Luciano de Oliveira Pereira
Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo inovador, pois em sua época propiciou uma nova visão à filosofia, de modo especial à metafísica, sobretudo porque analisa como se baseia o conhecimento, indo por um caminho estritamente de princípios racionais, definindo os princípios e os limites da razão. Na concepção de Kant, é preciso que o homem aprenda a filosofar, ou seja, trabalhe o talento da razão fazendo-a seguir princípios universais, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios, confirmando-os ou rejeitando-os. Dessa forma, a razão produz filosofia e também conduz à critica do conhecimento.
No pensamento kantiano, a filosofia não deve ser cética, isto é, não deve desacreditar da razão, e nem dogmática, ou seja, confiar totalmente na razão. Kant fez uma síntese entre o racionalismo de Descartes e o empirismo de Hume. Sua proposta é o criticismo, que é um modo crítico de ver as condições da metafísica e da moral.
A inteligência, ou como Kant prefere chamar, o entendimento, exerce uma assimilação racional para conhecer, dessa forma a razão é ativa e não apenas receptiva, não apenas diz sobre a realidade, mas a razão possui estruturas que ordenam os conhecimentos, de modo que eles se tornem inteligíveis e tenham significados.
Kant mostra que “todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova que todo ele derive da experiência” (KANT, 1997, p.36), ou seja, para conhecer é preciso tanto a razão com seus instrumentos, como a experiência com os fatos da realidade empírica. Na geometria temos como saber a priori que a soma dos ângulos internos de um triângulo é sempre cento e oitenta graus, é um tipo de conhecimento que não depende da experiência com os fatos; pois eles se formam através de um conhecimento baseado na demonstração. Quanto ao conhecimento científico, este não nos dar certeza, porque não importa quantos casos tenham ocorridos no passado, isso não nos prova que continuará ocorrendo. Por exemplo, por mais que o sol tenha nascido por milhares e milhares de dias, nada nos afirma que este fato ira ocorrer no futuro.
A causalidade para Kant não está nos fenômenos que se pode observar pela experiência, mas sim no entendimento que analisa os fenômenos. O princípio da causalidade é um produto da razão, assim é conhecido a priori, pois não depende desta ou daquela experiência, mas se verifica absoluta independência de toda e qualquer experiência, ou seja, o princípio de causalidade não deve ter por base os fatos dogmáticos. Dessa forma vemos que não é possível chegar à verdade permanente em fenômenos que estão sujeitos a transformação.
A distinção entre conhecimento sintético e conhecimento analítico, é que aquele é baseado na experiência, e este reconhece a verdade sem a necessidade de uma prova empírica. Quando uma pessoa nos diz “hoje o tempo está bom”, ela diz sobre o tempo tendo como ponto de partida a observação ou experiências. Isto é conhecimento sintético, e também a posteriori, pois há necessidade da experiência e a possibilidade do conhecimento evoluir.
Com a lógica traz a possibilidade do conhecimento analítico, que é absolutamente verdadeiro, por exemplo, “todo triângulo é uma figura de três lados”. O conhecimento desse modo, mesmo sendo verdadeiro, não cria nada de novo, sobre o que já sabemos sobre o triângulo.
Conforme Kant observa, o conhecimento a posteriori faz evoluir o conhecimento sintético, e os conhecimentos analíticos nos dão à verdade, ele cria um terceiro tipo de conhecimento, que é o conhecimento sintético a priori, pois este vem da experiência e é racional. Como podemos perceber na lei da física, quando fala que “os corpos se atraem na razão direta de suas massas, e na razão inversa do quadrado da distância entre eles” (CASTRO, 2008, p.77), esta lei demonstra a realidade física, tendo a necessidade que essa lei seja confiável no futuro. Tem o principio da causalidade como ferramenta, e assim o princípio a priori é totalmente instrumento da razão.
Os princípios da razão é que nos auxiliam no conhecimento. Por exemplo, “a relação causal entre o aquecimento do metal e a sua dilatação não está pronta, não está dada na realidade. Tomemos uma barra de ferro e uma fonte de calor, e alguém que põe a barra de metal no fogo, etc” (CASTRO, 2008, p.77). Há os atributos na dilatação, que é o metal, a fonte de calor e dilatação, mas o raciocínio não se encontra neles, pois é a representação que torna possível que o objeto seja conhecido e não o inverso. Dessa forma vemos que as experiências não apresentam verdadeiramente a realidade, e sim o entendimento com suas estruturas a priori, juntamente com os dados sensíveis. Então, “o entendimento é a faculdade das cognições. Estas consistem numa relação definida de dadas representações a um objeto; e um objeto é aquilo a que se liga a multiplicidade de uma dada intuição” (BENDA, 1967, p.65).
Não existe experiência que esteja fora do tempo e do espaço, “todavia é assim que o espaço é pensado (pois todas as partes do tempo existem simultaneamente no infinito)” (KANT, 1997, p.66), sendo que o “tempo é uma representação necessária que constitui o fundamento de todas as intuições” (KANT, 1997, p.70). Tempo e espaço fazem parte da experiência e da observação. Por exemplo, quando um cientista faz experiências ou pesquisas com ratos no laboratório, a experiência acontece em um espaço que é gaiolas, em um tempo, a duração da experiência. Para alcançar o conhecimento dos fenômenos da realidade para si, a razão tem como meio o tempo e o espaço, e os “óculos” da realidade, da possibilidade, da causalidade, etc.
Assim, só podemos conhecer os fenômenos, ou seja, o que é visto através da forma da razão, e não a realidade em si mesma (o númeno). Então, os elementos da metafísica, como alma e Deus, não podem ser conhecidos, pois estão fora do tempo e do espaço.
Referências
BENDA, Julien. O pensamento vivo de Kant. Tradução de Wilson Veloso. São Paulo: Martins, 1967.
CASTRO, Susana de. Introdução à filosofia. Petrópolis: Vozes, 2008.
KANT, Immauel. Crítica da razão pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos. 4. ed. Lisboa: Colouste Gulbenkian, 1997.
PASCAL, Georges. O pensamento de Kant. Tradução de Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1992.