José Mário Santana Barbosa*

Resumo: Por meio deste estudo, pretende-se apresentar o enredo da obra Epinomis, diálogo que aparece ao final da obra As Leis, de Platão. A grande questão da obra é: o que é preciso para se tornar um sábio? Assim, além de serem apresentadas as hipóteses do autor, serão analisadas, aqui, as razões expostas para que ele chegasse ao resultado final – o conhecimento da astronomia –, bem como as relações que esse pensamento estabelece com o conhecimento que temos na atualidade sobre Platão e os conceitos utilizados por ele e seus seguidores, tais como logos, alma, cosmos e sabedoria.

Palavras-chave: Epinomis. Platão. Sabedoria. Logos. Alma.

 

INTRODUÇÃO

 

A sabedoria sempre foi (e será) alvo de interesse daqueles que despertaram para a curiosidade de saber a origem, o real funcionamento e o objetivo de cada coisa criada. E não o foi diferente com Platão e sua escola filosófica. A partir de um diálogo entre Clínias e um estrangeiro ateniense, o autor de Epinomis retoma de forma clara e exortativa a ideia da sabedoria e indica o caminho para se chegar até ela.

A obra inicia perpassando a noção de número, cujo conhecimento, segundo o autor, é obrigatório para se chegar à sabedoria, uma vez que todas as outras ciências sendo específicas, são também limitadas. Mais do que um mero aprendizado numérico, isso significa um apelo ao uso da razão (logos), por meio do discurso e da argumentação, como forma de se chegar ao mais pleno saber.

Após isso, são caracterizados conceitos principais para Platão, como a presença no universo de corpos primordiais (terra, fogo, éter, ar e água); alma (primordial ao corpo, dotada de movimentos imutáveis e circulares); e cosmos (a presença de todo esse ordenamento exemplificada pelos movimentos dos astros). Tudo isso tem como objetivo o alcance da verdadeira sabedoria, que só será encontrada quando o homem a buscar onde ela superabunda: em deus e na sua criação mais perfeita, os astros.

 

1 Considerações iniciais

 

Epinomis (“aquele que vem após as leis”), ou O Filósofo, é uma obra classificada como “contestada”, uma vez que é considerada por alguns como um diálogo autêntico, a última grande obra de Platão – o décimo terceiro livro das Leis –, e por outros (a maioria) como um diálogo apócrifo (WATANABE, 1996, p. 51), sendo possivelmente de autoria de um de seus discípulos, Fílipos de Opus (LAÉRCIO, 2008, p. 94). Portanto, foi quase sempre ligado às Leis que esse diálogo chegou até nós, o que possibilitou uma possível e evidente interpretação de ser Platão o autor da obra. Os personagens presentes no discurso são Clínias de Creta, o estrangeiro de Atenas e Megilo de Lacedemônia (que não pronuncia sequer uma palavra, em toda a obra).

A obra inicia com um diálogo entre Clínias e o ateniense, estando o primeiro interessado em discernir o que é mais importante que um homem aprenda para se tornar um sábio, preocupado em uma resposta universalmente verdadeira. Desesperançoso, o ateniense acredita, contudo, não ser possível que as pessoas alcancem a felicidade, na grande maioria dos casos, devido às próprias finitude e limitação humanas; logo, também tornar-se sábio não é uma opção encontrada em todos, especialmente naqueles que possuem algum conhecimento especializado.

A partir de então são analisadas algumas das ciências que não conduzem ninguém à sabedoria, tendo em vista seu caráter específico – são muito úteis à sociedade, mas não são consideráveis no que diz respeito à virtude –, para buscar-se alguma que não o seja, e aprendê-la. São elas: o conhecimento do comportamento dos animais, o conhecimento e a produção de alimentos, o cultivo da terra, a construção, a carpintaria, o artesanato, a caça, a interpretação de oráculos, as artes em geral (em especial a tragédia), a guerra, a medicina e a navegação. Além delas, a ciência da defesa em processos devido à habilidade discursiva (sofística) e até mesmo a “inteligência” (caracterizada por fácil aprendizado, boa memória e facilidade de síntese, em linhas gerais) não tornam seu possuidor sábio.

Nenhuma delas, mesmo se fosse totalmente aprendida, conduziria alguém à sabedoria; e o autor indica qual poderia ser o “esboço” dessa ciência: o conhecimento do número.

