José Henrique Coelho
Em sua obra Ser e Tempo Heidegger tem como principal objetivo fazer uma apresentação sobre a questão do ser, investigando seu sentido, procurando através da ontologia diferenciar ser e ente, e demonstrar o tempo como horizonte de compreensão do ser. Nesse sentido, o presente artigo propõe discutir a respeito do ser e do Dasein.
A busca pela interpretação do ser tem sua origem desde os filósofos clássicos. Na arrancada grega para encontrar uma interpretação a seu respeito, originaram-se certos preconceitos que acabaram por levar ao esquecimento do ser. Primeiramente, a concepção de que o ser é o conceito mais universal e mais vazio, resistindo a qualquer tentativa de definição. Depois, de que o ser se articula de maneira conceitual segundo gênero e espécie, sendo que a “universalidade” do ser “transcende” toda a universalidade genérica. Por fim, de que o ser é um conceito evidente por si mesmo, uma vez que em todo conhecimento enunciado ou relacionamento com os entes e até mesmo no relacionamento consigo mesmo, faz-se uso de ser.
A essa visão Heidegger faz uma crítica, pois tal pensamento causou dificuldades para se fazer um estudo a respeito do ser. Como conseqüência, observou-se o esquecimento do ser, o qual Heidegger propõe resgatar.
A busca presente nesse questionamento não é algo que seja totalmente desconhecido, mesmo que num primeiro momento seja algo inapreensível. Pergunta-se pelo ser, o qual determina o ente como ente, pois ele se encontra compreendido em qualquer discussão que se faça ou venha a fazer. Porém o ser dos entes não é em si mesmo um outro ente.
Essa questão é fundamental, pois visa às condições a priori de possibilidade não só das ciências que realizam pesquisas sobre os entes, e que ao realizá-la se movem na compreensão do ser. A questão sobre o ser aponta para as condições de possibilidade presente nas próprias ontologias que antecedem e fundam as chamadas ciências ônticas.
A investigação ontológica que se compreende corretamente confere à questão do ser um primado ontológico que vai muito além de simplesmente reassumir uma tradição venerada e um problema até agora sem transparência. (HEIDEGGER, Ser e Tempo, p.47)
A visualização, o compreender, o escolher, são atitudes que constituem o perguntar do ente, sendo que ao mesmo tempo são os modos de ser de um determinado ente, o próprio que se questiona. Dessa maneira, para elaborar a questão do ser, é necessário tornar transparente um ente que possa exercer a atividade de questionar em seu ser e ao mesmo tempo falar dele.
Na busca de encontrar uma solução para essa questão, Heidegger apresenta o Dasein, que se relaciona com o ser e pergunta pelo ser. O Dasein tem o primado ontológico como sendo sua existência interpretada na temporalidade. A pergunta sobre o ser deve ser interpretada para além das aparências, onde se percebe o sentido do cuidar que implica temporalidade, estrutura constitutiva do homem.
Quanto ao primado ôntico, o Dasein não é apenas um ente que ocorre entre outros entes. Tem o privilégio de, em seu ser, isto é, sendo, o seu próprio ser estar em jogo; pertence à constituição de ser do Dasein, estabelecendo uma relação de ser com seu próprio ser.
A tarefa do Dasein fica totalmente orientada para a tarefa de guiar a elaboração sobre a questão do ser, a partir de uma analítica existencial, a qual não tem a pretensão de proporcionar uma ontologia completa a respeito do Dasein. Ela explicita o ser desse ente; o que lhe compete é liberar o horizonte para a mais originária das interpretações do ser.
A temporalidade será demonstrada como o sentido desse ente que chamamos de Dasein, ou seja, o que se fará é uma investigação ontológica concreta no horizonte liberado pelo tempo com uma investigação sobre o sentido do ser.
O Dasein pergunta pelo ser, numa relação com os demais entes. Compreender o Dasein é também compreender os outros entes presentes no mundo. Dessa maneira, tem a possibilidade de viver autenticamente.
O Dasein compreende a si próprio, a partir da relação estabelecida com os entes que ele vai convivendo na cotidianidade do mundo no qual ele está inserido, sendo que sua presença no mundo dispõe de uma variada interpretação, e sua presença depara com dificuldades presentes em seu modo de ser.
Percebe-se, então, que através da ontologia do ser, Heidegger pretende apresentar uma relação do ser humano com o mundo e com os outros, ao tentar explicar o ser, a partir do Dasein. Tal iniciativa trouxe novas visões na busca do desvelamento do ser, uma vez que sua proposta de remexer nas ruínas deixadas pelos antigos através do método da fenomenologia, proporcionou novo entendimento sobre a tão questionada pergunta sobre o sentido do ser.
Referências
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2ª ed. Petrópolis: Vozes; 2007.
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Olá José Henrique
Imagine um estrangeiro que não soubesse mais do que uma dúzia de palavras em português e solicitasse a um brasileiro que explicasse a frase “O itabirano da família Drummond formou-se em farmácia”. Suponha que o brasileiro respondesse: “A frase quer dizer que O poeta Carlos Drummond era farmacêutico”. Pergunto: o brasileiro explicou a frase para o estrangeiro? Bem, creio que não. Situação semelhante pode ser observada quando você busca apresentar as idéias de Heidegger no texto acima. Na verdade, você apenas resumiu e parafraseou Heidegger, mas não houve maiores esclarecimentos.
Um abraço
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O texto já estava bastante esclarecedor, mas o seu comentário colocou um holofote no que já era claro. Com o texto e o seu comentário ficou bastante compreensível pra mim. Obrigado.
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o ser é a plenitude de toda perfeição e o ente tem a sua existencia por participação, é um ser contingente k recebe a sua existencia a partir do ser maior “Deus”.