Bernardo Ferreira de Sousa
A filosofia hobbesiana traz uma visão sobre a razão humana diferente da filosofia clássica e medieval, na qual a racionalidade é entendida como a capacidade de conhecer a essência das coisas; já em Hobbes a razão é uma faculdade calculativa, pois, para ele, o raciocínio irá produzir definições exatas e forçará conclusões irrefutáveis.
Hobbes percorre em seu trabalho o método dedutivo, ou seja, de recomposição ou de cálculo, pois ele emprega com convicção as noções de “cálculo”, de “adição” e de “subtração”; isso ele estabelece para todas as operações científicas quaisquer que sejam os elementos em causa. Assim a razão tenta alcançar uma organização real com o fluxo da experiência bruta, e simultaneamente exprime e massacra. Como o próprio já nos diz, “a razão, neste sentido nada mais é do que cálculo, isto é, adição e subtração das consequências de nomes gerais estabelecidos para marcar e significar nossos pensamentos” (HOBBES, 1979, p.27).
Neste sentido, ao refletir sobre a razão hobbesiana é perceptível que, segundo Hobbes, ela se dá sempre que o homem raciocina, o que consiste na verdade em conceber uma soma total, com base na soma de parcelas, ou conceber um resto a partir da subtração de uma adição por outra (HOBBES, 1979, P. 27). Ele explica que quando nós raciocinamos fazemos adições e subtrações que podem ser observadas em diversas áreas, como por exemplo, “se quero ser presidente de um Clube (o fim desejado), agir racionalmente significa calcular os meios dos quais posso lançar mão para chegar lá: mostrar-me simpático com os sócios, prometer não aumentar a mensalidade, promover eventos, etc” (AMES, 2005).
No que diz respeito à razão calculativa em Hobbes, podemos dizer que é uma recta ratio, posto que possuI uma função instrumental e calculativa. Como explica Hélio Silva,
Instrumental na medida em que é utilizada pelo homem como um meio (instrumento) útil para proceder aos cálculos de nomes, e calculadora na medida em que sua principal função é calcular os nomes dos objetos e fatos, de modo a construir um discurso coerente capaz de propiciar ao homem a saída do estado de simples natureza, que é de guerra de todos contra todos, por meio do pacto que institui um poder soberano capaz de promover a paz, a segurança e a estabilidade que inexiste no estado de natureza. (SILVA, 2009, p. 25-26)
Hobbes afirma que o homem é superior aos animais, já que ele concebe seja o que for, inquire as consequências e tem a capacidade de reduzir a regras gerais, isto é, os chamados teoremas, ou aforismos. O homem sabe raciocinar, ou calcular, não simplesmente com números, mas também com outras coisas se pode adicionar ou subtrair uma a outras. E “este privilegio é acompanhado de um outro, que é o privilegio do absurdo, ao qual nenhum ser vivo está sujeito, exceto o homem” (HOBBES, 1979, p.29).
Diante desse pensamento calculativo, Hobbes critica aqueles que usam a razão como autoridade, tentando delatar os absurdos de forma irônica, a saber, professores e eclesiásticos. Os professores, sendo muitas vezes homens sem prática, podem errar e contar falso, pois em qualquer tema de raciocínio, os homens mais capazes, mais práticos podem enganar-se e finalizar conclusões falsas. E os eclesiásticos que julgam ser mais sábios do que os outros, clamam e exigem uma razão certa para juiz, para que as coisas sejam determinadas não pela razão de outros homens, mas pela sua própria razão. Estas são as pessoas, segundo Hobbes, que usam a razão de forma errada, porém a finalidade da razão na verdade “é calcular as significações fixas dos nomes de tal modo a construir uma cadeia onde a última conclusão se siga da certeza das afirmações e negações das premissas” (HOBBES, 1998, p.40).
Depois de termos visto o que é a razão, o cálculo, a subtração, e a adição em Thomas Hobbes, podemos concluir que a razão não pode ser pensada a não ser pelo cálculo, pois ela constrói uma cadeia para que se chegue a uma última conclusão, ela avalia verdades de fato e relações matemáticas e nada mais.
Referências
HOBBES, Thomas. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
______. Leviatã: ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os pensadores)
SILVA, Hélio. Ciência e filosofia: notas acerca da re-significaçao de conceitos científicos na filosofia hobbesiana. Kínesis, v. I, n. 1, 2009, p.22-38.
AMES, José Luiz. Hobbes e a razão calculadora. Disponível em: <www.orecado.org>. Acesso em: 17 maio 2011.