De todas as ciências atualmente existentes, qual delas – se desaparecesse completamente do âmbito da raça humana ou não tivesse sido desenvolvida – faria do ser humano o mais estulto e estúpido dos seres vivos? A rigor, não é nem um pouco difícil identificá-la. Se compararmos, por assim dizer, uma ciência com a outra, perceberemos que aquela que concedeu o dom do número produziria aquele efeito sobre toda a raça dos mortais. (PLATÃO, s.d., p. 519)

 

2 Logos

 

Com desejo de seguir essa ideia – o número –, o ateniense identifica no Céu (deus e físico) o lugar onde procurar a sabedoria, estando este em profunda relação com o primeiro, sendo fonte de inteligência e de tudo o que é bom. Com número, o autor de Epinomis deseja indicar o uso do discurso racional, isto é, do logos, para alcançar a virtude. Sem ele, todas as artes ditas anteriormente são excluídas.

Porém, enquanto nada o impede de deter o resto da virtude – coragem e temperança – ninguém que seja destituído da capacidade do verdadeiro discurso [racional] se tornará jamais sábio, e todo aquele a quem falte sabedoria, que é a parte maior da virtude, não poderá jamais tornar-se inteiramente bom ou, consequentemente, feliz. (PLATÃO, s.d., p. 520)

Prossegue-se, a partir daqui, com a análise do número. De fato, como conseguir entender essa importância tão grande, superior às demais artes? O número, na verdade, está presente em tudo o que é belo e ordenado, em contraste com tudo o que é irracional, desordenado, carecendo de número (mal). O número é-nos mostrado pela “divindade” primeiramente pelo céu – por meio de seus corpos celestes –, que o ensina incessantemente a nós. Como exemplo, temos o ciclo regular da Lua, possível de ser entendido por todos nós.

Graças a estes eventos celestiais temos colheitas, a terra gera alimentos para todos os seres vivos e os ventos que sopram e as chuvas que caem não são violentos e imoderados; se, contrariando a isto, algum desses fenômenos trouxer consigo o mal, não é a divindade que deveremos censurar, mas sim os seres humanos por não ordenarem corretamente suas próprias vidas. (PLATÃO, s.d., p. 522)

Em Platão, logos adquire sentidos bastante marcantes. Primeiramente, o termo define a expressão do pensamento, isto é, emitir “com sons” aquilo que se pensa, ato complementar à “fala interior”, o próprio pensamento (dianoia). Além do mais, em sua obra o conceito logos didonai é muito verificado, definindo um estado de “prestação de contas” inicialmente feito da parte de um funcionário para seu patrão, mas muito presente no discurso de Platão, principalmente na pessoa de Sócrates que, por meio da indagação e da refutação que fazia a seus “opositores” em um debate, buscava leva-los à virtude (areté) (SCHÄFER, 2012, p. 203).

Para Platão, como presente em algumas de suas obras, o logos é, especialmente, a confirmação, por meio do discurso, de um pensamento interior, sendo que este só se justifica por meio daquele. Esse discurso deve ser, ele inteiro, coerente e verdadeiro, para se poder a partir da justificação dos argumentos utilizados, apoiar-se a conclusão.

É exatamente isso que se percebe em Epinomis. Apoiado em argumentos consideravelmente simples, mas devidamente embasados, tais como a inegável imutabilidade do movimento dos astros, bem como a presença do número em sua rota perfeita, o autor da obra deseja mostrar-nos a virtude do conhecimento por meio da racionalidade – e do discurso –, ponto crucial e principal para aquele que deseja se tornar verdadeiramente sábio.

 

3 Alma

 

Anteriormente (como consta no livro As Leis), os participantes do diálogo já haviam chegado à conclusão de que a alma é mais velha e mais digna que o corpo, uma vez que o que conduz é mais velho que o que é conduzido. De seres vivos (“associação” entre alma e corpo), o estrangeiro de Atenas destaca cinco corpos “primordiais”: fogo, água, ar, terra e éter. Esses elementos constituem, juntos, todas as espécies – visíveis ou não – que habitam o mundo; contudo, alguns elementos se encontram em maiores proporções em determinados seres, determinando sua “função principal”, o que os difere dos demais (GOCHEVA, p. 11, [200-?]). Inicia-se, pois, o estudo do elemento terrestre, a terra (reinos animal e vegetal). Esse inclui todos os seres vivos (dentre eles, os humanos), os quais têm como composição majoritária a terra na sua natureza sólida.

