Rosemberg Nascimento*
Na modernidade o ateísmo nasce com o iluminismo francês, em seguida, com Feuerbach, Marx, dentre outros. Ao adentrarmos o pensamento feuerbachiano e marxista, podemos cogitar acerca da relação que existe entre ambos. Ludwig Feuerbach (1804-1872) é o pai do ateísmo e principal representante da esquerda hegeliana. Em 1884, Karl Marx chama Feuerbach de grande profeta. O fio condutor do pensamento de Feurbach em sua nova filosofia é o ser que se dá de maneira real. Nesta perspectiva, ele propõe uma antropologia humanista, visto que, em seu itinerário sentiu-se obsecado pela religião que constitui a temática de sua investigação. Na célebre obra a essência do cristianismo Feuerbach ressalta: “meu objeto principal é o cristianismo, é a religião enquanto objeto imediato, essência imediata do homem” (ZILLES, 1991, p.100).
Para Feuerbach “o problema de Deus e da religião não é mais a natureza mais o próprio homem” (ZILLES, 1991, p.99). Assim sendo, podemos dizer que o que Feuerbach realiza na religião uma redução antropológica. Como antropologia, a religião se torna atéia, na qual nega a Deus para afirmar o homem com o ápice de tudo. Em algumas Ideologias modernas seria impossível haver libertação do homem, uma vez que se nega a existência de Deus tais como a apresentam tendo como pressuposto de que a religião é expressão e causa da alienação do homem. Neste sentido, podemos situar o ateísmo de feuerbach.
“Para Feuerbach, o conhecimento que o homem tem de Deus é apenas o autoconhecimento do homem, de sua própria essência. Para ele a nova filosofia é a redução total da teologia e de toda a filosofia à antropologia, pois o ser absoluto, o Deus do homem, é a sua própria essência”. (ZILLES, 1991, p.99).
A origem da religião segundo o pensamento feuerbachiano fundamenta-se na diferença entre o homem e o animal isto é, na própria consciência humana. Na essência do cristianismo vemos que os animais não tem nenhuma religião. A diferença, porém que existe entre o homem e o animal está pautado na consciência em que o homem possui como objeto de reflexão sua própria essência, em sua espécie. Deste modo, podemos pensar que para Feuerbach “religião é o comportamento do homem perante seu próprio ser infinito. Nisso está sua verdade. (…) A falsidade da religião está em o homem tornar independente de si mesmo o seu próprio ser infinito, separando-o e opondo-o como diferente de si, produzindo a bipolaridade Deus e homem e alienando”. (ZILLES, 1991, p.101.). Desse modo, na primeira parte desta última obra, Feuerbach influencia Marx, discutindo a “essência verdadeira ou antropológica da religião”. Na segunda parte analisa a sua “essência falsa ou teológica”. Conforme sua filosofia, a religião é uma forma de alienação que projeta os conceitos do ideal humano em um ser supremo.
Karl Marx (1818-1883) diferente de Feuerbach aposta no ateísmo sociológico. Um dos mitos da contemporaneidade mais discutidos está intimamente ligado ao nome desse grande filósofo e sociólogo, o marxismo. A doutrina Marxista nasce no limiar do século XIX baseado no materialismo e o socialismo científico penetrado, e ao mesmo tempo impelido pelo espírito dialético hegeliano. Todo pensamento da esquerda hegeliana está influenciado por Feuerbach numa crítica acerca da religião. Marx é considerado ateu antes mesmo de se tornar comunista. O ateísmo que permeava a esquerda hegeliana tornou-se de certa maneira, simples. Assim o novo humanismo de Marx é o ateísmo e comunismo. “O ateísmo é o humanismo pela superação da religião, e o comunismo é o humanismo pela superação da propriedade privada” (ZILLES, 1991, p.123.).
Vale salientar que o pensamento marxista, se torna pertinente quando Feuerbach evidencia que a filosofia não é outro aspecto que a própria religião, em que se fundamenta o verdadeiro materialismo e a ciência real. O Objeto do pensamento de Marx não é entender o processo que se dá por meio da história, mas de transformá-lo. A filosofia marxista critica Hegel por se refugiar de um pensamento abstrato. Para Marx e Feuerbach faltou a atitude que revolucionaria a práxis. Por outro lado, para Marx na sociedade homogênea, não haverá mais exploração e serão satisfeitas as vontades para o bem comum de todos. Com isso cessará a alienação não havendo necessidade da ideia de Deus. Refletir sobre o conceito de religião e da crítica religiosa, é ter consciência de que Marx está em oposição a Hegel, situando-se ao lado de Feuerbach. “A religião permaneceu tema polêmico durante toda a vida, para Marx o ateísmo é um postulado evidente. (…) Deus não passa de uma projeção do homem”. (ZILLES, 1991, p.125.). Por isso, segundo Marx a religião não passa de uma mera produção e alienação humana. È como se o homem criasse a religião. Mas compreende-se o materialismo feuerbachiano como objeto de contemplação, metafísico e consequentemente, religioso. A crítica de Feuerbach a respeito da religião tem como os aspectos, a saber: político e social. No pensamento marxista encontram-se fundamentos filosóficos para o socialismo. Contudo, criticando Feuerbach pela carência da dimensão social homem que na realidade é o conjunto das relações sociais. Quando Feuerbach compreende um homem como espécie Marx salienta que as relações naturais negligencia o contexto social e histórico.
O conceito de religião para Marx aliena o homem. “A alienação religiosa deve ser esclarecida a partir da situação histórico-social concreta. Mas a religião é a expressão da alienação do homem e não seu fundamento”. (ZILLES, 1991, p.126.). Destarte, a religião nasce da convivência social e política. Marx radicaliza o ateísmo de Feuerbach, o qual se confronta com a teologia e religião. Trata-se de um ateísmo mediado, em Marx o ateísmo é a negação de Deus e a afirmação da essência humana.
* Graduado em Filosofia pela FAM
REFERÊNCIAS
ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. São Paulo: Paulinas, 1991. 195 p. (Filosofia).
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ótimo texto.
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Para mim, Feuerbach matou a pau. A pura e simples negação do deus de Israel liquida a questão. Deus nada mais é senão a afirmação da Bíblia como o norte do comportamento humano dentro dessa crença. A luta surda e cruel travada nos primórdios do cristianismo se deu entre grupos que defendiam o autoconhecimento e outros que defendiam a massificação. Os últimos levaram a melhor por motivos ainda na penumbra criada pela história oficial. Aproveito aqui para pedir licença para uma divulgação procedente:
A religião percebida como um instrumento político é bem diferente de quando é percebida como um instrumento de aperfeiçoamento moral. A tendência é que ela seja apreciada preferencialmente pela segunda possibilidade. No entanto, é sob o ponto de vista secular que faço essa reflexão a respeito da origem do cristianismo. Conheça um pouco mais a respeito da maior farsa histórica de todos os tempos. Visite a página do livro A Origem do Cristianismo em Reflexão no Facebook:
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Abraços a todos.