Gustavo Moreira Mendes
Este artigo tem o objetivo de apresentar as diferentes classes de filosofia segundo a obra principal de David Hume, Investigação acerca do entendimento humano (1748). O filósofo as classifica em duas, cada uma tendo seu mérito peculiar e podendo contribur para o entendimento, instrução e reforma da humanidade: filosofia “fácil” e clara; filosofia abstrata e “difícil” (HUME, 1992, p. 64).
Ao entender que a filosofia moral, ou a ciência humana, pode ser apresentada de duas maneiras diferentes, podemos analisar que a primeira, ou seja, a filosofia “fácil” e clara,
considera o homem como nascido principalmente para a razão; como influenciado em suas avaliações pelo gosto e pelo sentimento; perseguindo um objeto e evitando outro, segundo o valor que esses objetos parecem possuir e de acordo com a luz sob a qual eles se apresentam. […]
Escolhem na vida cotidiana, as observações e exemplos mais notáveis, colocam os caracteres opostos num contraste adequados e, atraindo-nos para os caminhos da virtude com visões de glória e felicidade, dirigem nossos passos nesses caminhos mais sadios preceitos e os mais ilustre exemplos. Fazem-nos sentir a diferença entre o vicio e a virtude; excitam e regulam nossos sentimentos; e se eles podem dirigir nossos corações para o amor da probidade e da verdadeira honra, pensam que atingiram plenamente o fim de todos os seus esforços. (HUME, 1992, p. 63)
Assim, os filósofos que aderem a este tipo de filosofia mais clara e “fácil”, utilizam dela de maneira mais agradável, valendo-se da poesia e de sua oratória, apresentando de “maneira fácil e agradável”, o que acarretará em uma melhor aceitação, possibilitando a exemplificação e atraindo mais adeptos.
Certamente, a filosofia fácil e clara terá sempre preferência, para a maioria dos homens sobre a filosofia exata e abstrusa; e por muitos será recomendada, não apenas como a mais agradável, mas também como mais útil do que a outra. Ela penetra mais na vida cotidiana, molda o coração e os afetos, e ao atingir os princípios que impulsionam os homens, reforma-lhes a conduta e aproxima-os mais do modelo de perfeição que ela descreve. (HUME, 1992, p. 64)
Contudo essa filosofia pode gerar certos transtornos para os adeptos da mesma, pois ela não consegue expressar os verdadeiros sentimentos que devem ter o verdadeiro filósofo. Atingir essa maturidade exige do filosofo rigoroso esforço e uma busca sincera de superar os alicerces apresentados pela sociedade. “Por isso é que, não despropositadamente, Hume invoca a presença de um novo Galileu, isto é, de alguém capaz de renovar sobre o entendimento humano.” (CASTRO, 2008, p. 72). Investir nessa tarefa não e fácil, mas promete resultados de que valem a pena a cerca do conhecimento.
Sobre a segunda classe dos filósofos, ou seja, a filosofia “difícil” e abstrata, Hume apresenta uma classe mais exigente acerca do conhecimento:
[…] os filósofos da outra classe consideram o homem mais como ser racional que como ser ativo, e procuram formar seu entendimento em lugar de melhoras seus costumes. Consideram a natureza humana como objeto de especulação e examinam-na com rigoroso cuidado a fim de encontrar os princípios que regulam nosso entendimento, excitam nossos sentimentos e fazem-nos aprovar ou censurar qualquer objeto particular, ação ou conduta. Julgam como a desgraça para toda literatura que a filosofia não tem estabelecido, além da controvérsia, o fundamento da moral, do raciocínio e da crítica; e que sempre tenha que falar da verdade, da falsidade, do vício e da virtude, da beleza e da fealdade, sem ser capaz de determinar a fonte destas distinções. (HUME, 1992, p. 63)
Os filósofos desta classe devem tentar limitar todo conhecimento possível, não conformando com resultados superficiais, seu conhecimento deve buscar a verdade mais pura acerca das verdades estabelecidas não se conformando com as verdades já impostas.
Assim, “Hume defende uma filosofia rigorosa, mas não deseja que ninguém abdique de sua condição de homem para filosofar. […] Para ele a filosofia é um exercício penoso, mas ela é melhor, mas é melhor do que a obscuridade, tão presente na metafísica” (CASTRO, p.72, 1992).
Portanto se faz necessária a presença de uma filosofia critica que gere mais conhecimento e produza meios para o esclarecimento acerca do entendimento humano, de modo que o ser humano possa entender e esclarecer seus questionamentos. Por fim resta-nos questionar: estamos preparados para tal filosofia? Ou viveremos a mercê dos fragmentos deixados? Seremos nós novos Galileus? As respostas serão nossas, ou melhor, em nosso modo de buscar essa filosofia, atestado ao nosso modo de filosofar.
Referências
HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. Tradução de Anoar Aiex. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1992. (Os Pensadores).
CASTRO, Susana de. Introdução à filosofia. Petrópolis: Vozes, 2008.