O fogo é o elemento que constitui os “astros divinos”, “incorruptíveis, imortais e com plena e absoluta necessidade divinos, ou cada um conta com uma existência de tal longevidade que possivelmente jamais exigiriam que fosse mais extensa” (PLATÃO, s.d., p. 526).

Consideremos, portanto, primeiramente que esses seres, que o reiteremos, são de duas espécies: uma e outra visíveis, uma de fogo, a julgá-lo externamente na sua inteireza; a outra, de terra, a espécie terrestre movendo-se em desordem, e a espécie ígnea, ao contrário, movendo-se em perfeita ordem. Ora, aquela que se move desordenadamente – que constitui, na maior parte, os seres de nossa Terra – é imperioso que a consideremos como destituída de inteligência; aquela que segue sua rota ordenadamente no céu, por isso mesmo, propicia uma forte prova de sua inteligência, pois seguir sempre exatamente a mesma via, agir ou sofrer de modo idêntico basta para manifestar uma vida inteligente. (PLATÃO, s.d., p. 526)

Portanto, para o autor de Epinomis, a sabedoria dos astros reside no fato de eles repetirem continuamente os mesmos movimentos desde sempre, ao invés de serem “errantes”. Isso é bastante contrário a uma ideia vigente naquela época até os dias de hoje, que diz que os seres que sempre produzem o mesmo movimento, são destituídos de alma: “E a multidão tem seguido os insensatos, ao ponto de ter o humano como inteligente e vivo porque se move e o divino como privado de inteligência porque permanece nas mesmas órbitas.” (PLATÃO, s.d., p. 527). Dessa maneira, fica evidente, para o autor, a presença de alma nos astros.

a menos que uma alma estivesse ligada a cada um deles ou mesmo dentro de cada um deles, a terra, o céu, todos os astros e todas as massas deles formadas não poderiam executar com precisão seus movimentos anuais, mensais e diários, convertendo tudo que se produz em bens para nós. (PLATÃO, s.d., p. 527-528)

Além das duas espécies visíveis, terra (mortal) e fogo (imortal), são agora apresentadas as outras três “intermediárias”: éter (de cuja estrutura a alma utiliza para “confeccionar” seres vivos); ar; e água (composto principal de alguns “semideuses”). Além do mais, o céu é povoado por seres vivos que comunicam-se entre si, divididos por cinco espécies, começando com os deuses visíveis e terminando com o homem. Após os deuses visíveis, estão os demônios (dáimons), compostos de ar e éter, que, no sentido platônico, não têm uma definição “negativa”; ao contrário, possuem a mesma “importância” que os deuses, sendo guias e protetores da alma do homem, intermediando entre este e aqueles.

Alma (ou psyché) segundo o conceito platônico é a ligação entre o divino e o “mortal”, é algo que se move por si mesma – em movimento imutavelmente correto e circular – e move os demais corpos. A alma é, indubitavelmente para Platão, anterior e superior ao corpo, uma vez que “o que move” é mais importante que o “movido”, sendo assim, imutável e imortal.

Assim, é a alma a única capaz de produzir, por si mesma, movimentos inteligíveis, tais como percepções, conhecimentos, saber, opiniões, vontade, prazer. Isso ocorre devido a ser a alma a “utilitária” dos corpos por ela animados, tidos como “receptáculos” de sua ação. Além disso, na morte a alma se separa do corpo, que assume integralmente sua condição orgânica determinada – a desintegração – e esta vive para sempre (SCHÄFER, 2012, p. 36).

Há, portanto, na obra de Platão e de seus seguidores – inclusive em Epinomis – um claro objetivo de levar-se à contemplação do divino, por meio da comparação com a própria essência humana (ser corpo, isto é, matéria e alma). Daqui depreende-se que a alma do mundo é perfeita, indivisível e condutora dos demais corpos, entre eles os astros. E essa alma é indiscutivelmente boa – o que se comprova por seus movimentos ordenados e perfeitamente numéricos –, em detrimento de uma possível má que possa existir no mundo.

