Josinei da Rocha Neto
A fraqueza do desenvolvimento foi denunciada por Auguste Comte, pois ele via no desenvolvimento da humanidade duas concepções, uma de progressão e a outra de regressão, ou ainda uma mistura das duas, porém ele diz que seria necessário estudar o desenvolvimento como uma propriedade especifica. Já no marxismo aparecem dois pontos importantes a serem relevados sobre a questão do desenvolvimento, em primeiro lugar acredita-se que nas velhas civilizações havia novas descobertas que seriam inconcebíveis, e por outro lado Marx inverteu a perspectiva dos processos de desenvolvimento e industrialização, ele diz que a industrialização não é um fenômeno autônomo:
[…] a industrialização não é um fenômeno autônomo e que se procura introduzir, de fora, em civilizações que permaneceram na passividade. Ao contrário, a industrialização é uma função, e resultado indireto, da condição das sociedades ditas “primitivas” ou, mais exatamente, da relação histórica entre elas e o Ocidente. (LÉVI-STRAUSS, 1987, p.319).
Como nos afirma Lévi-Strauss[1], a cultura indígena encontra para si um tipo de refúgio que está ligada a sua própria cultura que lhe reserva a civilização cultural. Como exemplo podemos notar:
Os iroqueses do estado de nova Iorque, que fornecem, já há mais de meio século, as melhores equipes especializadas na montagem de estruturas metálicas: pontes, arranha-céus etc. Esta vocação se explica, de um lado, por um treinamento tradicional em ultrapassar torrentes e precipícios; e porque estes índios encontraram, talvez, numa atividade cheia de riscos, geradora de prestigio e bastante bem remunerada – e também intermitente, implicando um certo nomadismo – um substituto de suas velhas expedições guerreiras.” (LÉVI-STRAUSS, 1987, p.323).
Com este exemplo surgem então muitas curiosidades a respeito do desenvolvimento da humanidade. Segundo Lévi-Strauss, são três as profundas causas de resistência ao desenvolvimento: primeiro é a tendência que possuía uma grande maioria das sociedades primitivas que preferiam a unidade à mudança; um segundo ponto é o grande respeito pelas forças naturais e a terceira resistência consiste na recusa em aceitar a história como um devir.
Sobre a primeira fonte de resistência ao desenvolvimento, pode-se notar que houve frequentemente uma invocação do caráter competitivo daquelas sociedades que eram consideradas como primitivas. Assim, Lévi-Strauss faz a seguinte ressalva:
[…] a passividade e a indiferença, que chocaram os observadores, podem ser uma consequência do traumatismo consecutivo ao contato e não uma condição inicialmente dada. Contudo, deve-se insistir sobre o fato de que esta ausência de espirito competitivo, muito frequentemente, não resulta de um estado induzido de fora ou de um condicionamento passivo anterior, porém muito mais de um progresso deliberado, correspondente a uma certa concepção das relações entre o homem e o mundo, e dos homens entre si.” (LÉVI-STRAUSS, 1987, p.324).
O espírito de competição não está muito ligado às sociedades primitivas, visto que eles tinham atitudes que demostravam que não deveria haver entre eles o espírito de competição, como por exemplo podemos observar as partidas de futebol em que não deveriam ter vencedores ou perdedores, mas sim o equilíbrio entre os que estavam jogando, pois se fosse necessário eles aumentavam os números de partidas para que houvesse assim um equilíbrio e o jogo só terminava quando eles estivessem seguros de que não haveria nenhum perdedor. Sendo assim podemos perceber que eles preferiam a união ao invés da mudança.
Já na segunda forma de resistência ao desenvolvimento, há diferentes concepções de natureza e cultura pelas sociedades primitivas havendo assim um profundo respeito pela natureza.
[…] entre os povos ditos como “primitivos” a noção de natureza tem sempre um caráter ambíguo: a natureza é pré-cultura e também subcultura; mas é especialmente o terreno no qual o homem pode esperar entrar em contato com os ancestrais, os espíritos e os deuses. Portanto, na noção de natureza há um incontestavelmente acima da cultura como a própria natureza está abaixo desta. (LÉVI-STRAUSS, 1987, p.325).
Por fim, no terceiro tipo de resistência ao desenvolvimento, encontramos a recusa da história, neste sentido poderia surgir um grande problema nas sociedades ditas “sem história”, pois tudo o que existe, existe em um determinado tempo.
Estas sociedades estão na temporalidade como todas as outras, e com os mesmos direitos que elas, mas diferentemente do que acontece entre nós, recusam-se a história, esforçam-se por esterilizar em seu seio o que poderia constituir o esboço de um devir histórico. (LÉVI-STRAUSS, 1987, p.326).
As sociedades ocidentais foram criadas para a mudança e o seu principio é a estrutura e a organização. Já as sociedades primitivas nos aparecem como tais, visto que foram concebidas por seus membros para durar e não transformar. Os primitivos não aceitam em seus territórios pessoas estrangeiras conseguintemente chegam até a negar-lhe as qualidades de homem.
Nada é deixado ao acaso, é o duplo princípio de que é preciso um lugar para cada coisa e que cada coisa deve estar em um lugar, impregna toda vida moral e social.
Diante do que abordamos, nota-se que estes tipos de resistência não estão muito presentes em nossa sociedade, visto que os três aspectos analisados hoje acontecem de forma diferente: há uma grande aceitação com relação a mudanças; muitas vezes o homem não tem respeito pela natureza, como se pode perceber a cada dia o aumento assustador de desmatamentos em nossas florestas; e mesmo havendo algumas vertentes contemporâneas que negam a historia, acreditamos que ainda haja respeito por ela, pois em tudo há um pouco de história.
Referência
LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural dois. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1987.
[1] Claude Lévi-Strauss foi um antropólogo, professor e filósofo francês. Nasceu em Bruxelas , no dia 28 de novembro de 1908; faleceu na cidade de Paris, em 30 de outubro de 2009. Foi fundador da antropologia estruturalista, considerado o intelectual do século XX.