Evaldo Rosa de Oliveira
Recentemente completaram-se 409 anos de condenação e execução de Giordano Bruno (1548 – 1600). Um homem de temperamento inquieto e ao mesmo tempo consciente da consequência que suas ideias causavam em sua época. Teve vários conflitos com instituições e doutrinas oficialmente estabelecidas por não concordar com as verdades “imutáveis”, não só religiosas, mas também científicas de seu tempo. E ainda hoje muitos o conhecem apenas como um herege que foi condenado à fogueira, daí de se enfatizar sua reflexão filosófica acerca do mundo, do universo e do infinito.
Até então, tinha-se a terra como centro do universo, ou seja, o geocentrismo. O pensamento vigente neste período era de que a Terra constituía um ponto imóvel, privilegiado, centro do movimento circular de todos os corpos celestes, segundo a astronomia de Ptolomeu. Havia também a ideia de que este universo de coisas fixas era criado por um Deus transcendente. Quando Copérnico formula o sistema heliocêntrico, contesta essa ideia e o sol passa a ser o ponto de referência. Com isso, a terra se reduz a mais um dos vários planetas que giram em torno de outros sistemas.
Giordano Bruno rejeita a teoria geocêntrica e ultrapassa a teoria heliocêntrica que ainda mantinha o universo finito como uma esfera de estrelas fixas. Une as idéias do heliocentrismo e as da antiga religião dos egípcios com a finalidade de compreender o universo como um todo no qual nada é imóvel, nem mesmo a terra.
Para a concepção cristã, reinterpretando Aristóteles, Deus era a Primeira causa, motor imóvel e perfeição absoluta, que seria transcendente, ou seja, com existência plena e ao mesmo tempo separado de suas criaturas. Contrário a isso, Giordano Bruno concebe Deus como imanente ao universo e idêntico a Ele.
A compreensão que Giordano Bruno tem do universo não é finita e limitada conforme se pensava, mas infinita e ilimitada. Homens como Lucrécio também já haviam pensado sobre o assunto e escrito sobre a existência de inumeráveis mundos habitados.
Para Giordano Bruno, se a causa ou Princípio primeiro é infinito, também o efeito deve sê-lo, nesse sentido ele define a infinitude do mundo, isto é, a infinitude no sentido da existência de mundos infinitos, semelhantes ao planeta que o homem habita, com outros planetas e outras estrelas.
Entende também a vida como infinito. O fato de morrer é entendido como uma mudança acidental, que não procura “outro ser”, uma vez que já existe desde sempre, mas sim “outro modo de ser”, pois aquilo que muda permanece eterno. Para ele o universo abrange todos os modos de ser, já as coisas singulares do universo têm cada qual todo ser, mas não todos os modos de ser.
Sendo Deus uno e totalmente infinito em toda parte, e sendo o universo proveniente d’Ele, o mesmo acontece com este, que também é todo infinito, mas não totalmente, uma vez que o universo não é infinito no modo como Deus o é. Mas há uma ideia de participação do universo no infinito, uma vez que Deus é causa de tudo em todas as partes.
Ao partir do princípio de que o mundo é infinito, Giordano Bruno se vê obrigado a supor que o princípio do mundo não está fora do mesmo, mas é força presente dentro dele. Isso o leva a divergir da concepção cristã de um Deus transcendente. Ele propõe a nova religião “egípcia” da revelação hermética, o culto ao Deus que está presente nas coisas. Mas a afirmação da presença do criador no mundo não implica que criador e criatura venham a se confundir. Sendo Deus o primeiro princípio, tudo que existe vem depois dele.
Portanto, ao se falar de Giordano Bruno é necessário levar em consideração não somente as críticas que ele fez aos dogmas católicos, mas também suas reflexões e questões sobre o infinito, o universo e o mundo. Percebe-se a importância deste filósofo não só para sua época, mas para a realidade hodierna, no sentido de que o homem deve constantemente questionar as verdades que lhe são repassadas sobre o mundo que o circunda.
Referências
ANTSERI, D. REALE, G. História da Filosofia, vol II. Trad. Ivo Stoniolo. São Paulo: Paulus, 2004.
BRUNO, Giordano. Sobre o infinito, o universo e os mundos. Trad. Helda Barraco e Nestor Deola. São Paulo: Nova cultural, 1988. (Os pensadores)
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Muito interessante a historia de Giordano 🙂
muito bom esse site !
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O PENSAMENTO DESTE GRANDE SÁBIO IMPULSIONOU O RENASCENTISMO E O ILUMINISMO, SEUS PENSAMENTOS ROMPERAM COM A FILOSOFIA ECLESIÁSTICA E TORNOU O HOMEM LIBERTO DOS DOGMAS DA IGREJA DE ROMA.
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A história do filosofo imprecionou-me bastante, aí fico pensando se actualmente houvesse três Homens como ele muita coisa mudaria no campo da ciência como na sociedade.