Daniel Fernandes Moreira
Introdução
A vida é uma caminhada da qual todos nós estamos à mercê. Estes caminhos podem nos levar a uma vida repleta de alegrias ou de sofrimentos, dependendo do rumo que dermos ela. Ao nos debruçarmos sobre a ética aristotélica, inquietam-nos algumas perguntas: “Qual a melhor vida? Qual é o bem supremo da vida? O que é virtude? Como encontrar felicidade?” (DURANT, s.d., p. 73) Para estas questões Aristóteles dedica dois de seus livros: “A Ética” e “Ética a Nicômaco” tendo em vista responde-las e nos apresentar um caminho para a busca da eudaimonia, da vida feliz a qual todos aspiramos. O presente artigo tem como objetivo investigar se é verdadeiramente possível a existência desta vida feliz, qual o caminho para alcançá-la e, afinal de contas, o que é esta felicidade proposta pelo nosso filósofo tendo como base a sua obra intitulada “Ética a Nicômaco” uma vez que todos nós almejamos a felicidade e a vida feliz.
O que é felicidade?
Para entendermos o que Aristóteles apresenta sobre a felicidade temos que primeiramente descobrir o que é o bem para este autor:
Admite-se geralmente que toda arte e toda investigação, assim como toda ação e toda escolha, tem em mira um bem qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto, que o bem é aquilo para que todas as coisas tendem. Mas observa-se entre os fins uma certa diferença: alguns são atividades, outros são produtos distintos das atividades que os produzem. Onde existem fins distintos das ações, são eles por natureza mais excelentes do que estas. (ARISTÓTELES, 1979, p. 49)
Fica bastante claro o que Aristóteles quer dizer sobre o bem. Percebemos que para Aristóteles bem é um fim, algo que nós procuramos por si mesmo e não em busca de outras coisas, pois se assim fosse estas coisas não seriam um fim, mas um caminho para ele e, ainda, bem é o final de toda a ação.
Entre os bens, os fins, existem alguns que são mais nobres e mais desejáveis que os outros. Mas qual seria? O filósofo apresenta claramente que um deles é a felicidade uma vez que “(…) escolhemos a felicidade por ela própria, sem ter em vista algo mais remoto; pelo contrário, escolhemos a honra, o prazer, o intelecto (…) por acreditarmos que através deles sermos felizes” (ARISTÓTELES apud DURANT, s.d., p. 74).
Agora que já sabemos o que é o bem e colocamos a felicidade em seu devido lugar, podemos voltar para a nossa investigação, afinal o que é felicidade? Na época do nosso filósofo havia diversos conceitos de felicidade e “Aristóteles sabe disso; e por isso, de propósito, reduz a três essas diversas opiniões: a felicidade é o prazer, a felicidade é a glória ou a virtude, a felicidade é a contemplação” (PHILIPPE, 2002, p.33). Todas essas maneiras de conhecer a felicidade mostram que ela é um fim último das nossas atividades, pois se procuramos o prazer é para encontrarmos a felicidade, se vivemos a procura de glória ou em uma vida virtuosa é porque queremos ser felizes e, se levamos uma vida contemplativa, é porque encontramos nela a felicidade.
A felicidade é o fim último das nossas atividades e não atividades e não o seu fim particular e intermediário, porque é o bem supremo do homem, isto é, o bem perfeito que lhe basta e que se o procura por si mesmo. (PHILIPPE, 2002, p.34).
Como se alcança a felicidade?
A preocupação de Aristóteles, entretanto, não é definir o que é felicidade, mas nos mostrar um caminho para alcançarmos a felicidade. Em sua definição de felicidade ele nos apresenta dois caminhos: um a “vida política e moral, a que se dilata sob o controle da ‘reta razão’; [e outro a] vida contemplativa, que exalta a parte mais divina da natureza humana, (…) capacidade natural de atingir a verdade última” (PHILIPPE, 2002, p.33).
A vida política e moral que deve ser regida pela “reta razão” é a vida virtuosa, a vida prática, o bem agir e aqui entra no pensamento aristotélico toda a discussão sobre o meio termo que é a única forma de agirmos bem.
Esse meio termo, a virtude, é a justa medida entre dois extremos de uma ação, por exemplo: o meio termo (que é a virtude) dos prazeres é a temperança, ao passo que os extremos (que são os vícios) são a libertinagem e a insensibilidade. O meio termo não é único: não é possível dizer que esta é a temperança para todos os homens, o que posso dizer é que há uma determinada medida que é a medida do homem bom e virtuoso. “(…) a virtude e o homem bom como tais são a medida de todas as coisas (…)” (ARISTÓTELES, 1979, p. 226).
Porem, o homem virtuoso e, por conseguinte feliz, não o é em determinados momentos, mas ele só pode ser considerado assim no decorrer de sua vida, pois “uma andorinha não faz verão, nem um dia tão pouco; e da mesma forma um dia, ou um breve espaço de tempo, não faz um homem feliz e venturoso” (ARISTÓTELES, 1979, p. 56).
Segundo Aristóteles, é necessária uma vida virtuosa para alcançarmos a felicidade, porem em segundo plano, porque em primeiro plano temos a vida contemplativa, não a contemplação das Ideias de Platão, mas uma vida autossuficiente, uma vida comparável à vida dos deuses, ou seja, uma vida sem muitas necessidades, uma vida sem apegos, uma vida livre. É esta vida que é considerada a vida feliz, a vida eudaimônica e quem nos permite isso é a razão: “a razão é divina em comparação com o homem, a vida conforme a razão é divina em comparação com a vida humana (…) procuremos tornar-nos imortais e envidar todos os esforços para viver de acordo com o que há de melhor em nós” (ARISTÓTELES, 1979, p. 229).
Considerações finais
Após essa breve explanação sobre a felicidade, concluímos que a felicidade é um caminho de toda uma vida que deve ser guiada segundo a razão; que a felicidade não é uma disposição, mas sim uma atividade; que ela é um fim em si mesma e, portanto, o bem supremo e que a única forma de a alcançarmos é tendo uma vida autossuficiente e virtuosa, ou como o nosso filosofo disse uma vida contemplativa e pratica, nos esforçando a cada dia para viver de acordo com a nossa razão e, somente se assim o fizermos é que seremos felizes.
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 45-236 (Os Pensadores)
DURANT, Will. A filosofia de Aristóteles. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. 124 p.
PHILIPPE, Marie-Dominique. Introdução à filosofia de Aristóteles. São Paulo: Paulus, 2002.