José Mário Santana Barbosa*
Resumo: Esse estudo tem como objetivo analisar a origem e o desenvolvimento da linguagem, característica essencial e diferencial do homem, como mecanismo de transmitir sua cultura, conhecer a si mesmo e viver em sociedade. Tentará se chegar ao mais próximo da origem da linguagem, à forma mais primitiva dela, buscando-se, assim, entender o surgimento do processo que passou a ser crucial para a distinção do homem dos demais seres que com ele habitam o mundo. Para tanto, será utilizado como referencial, dentre outros, o pensamento contido na obra Crátilo, de Platão, na qual o autor preocupa-se exatamente com essa questão: a origem e a importância da linguagem para o homem.
Palavras-chave: Linguagem. Pensamento. Crátilo. Antropologia.
INTRODUÇÃO
Inerente ao ser humano, diferenciando-o das demais espécies com as quais ele convive, a linguagem é, sem dúvidas, um instrumento de grande poder e valia, sem o qual não se pode nem mesmo imaginar uma vida em sociedade, tal qual a que conhecemos hoje. Contudo, longe de ser de fácil compreensão, a linguagem, quanto a seu início e mesmo quanto à dinâmica de seu desenvolvimento, adquire um caráter bastante enigmático e ao que nos parece, intransponível.
Ao longo da história, foram muitas as tentativas de se chegar a uma conclusão sobre essas perguntas, passando pelo uso da mitologia e finalmente pelo uso da razão propriamente dita. Esse é o caso de alguns cientistas e estudiosos, como Charles Darwin que ligou a própria evolução da linguagem à sua teoria da evolução das espécies, passando de um estado primordial até o estado que hoje conhecemos.
Antes disso, Platão, em sua obra Crátilo, já havia tentado desvendar esses mistérios e indicar algumas conclusões a respeito da função e do desenvolvimento da linguagem, como veremos nesse trabalho. Por meio do discurso entre Sócrates, Hermógenes e Crátilo, ele desenvolve e tenta chegar à origem de diversos nomes, tentando discernir sobre a “naturalidade” e/ou “convecionalidade” deles, enquanto argumenta sobre a grande importância da linguagem para o estabelecimento da cultura humana e sobre seu provável início.
1 Exposição do problema
Ser como qualquer outro dos seres presentes no universo, o homem, indubitavelmente, possui características que muito o distinguem destes. Uma delas é, por exemplo, a sua cultura, que é tão diferente nos diversos agrupamentos sociais ao redor do mundo. Ela é perpetuada e acrescentada (moldada) continuamente, à medida que suas informações são repassadas ao longo das gerações, de “pais para filhos”, e adquirem, desses, novas informações.
Outro claro diferencial do ser humano sobre os demais é a capacidade que ele tem de perceber a “si mesmo”, de tomar consciência de sua existência no mundo e, a partir de então, tomar decisões que o permitam, inclusive, “dominar” (desde que com sabedoria e prudência) as outras espécies, que não têm a mesma capacidade. Dessa maneira, o homem tem consciência das coisas que o rodeiam e adquire, disso, a possibilidade de “formar” o mundo.
Para realizar esse destino de pensar o ser, o pensamento investiga. Ele está, sempre e por toda parte, na questão do ser. Questão significa busca, procura, investigação; ser significa a entidade dos entes. A causa que move o pensamento a questionar está na própria necessidade que ele sente de promover a iluminação do ser. Por isso ilumina a realidade como o sol, o universo. (BUZZI, 1992, p. 15)
A partir de então, o homem, sendo ser que convive com seus semelhantes, estabelece relações simétricas com eles, iniciando daí a vida em sociedade, marcada por relações pessoais e funcionais mútuas entre seus membros, superação e comunicação. O homem, vivendo em uma sociedade organizada, conhece-se, cuida de si próprio (distinguindo suas propriedades), vive em simetria com seu próximo, cuida da natureza – da qual depende em toda a sua vida –, utiliza das coisas e é, inclusive, livre para relacionar-se com o transcendental (divino).
