Josinei da Rocha Neto
Francis Bacon, filósofo inglês empirista (1561-1626), destacou-se em todos o ramos em que atuava: ciência, filosofia e a política sendo um dos grandes representantes da política de sua época, tinha como proposta um novo método para a ciência e a política, usando de sua filosofia dizia que saber é poder a partir desta premissa ele constrói a sua reforma filosófica.
Na obra capital de Bacon, Novum Organum, ele declara que “[…] são de quatro os gêneros (os ídolos) que assediam o espírito humano” (BACON, p.34). Estes são: tribo (tribus),caverna (specus), mercado (fori) e teatro (theatri), por isso é necessário que o homem se liberte destes, pois se ele não procura esta libertação fica sujeito à alienação, e com isso nunca irá construir para si um verdadeiro saber.
Neste artigo nos propomos a apresentar os ídolos do teatro, apresentados por Bacon, mas faremos antes uma breve apresentação dos três primeiros ídolos, para que se tenha clareza sobre todos os obstáculos que causam estorvo à ciência.
Com relação aos ídolos da tribo (tribus), estes “[…] se fundamentam sobre a própria natureza e sobre a própria família humana ou tribo” (REALE,2004, p. 269). Neste tipo de ídolos os homens avaliam como verdade o conhecimento adquirido pelos sentidos.
Os ídolos da caverna (specus) “[…] tem como fundamento o homem individualmente considerado […] para ele […] todos os homens possuem como espécie de caverna de antro individual que destrói e corrompe a luz da natureza devido a várias causas,[…]” (BACON,p.35). Sendo assim, estes homens consideram tudo a partir de uma ótica individual.
Há também os ídolos do mercado (fori), que são aqueles que possuem os vícios que decorrem da linguagem como nos diz Bacon estes homens “[…] acreditam que sua razão domina as palavras; mas ocorre também que as palavras retrucam e refletem sua força sobre o intelecto, o que torna a filosofia e as ciências sofísticas e inativas […]” (REALE, 2004, p.271).
Por fim, os ídolos do teatro (theatri) são aqueles que a partir de representações criam fábulas ou teatros para explicar a realidade. “Assim procedemos por a nosso ver, serem as filosofias tradicionais e as inventadas, nada mais do que fábulas postas em cena e desempenhadas, criando dessa forma mundos fantasiosos e teatrais” (BACON, p. 36).
Diante do que observou das filosofias antigas, principalmente a de Aristóteles e a de Platão, Bacon fez criticas a partir dos métodos que estes utilizavam para tentar explicar a realidade, como a de Platão que usava das categorias, porque estes não proporcionavam o retrato fiel da realidade. Ao fazer uma crítica aos sistemas filosóficos, Bacon propõe três tipos de gêneros que a partir de “teatros” procuravam de alguma forma explicar ou transmitir o que era a realidade; estes são: os sofísticos, os empíricos e os supersticiosos. Como é sabido, ele as considera fontes de erros e da falsa filosofia.
O primeiro tipo de gênero era o dos sofísticos. Dentro desta categoria, Bacon nomeava Aristóteles como “o pior dos sofísticos”, pois ele usava de sua dialética para corromper a filosofia natural. “Na verdade tendo previamente tomado as decisões, não consultou como convêm as experiências para estabelecer seus princípios e axiomas” (BACON, p.48), submetendo assim à experiência na formulação da suas opiniões, devido a isso, ele merece ser mais retalhado que os escolásticos que não tinham em sua filosofia a experiência como pressuposta.
No segundo gênero se encontra o empírico, onde suas teorias não estão baseadas nas noções vulgares “[…], mas na base restrita e obscuro de um parco numero de experiências” (BACON, p. 48), colocando assim os químicos, que através de suas experiências procuravam explicar os fenômenos naturais.
Já no terceiro e último tipo de gênero do teatro se encontram os supersticiosos, que tenta a partir da filosofia e da teologia fazer uma mistura entre ambas. Com isso “[…] vai muito alem e causa danos tanto aos sistemas inteiro da filosofia quanto às suas partes, pois o intelecto humano não está menos exposto às impressões da fantasia que às noções vulgares” (BACON, p. 33-34).
Depois de termos retratado sucintamente a respeito dos ídolos do teatro, podemos perceber que não só no período em que Bacon viveu, mas ainda hoje este tipo de ídolo se faz muito presente em nosso meio, principalmente quando observamos com um olhar crítico os meios de comunicação, onde se percebe muitas “representações”, como por exemplo os jornais televisivos que na maior parte do tempo não transmitem as notícias como elas realmente ocorreram. Também podemos perceber esta realidade nas telenovelas em que se criam fábulas para tentar explicar um fato da realidade, mas que muitas vezes não condizem com o real. Isso acaba gerando em seu público ideologias, as quais são apresentadas como verdade. As pessoas que não possuem um senso crítico apurado não conseguem perceber que elas são mentiras lançadas pelos meios de comunicação, com isso acabam por absorverem essas ideias como verdadeiras e ficando fechadas em seu ostracismo.
Referências
BACON, Francis. Novum Organum. Trad. Antônio M. Magalhães. Portugal: Rés, S/D.
REALE, Geovani. História da Filosofia. vol.III. Trad. Ivo Storniolo, São Paulo: Paulus, 2004.