêm, gradualmente, todas as outras.
A terceira prova é derivada do ser, pois para Anselmo: “tudo existe em virtude de alguma coisa ou em virtude de nada. Mas nada existe em virtude de nada.” Ora, para algo existir, a existência de um ser supremo é necessária.
A quarta e última prova é embasada na hierarquia dos seres, uma vez que, segundo Anselmo, é preciso haver uma perfeição,[7] criadora dos demais seres, imperfeitos.
Porém, Anselmo, ao terminar a escrita destas quatro provas, percebe que as mesmas seriam de difícil compreensão aos leitores. Coube-o então reformulá-las em um só argumento, o qual seria chamado de “argumento ontológico” e cuja finalidade, facilitar a compreensão de seu pensamento acerca da compreensão ontológica de Deus. Assim o fez, ficando então denominadas as quatro provas de a-posteriori como já fora dito, e o “argumento ontológico” que, posteriormente, será tratado, a-priori.
3. A prova a priori da existência de Deus
Ao estudar a questão metafísica do transcendente, Anselmo tem como um de seus principais objetivos entender como se dá o processo do ser transcendental. Anselmo faz, então, um estudo metafísico ainda mais aprofundado acerca de Deus. Deste estudo deriva a obra “Proslógio” na qual é chegada a conclusão, pelo filósofo, de que Deus é o ser do qual não se pode pensar nada maior. Partindo deste pressuposto, Anselmo consegue provar silogisticamente a existência ontológica de Deus, a chamada prova a-priori ou “argumento ontológico”.
Mas o ser do qual não é possível pensar nada maior não pode existir somente na inteligência. Se, pois, existisse apenas na inteligência, poder-se-ia pensar que há outro ser existente também na realidade; o que seria maior. Se, portanto, o ser do qual não é possível pensar nada maior existisse somente na inteligência, este mesmo ser, do qual não se pode pensar nada maior, tornar-se-ia o ser do qual é possível, ao contrário pensar algo maior: o que, certamente é absurdo. Logo, o ser do qual não se pode pensar nada maior existe, sem dúvida, na inteligência e na realidade. [8]
Para dar ainda mais consistência ao argumento ontológico no qual consegue provar a existência de Deus, Anselmo usa a frase dita pelo ateu no salmo: “Deus não existe”[9]. Ora, o argumento de Anselmo se consolida visto que somente o fato do ateu pensar em Deus, significa que este está no seu intelecto, caso contrário a existência de Deus não seria nem pensada, nem negada. E se o ateu negar que Deus existe, aquele afirma que Deus não existe na realidade, no seu intelecto.
Daí então se dá a contradição da qual Anselmo retira a base para validar a sua tese, uma vez que se alguém pensar que Deus é o ser do qual não se pode pensar nada maior e negá-lo fora do seu intelecto, então é possível a admissão de que exista alguma coisa que seja maior do que Deus.[10]
Então, já de forma mais clara, percebe-se que a prova da existência de Deus se concretiza, visto que algo do qual não se pode pensar nada maior, para ser pensado de tal forma, deve se dar em sua existência, a princípio no intelecto e, consequentemente, na realidade, uma vez que sendo Ele o único ser necessário por ele mesmo[11], a sua essência é existência.
Considerações
Tendo em vista que a questão que fora tratada no presente artigo é de extrema abrangência, que continuará sendo estudada e refletida, e visto que o presente artigo se limitou a refletir as formas que o filósofo Anselmo usa para explicar a existência ontológica de Deus, percebe-se a suma importância deste nos contextos físico e, sobretudo, metafísico. Deus é compreendido como um diferencial no estudo da filosofia. Sendo assim, o estudo do logos divino é indispensável e necessário no contexto da metafísica.
Foi neste intuito que este artigo procurou abordar o tema da concepção ontológica de Deus, pois foi percebido o quanto o estudo desta compreensão é importante e qual foram as argumentações usadas por Anselmo para chegar a tal afirmação.
[1] REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. 2007 v.2 p. 202
[2] REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. 2007 v.2 p. 144
[3] DIONÍSIO. As obras completas. p. 129
[4] REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. 2007 v.1 p.358
[5] DIONÍSIO. As obras completas. p. 129
[6] REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. 2007 v.2 p. 149
[7] Idem
[8] ANSELMO. Proslógio. p. 102
[9] REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. 2007 v.2 p. 150
[10] Idem
[11] AVICENA. Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso. p. 39
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Deuses e divindades não existem, são fábulas demoniacas da mitologia com a finalidade de afastar o Homem de seu Criador, que na Toráh no Hebraico antigo em Genesis 1; Ele Aparece como ULHIM, corrompido por Elohim, que traduzido é Todo Poderoso e Único Criador, Ele não é um deus nem com letras maiúscula, Ele é O Eterno e Supremo Pai Criador, até os dias de hoje os Judeus, palavra também corrompida não O reconhece como um deus, por isso chamam-no por; O ETERNO, PAI CRIADOR, SOBERANO E ÚNICO, TODO PODEROSO, PAI CELESTIAL, ETC, mas nunca como deus, por causa do mundo moderno e suas traduções corrompidas da Bíblia eles escrevem, D-us, para não pronunciar o termo blasfemo, zeus, de onde se origina a palavra deus adotado sobretudo pela igreja catolica Romana. portanto O SUPREMO PAI E TODO PODEROSO CRIADOR, não é um deus, Ele sempre eternamente existiu antes de toda essas mitologias.
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Joel, certamente toda crítica é de valia, visto que, de certo modo, provoca tanto o emissor quanto o receptor a interagir-se com o conhecimento. Porém, se você observar o que escrevi, virá que não se trata de um querer – subjetivo – afirmar ou não a existência de Deus. O objetivo do artigo foi expor o pensamento de Anselmo, tendo em vista o tempo e o contexto social em que este viveu, que tem por finalidade provar racional e silogísticamente a existência de Deus.
Obrigado pela sua colocação. Muito contribuirá nas minhas inquietações e, consequentemente, nos meus estudos acerca deste conceito tão abrangente e profundo na filosofia, como expus no artigo.
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paz para Todos em nomem do Messias
Prezado Rodrigo Artur
Perdoe-me a intromissão, não pretendi abrir contenda, apenas expor como creio a respeito de deuses e divindades.
Descuplpe-me se entrei em campo indevido, lendo melhor o seu artigo, vi realmente que o exposto é de abrangência diferente e interessante, vou estudar mais o conteúdo, não para opinar, mas para compreender e aprimorar a minha pesquisa.
Grato pela resposta.
Páz.
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Parabéns pelo artigo. Muitos, como Nietzsche, declararam a morte de Deus, no entanto, pessoas como você consegue mostrar que ele existe está vivo e passa bem.
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Estou estudando essa parte na filosofia.
Obrigada por contribuir com uma parte da história.
Seu trabalho é muito elucidativo.