Contudo, algo muito importante e básico foi primordial para que toda essa cadeia se interligasse corretamente e chegasse ao resultado que foi mencionado. E isso é a linguagem. Exclusiva ao homem, sem ela, de fato, seria impossível que se transmitisse qualquer tipo de conhecimento adquirido às gerações posteriores. Seria também inviável que o homem cultivasse qualquer curiosidade sobre si mesmo, sobre o mundo em que vive e sua presença nele – tornando-o assim um ser como qualquer outro que, mesmo estando no mundo, não “é” no mundo. Isso faria com que nem mesmo o mundo “existisse”, uma vez que ninguém o nomearia, como veremos adiante.
Sem a linguagem, evidentemente, o homem não conseguiria manter qualquer tipo de relacionamento simétrico com seus semelhantes (de sua mesma espécie), ou seja, nunca formaria uma sociedade na qual estabelecesse relações, passando a viver tal como os animais, que, tão somente por instinto de sobrevivência e reprodução, formam bandos para viverem amparados uns pelos outros.
Não vivemos, pois, estupidamente no imediato das coisas, à maneira animal, sem qualquer sentido. Estamos no logos, isto é, no fogo da linguagem, que nos dá o poder de criar um mundo de símbolos, inacessível ao animal. Vivemos tudo no traspasse, na persuasão, no lance arriscado e na luta das palavras, nos dentros de sua sedução, na ardência de seu sentido. (BUZZI, 1992, p. 238)
Assim, devido à linguagem, o homem não somente “está” no mundo (como uma pedra), nem mesmo “está e vive” no mundo (como um animal), mas o homem, por sua capacidade de linguagem, “é” no mundo, e tem a capacidade de continuamente formá-lo, ou seja, nomeá-lo, criando suas próprias regras.
Muito interessantes e dignos de nota, aqui, são os escritos tidos por sagrados pelos seguidores tanto do judaísmo, quanto do cristianismo. Logo no primeiro livro, o gênesis (na Torah, para os judeus e na Bíblia, para os cristãos), após Deus formar o mundo e após tudo, criar o homem, Ele pede a esse que nomeie os outros animais e também a mulher. Isso tem uma significação incrivelmente grande, não somente no âmbito religioso, mas, principalmente por tratar diretamente do assunto que desenvolvemos nesse breve estudo. O homem, somente depois de tomar consciência de si e de ter uma linguagem que o permite comunicar-se com Deus e com as demais obras da “criação”, pode nomeá-las (“formando-as”); e é ele que o deve fazer, por si só, inevitavelmente.
2 Linguagem no Crátilo, de Platão
Em seu diálogo “Crátilo”, Platão (por meio dos personagens Sócrates, Hermógenes e Crátilo) muito apresenta sobre seu pensamento – tentando responder a algumas das dúvidas presentes à época – a respeito da Linguagem. Basicamente, ao longo do diálogo, Sócrates tenta discernir entre as teses opostas de Crátilo, que pensava ser o nome algo “natural”, e de Hermógenes, para o qual os nomes têm uma origem convencional.
Platão investiga, em sua obra, dentre outras coisas, se os nomes seriam ou não uma derivação de outros nomes – chegando-se até a um “nome primitivo, dado por um “normatizador” – e se eles chegaram até nós por meio da união de vogais e consoantes, unindo as diversas funções que o objeto a ser descrevido possui (por exemplo, a letra “r” tem um som que identifica movimento, o “l” indica leveza, a vogal “o” representa completude etc). Mas alguns outros conceitos são descritos na obra e é de grande importância destaca-los aqui.
Logo no início do texto, Sócrates argumenta a favor de o “falar” não ser uma possibilidade individual de cada pessoa, ou seja, cada um diz (e nomeia) aquilo que quer e da maneira como bem entende. Para Platão, nomear, assim como qualquer outra ação, deve ser feita não segundo a opinião de todos, nem mesmo segundo critérios individuais, mas segundo a forma correta, a que respeita a natureza do falar.
Logo, caso se almeje confirmar o que foi dito antes, convém nomear, não como quisermos, mas sim seguindo a natureza de como nomear e com o que devem ser nomeadas as coisas. (PLATÃO, 2014, 387.d.1 – 387.d.5)
Da mesma maneira como qualquer ação necessita de um instrumento, o nome o é para o “nomear”. Contudo, em geral, todo instrumento de trabalho utilizado por um profissional, não é produzido por ele próprio (não é o músico que faz a flauta, por exemplo). Da mesma maneira, o “falante” não é aquele que produz o nome; ele vem-nos da “normatização”, feita por alguém que adquiriu uma técnica para tal atividade, usando-a com muita sabedoria.
