Danilo dos Santos Gomes
Este artigo tem como objetivo explanar os conceitos de fé e ciência no pensamento de Galileu Galilei. O faremos de forma clara e objetiva sem a pretensão de esgotar o assunto.
Não há oposição entre ciência e fé no pensamento de Galileu, o núcleo desta problemática era a tentativa de conciliar o pensamento copernicano, heliocêntrico, com o ensinamento bíblico que se refere à estabilidade da terra ao movimento do sol; essa problemática era contrária às doutrinas astronômicas de Ptolomeu e Aristóteles que versavam o mesmo e estavam em uso na época.
O conflito entre ciência e fé é apenas aparente. Para Galileu, tanto a fé quanto a ciência são verdadeiras, seria um absurdo admitir um conflito entre duas verdades. Galileu admite que a Sagrada Escritura não erra de forma alguma. Quem pode errar são os intérpretes ao não captarem adequadamente o sentido do texto bíblico.
A Sagrada Escritura não pode mentir, sempre que se tenha penetrado o sentido. (…) do que se segue que, toda a vez que alguém, ao expô-la, se ater ao som literal nu, poderia, errando este alguém, fazer aparecer nas Escrituras não só contradições e proposições afastadas da verdade, mas graves heresias e blasfêmias (GALILEI, 1988, p.48).
Contudo, Galileu afirma que a finalidade das Escrituras é exclusivamente de cunho moral e religioso e não um livro de ciências naturais, como dizia a famosa epígrafe do cardeal Barônio, citado por Galileu à Cristina de Lorena: “A intenção do Espírito Santo é ensinar-nos como se vai ao céu e não como vai o céu”. A Sagrada escritura, portanto, versa somente daqueles artigos que se diz respeito à salvação:
Eu acredito que a autoridade das letras sagradas tenha tão somente objetivo de persuadir os homens, daqueles artigos e proposições que sendo necessários á sua salvação e colocando-se acima de qualquer possibilidade da mente humana, não possam fazer-se críveis por nenhum meio senão pela palavra do Espírito Santo (GALILEI, 1988, p.20).
Diante de tal exclamação, podemos dizer que a finalidade do texto sagrado não é o de afirmar verdades científicas, pois a ciência não tem objetivo algum de ser um complemento para a fé. É necessário frisar que a fé está fundamentada na revelação, ou seja, pela inspiração divina, e a ciência se fundamenta em dados empíricos, que passam pela análise e experimentação de determinados objetos. Seria um equívoco querer procurar nos textos sagrados fundamentos científicos, pois a ciência é autônoma em relação à fé. Há ainda um fator muito interessante, as sagradas Escrituras foram escritas em um determinado contexto cultural, sendo assim ela recebeu influência de diversos fatores tanto de ordem política, social e econômica.
Há também a dificuldade da linguagem, pois nas escrituras há expressões que são próprias de uma determinada sociedade, daí faz-se o cuidado do leitor ao ler as Escrituras de nunca se ater ao sentido literal do texto; a respeito disso Galileu afirma: “Encontraremos na Sagrada Escritura muitas proposições que têm aspecto literal diferente do verdadeiro, mas que estão assim redigidos para acomodarem-se à capacidade de entendimento do povo” (GALILEI, 1988, p.18).
Outro contra senso é formular debates científicos à base de citações da Escritura, visto que as Escrituras têm como fundamento a mensagem da salvação, portanto o seu objetivo é o de “nos levar para o céu”, já as conclusões científicas têm por objetivo principal, através de seus experimentos, a intenção de nos mostrar “como vai o céu”, sendo assim incompatíveis. Portanto, nos debates científicos as Sagradas Escrituras devem ser deixadas de lado, pois o seu propósito não é de dissertar sobre verdades científicas e sim religiosas: “Erradamente procedem aqueles que nas discussões naturais, contendas que não só diretamente ‘de fide’, colocam imediatamente em evidência passagens da Escritura, frequentemente por eles mal compreendidas” (GALILEI, 1988, p.21).
Enfim, deve-se a Galileu a distinção entre ciência e fé no despertar da modernidade. Vemos claramente que a essência de cada uma delas é diferente. O objeto da ciência são as verdades naturais, autônoma em relação à fé, mas também algo bem diferente daquele saber dogmático representado pela tradição aristotélica. O objeto da religião são as verdades religiosas, ligadas à revelação divina e de cunho moral, portanto tanto os ensinamentos diretos da natureza não podem ser sacrificados quanto as afirmações dos textos sagrados.
O pensamento Galileu trouxe um grande impacto não só para o pensamento religioso da época, mas também para a crítica da ciência astronômica fundada no pensamento dogmático de Aristóteles e Ptolomeu.
Referências
GALILEI, Galileu. Ciência e fé. Rio de Janeiro: Nova Stella Editorial,1988.
MONDINI, Batista. Curso de filosofia. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1981.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Historia da filosofia. São Paulo. Paulinas, 2005. v. II
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amei esse comentari de galileu galilei
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gosteiiii
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gostei, tem afirmação plausíveis