De toda maneira, somente a pessoa que utiliza do instrumento é capaz de avaliar se ele é bom ou ruim. Dessa forma, é ele quem deve tomar consciência da produção e questioná-la, por meio da “dialética”, ou seja, dialogando com os demais “elos” dessa cadeia. Assim, Sócrates diz, no diálogo, que “parece que, no caso do normatizador, seria um nome, e sob a conscientização do dialético, se ele almeja que os nomes sejam colocados com charme” (PLATÃO, 2014, 390.d.1).
Para Platão, o nome adquire uma importância crucial: ele identifica a natureza de algo. Isto é, se algo é da descendência do “bom” e o é semelhante, ele também deve ser nomeado assim. Da mesma forma, algo que destoa da naturalidade de seu antecedente, deve ter seu sentido contrário.
Em Crátilo, Sócrates propõe, analisa e explica a raiz etimológica de diversos nomes e termos da cultura grega, inclusive de alguns deuses. Um exemplo disso é a análise do nome “humano”:
O nome “humano” assinala que, apesar de muitos outros animais possuírem a visão, nenhum deles averígua, avalia ou ruma seu olhar para cima. Já os humanos, enquanto veem, além de avaliar o que viram, rumam seu olhar para cima. Por conseguinte, um humano, sendo o único dos animais que vê rumando o olhar para cima, é corretamente nomeado de humano. (PLATÃO, 2014, 399.c.1 – 399.c.5)
Ao final, Sócrates fica no “meio-termo” entre a argumentação de Crátilo e a de Hermógenes: chega à conclusão de que o nome tem, verdadeiramente, uma característica estável que é extremamente necessária, uma vez que ele é necessário para denominar as coisas e o contrário faria com que uma grande desordem acontecesse dentro de uma certa linguagem. Contudo, o mais importante não é a análise propriamente do nome (que é limitado, uma vez que chega um momento em que não pode-se mais explicar claramente sua origem e derivação), mas sim a análise da coisa a que ele se refere.
Porém, qualquer humano, pleno de intelecto, não vai se apoiar nos nomes para cuidar de si ou da sua alma. Não vai confiar neles, ou naqueles que os colocaram, para reforçar uma especificação nem reconhecer em si, ou entre o seres, que ninguém está mais saudável que ninguém já que tudo está numa correnteza dentro de um pote. (PLATÃO, 2014, 440.c.1 – 440.c.5)
Aqui, podemos perceber o grande diferencial na argumentação de Sócrates. Se tomado ao pé da letra, o início de sua explanação poderia nos levar a pensar que, já que os nomes que temos e usamos nos dias de hoje são advindos do pensamento de nossos “antepassados”, utilizar da linguagem nos moldes atuais, de forma mecânica, faria de nós apenas repetidores e nunca “pensadores” daquilo que tentamos comunicar por meio de nossas palavras.
Contudo, o nome não é mais importante que aquilo que ele define. Logo, a linguagem expressa, sem dúvidas, a forma de pensar de um povo, uma vez que representa aquilo que é maior que ela mesma, o pensamento.
Outra importante observação a ser feita é o interesse de Platão em, por meio de Sócrates, no Crátilo, desmascarar a tendência que era corrente de que, se fosse pesquisada a origem das palavras, se chegaria a uma forma primitiva que representasse o valor real dessa palavra, isto é, a palavra indicaria exatamente a função do objeto que ela nomeava (uma função “onomatopeica”).
A descrição, feita por Platão, da teoria de que toda linguagem se origina da imitação dos sons acaba em grotesca caricatura. Não obstante, a tese onomatopeica prevaleceu por muitos séculos. Nem desapareceu por completo da literatura recente, embora já não se apresente nas mesmas formas ingênuas com que aparece no Crátilo. (CASSIRER, 1972, p. 180-181
3 Pensamento e linguagem
Como percebido, a questão a respeito da linguagem, de sua origem e de suas implicações para a vida do homem é bastante antiga. Inclusive, pode-se dizer que a própria história do homem “pensante” coincide com a história de sua linguagem.
No início da civilização, segundo Ernst Cassirer, mito e linguagem caminhavam juntamente. Após a transição do mito ao logos propriamente dito, isto é, a “frustração” na natureza mágica da palavra para um caráter de realidade, a palavra passa a adquirir um caráter lógico de extrema relevância até os dias atuais (CASSIRER, 1972, p. 175-178).
Não há pensamento que não seja devidamente demonstrado por meio da linguagem. Ela é, verdadeiramente, a expressão da razão (logos) humana e, por isso, distingue-a das demais realidades presentes no mundo. A partir da linguagem, o homem adquire a capacidade de “criar”, à medida que pensa, dialoga, toma decisões…
Só o homem fala; só ele é vida que está na linguagem (zoòn lógon échon). Só ele está no mágico poder de usar a linguagem; de interpretar e recolher os entes, caídos no chão como frutos de árvore, para junto de sua companhia; de chamá-los pelo nome, de conhece-los e vivê-los no rasgo de uma iluminação “que vai rompendo rumo”. (BUZZI, 1992, p. 235)
A partir da evolução do pensamento, a linguagem foi cada vez mais desempenhando um papel de destaque nas civilizações antigas. Estava diretamente relacionada à sophia (sabedoria) e sem ela era impossível que o homem exercesse funções principais em seu quotidiano.
Na vida ateniense do século quinto, a linguagem se tornara instrumento para propósitos práticos definidos e concretos, sendo a mais poderosa das armas nas grandes lutas políticas. Sem ela ninguém poderia esperar desempenhar um papel importante. Era de vital importância seu emprego correto, aprimorando-a e aguçando-a continuamente. (CASSIRER, 1972, p. 182)
Mas antes disso, a linguagem já existia e desempenhava em todas as sociedades (uma vez que se desconhece alguma que porventura não a utilizasse) sua grande influência. Surge daqui, um importante e, até onde parece, “indecifrável” problema: onde e como surgiu a primeira forma de linguagem?
Ao longo da história, essa pergunta sempre gerou muita curiosidade não somente da parte de estudiosos, mas também da de grande parte das pessoas. Narrações mitológicas, que envolviam muitas das vezes a presença do transcendente, que “dá” ao homem a linguagem que, a partir daí, se desenvolve, influenciaram o pensamento de muitas gerações sobre essa questão. Um claro exemplo disso é a narração bíblica da Torre de Babel, onde Deus “confunde” a língua daqueles que queriam se assemelhar a Ele, dando início, pois, à divisão entre as línguas (que, na realidade, reflete também a divisão entre culturas e modos de pensar, que nunca mais seriam equivalentes entre povos da Terra). Toda essa tendência, entretanto, não trouxe ao homem moderno grandes novidades e foi “afastada” desse debate, uma vez que nem de longe esbarra em algo que se pareça com os primórdios da linguagem.
Após grande dificuldade, pois, em definir algo sobre o início e o desenvolvimento da linguagem de forma clara, foi somente após o evolucionismo de Charles Darwin que ganhou força uma teoria chamada de “interjeicional”. A linguagem humana, após o pensamento darwiniano ganhava um caráter de certa forma natural, herdado de nossos antepassados, partindo da interjeição (primeiros sons que caracterizam emoções, sensações etc) à fala.
Não obstante, seu método geral era facilmente aplicável aos fenômenos linguísticos e, até neste campo, parecia abrir um caminho ainda inexplorado. Em The Expression of the Emotions in Man and Animals, Darwin mostrara que sons ou atos expressivos são ditados por certas necessidades e usados de acordo com regras biológicas definidas. Visto deste ângulo, o velho quebra-cabeça da linguagem poderia ser tratado de maneira rigorosamente empírica e científica. (CASSIRER, 1972, p. 184)
A teoria de Darwin, contudo, também passa longe de responder plenamente a esse anseio. Ela esbarra em questões como a dúvida quanto a ter existido, de fato, um “estado humano” em que ele utilizava apenas a linguagem intejeicional, além de nunca ter sido observado nada parecido a um animal esboçar qualquer possibilidade de sair desse estado para um estado “emocional”.
Avançou um pouco nessa questão, o pensamento proposto por Otto Jespersen, que dizia ser a linguagem derivada tão somente de sons e ruídos primordiais que nada significavam, chegando ao passo que conhecemos hoje: “Segundo Jespersen, a linguagem surgiu quando a ‘comunicabilidade prevaleceu sobre a exclamação’” (CASSIRER, 1972, p. 187). Ainda assim, essa e outras teorias posteriores que com ela concordam – algumas inclusive entrando no campo da genética –, não explicam o “vazio” presente entre a emissão do som e a elaboração da palavra, propriamente dita.
A busca por um início comum da linguagem a todos os povos pode ser encarada – e de fato deve ser – como um “beco sem saída”, a exemplo da conclusão tirada por Sócrates no Crátilo, de Platão. Dificilmente chegaremos ao ponto de perceber o local, a data e a própria constituição da “primeira linguagem”, se é que ela realmente existiu. O que parece, de fato, é que a linguagem, nos moldes como a conhecemos hoje, é um emaranhado de inúmeras influências, dos mais diversos povos existentes (e também dos já ausentes) do mundo.
A busca por uma língua, dentre as que são faladas atualmente, que porventura seja aquela que apresente mais características de naturalidade, desempenhando o papel “primeiro” da linguagem, é uma perda de tempo. Até mesmo as línguas tidas como simples, daqueles povos que menos se desenvolveram economicamente, possuem uma complexidade enorme.
Não conhecemos língua nenhuma desprovida de elementos formais ou estruturais, se bem que a expressão das relações formais, como a diferença entre sujeito e objeto, entre atributo e predicado, varie amplamente de língua para língua. Sem forma, a língua assume a aparência não só de uma construção histórica altamente contestável, mas também de um conceito que se contradiz a si mesmo. As línguas das nações menos civilizadas não são, de maneira alguma, informes; ao contrário, exibem, na maioria dos casos, estrutura complicadíssima. (CASSIRER, 1972, p. 204-205)
O que parece certo é que foi atrelada ao pensamento que a linguagem se desenvolveu. Independentemente do lugar, da data e de sua “forma primordial”, foi a partir do momento em que surgiu no homem a característica que tanto o diferencia das outras espécies (pensar, logo, conhecer-se e saber de sua existência no mundo), que o homem teve necessidade também de se comunicar para se relacionar com seus semelhantes, nomeando as demais coisas e delas fazendo uso. Aqui surgiu a linguagem.
CONCLUSÃO
Após a análise da filosofia contida na obra Crátilo, de Platão, bem como a comparação dela aos pensamentos de outros estudiosos, como Darwin, fica bem evidente a dificuldade da busca por uma reposta definitiva com relação à origem e ao desenvolvimento da linguagem (de uma forma primordial a uma estrutura mais parecida com o que hoje conhecemos como linguagem). Tanto a teoria do evolucionismo de Darwin (ligado à linguagem) e as de pensadores posteriores a ele, quanto a tentativa de Platão de chegar a um princípio “normatizador” esbarram no vácuo que separa o momento entre a utilização de sons primitivos (ruídos, expressões meramente “animais”) e o início da utilização da linguagem, propriamente dita. Elas explicam – e convencem a respeito disto – a evolução de uma linguagem a partir de modificações em outras, mas param por aí.
É difícil até mesmo esperar que um dia alguém chegue a essa resposta com clareza, à exemplo das discussões sobre a comprovação “empírica” da origem do mundo. Há consenso apenas em uma linha (que, na realidade é a principal): a importância da linguagem como crucial para, a partir do conhecimento de si mesmo, o homem construir, junto com os seus, a sociedade em que vive, relacionando-se com as demais coisas presentes no mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PLATÃO. Crátilo: ou sobre a correção dos nomes. Tradução de Celso de Oliveira Vieira. São Paulo: Paulus, 2014.
BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento, a linguagem. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.
CASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica: ensaio sobre o homem. Tradução de Vicente Felix de Queiroz. São Paulo: Mestre Jou, 1972.
* Bacharelando em Filosofia pela FAM.