O material misturado dessa maneira é moldado, num processo adicional, por meio de complicadas proporções matemáticas ou geométricas e dividido em diferentes partes, de modo que a alma do mundo assim moldada é um produto complexo, cujas partes individuais são ligadas entre si por regras matematicamente descritíveis. (SCHÄFER, 2012, p. 40-41)

 

4 Cosmos

 

Próximo ao final do discurso, de maneira bastante descritiva, o ateniense passa, após a descrição das espécies, a explicitar as oito potências irmãs (pois trabalham “em conjunto”) que povoam o céu: Sol, Lua e astros (já citados); Vênus, Mercúrio, Saturno, Júpiter e Marte. Platão ainda critica os filósofos pré-socráticos, que acreditavam ser o corpo, a matéria primordial à alma.

Agora mostra-se bastante plausível que quando os seres humanos pensaram pela primeira vez como os deuses vieram a ser e no que se assemelhavam, e que feitos realizaram uma vez vindos a ser, o que disseram não se revelou aceitável ou agradável às pessoas sensatas, como tampouco se revelaram as narrativas posteriores, nas quais o fogo, a água e os outros corpos foram considerados mais velhos, e a alma admirável, mais nova (PLATÃO, s.d., p. 534).

Associado à cosmologia, o conceito cosmos (ou ordem) tem uma grande importância e influenciou muito a Platão e seus discípulos. Contudo, não apenas relacionado a esse sentido, cosmos abrange, além dele, duas outras esferas de pensamento: a psicologia e a filosofia política, estando as três estritamente inter-relacionadas, no que diz respeito a princípios de ordem amplos que “regem” tanto o universo, quanto a alma do homem e a constituição sócio-política do Estado (SCHÄFER, 2012, p. 231). No sentido cosmológico, assume aqui grande importância o conceito de harmonia. De fato, algo ordenado, para Platão, era algo harmônico, que respeitava a ciclos contínuos e imutáveis, rotinas fixas e regulares, a exemplo da constituição dos astros no universo, como explicitado na obra Epinomis.

Um importante pressuposto para a concepção platônica de ordem parece consistir na cosmologia e especialmente na astronomia. O ponto decisivo aí é que os movimentos dos corpos celestes transcorrem de modo regular, uniforme e – pelo menos no caso das estrelas fixas – idealmente circular. […] A alta regularidade dos movimentos celestes e sua precisa descritibilidade com os meios sutis da matemática provocaram nos expertos da astronomia, segundo Platão, uma forma cientificamente refletida de religiosidade (SCHÄFER, 2012, p. 232).

De fato, é essa a recomendação que Platão faz ao homem que deseja ser sábio em diversos de seus escritos, com na República: imitar aquilo que é ordenado (SCHÄFER, 2012, p. 232), isto é os astros do universo, que, segundo Platão, são manifesto claro da criação de deus (o demiurgo) que, perfeito como é, quer que tudo seja semelhante a ele.

Faz todo sentido, pois, o autor de Epinomis ter feito tanta questão de demonstrar a circularidade e a perfeição dos movimentos do Universo e usar deles para chegar finalmente a deus. Sim, pois por meio da observação e do conhecimento daquilo que é mais ordenado e imutável no mundo visível (os astros em seus movimentos), pode-se compreender com mais clareza as ideias de harmonia e perfeição, que devem ser buscadas sempre por aqueles que desejam ser conhecedores da verdadeira sabedoria.

 

5 Sabedoria

 

A grande revelação, pois, de qual ciência seria primordial que todos aprendessem para, a partir de suas lições, reverenciar aos deuses e se tornar sábio vem em seguida: a astronomia, mas não aquela marcada simplesmente pela observação do movimento dos astros, mas sim aquela que tem a capacidade de, a partir deles, prever novos acontecimentos, a partir dos anteriores. E é por meio do estudo dos números (matemática, geometrias) que se habitua alguém – que já tenha uma natureza própria “favorável” à compreensão – ao aprendizado e torna-o verdadeiramente sábio.

Precisamos, inclusive, deter um conhecimento apurado da exatidão do tempo, captar como ele cumpre com precisão todos os fenômenos celestes. Se o fizermos, então todos que creem na verdade de nosso raciocínio segundo o qual a alma é a uma vez mais velha e mais divina que o corpo deverão reconhecer que o adágio tudo está repleto de deuses é cabalmente correto e suficiente e, ademais, que nunca somos negligenciados devido ao esquecimento ou incúria dos seres que nos são superiores. (PLATÃO, s.d., p. 538)

Mais do que apenas conhecimento ou habilidade (tecné) para uma ciência específica – como era corrente no pensamento à época –, sabedoria (ou sophia) para Platão é o ato de “desmascarar” o saber superficial tido por muitos como universal, por meio da dialética e da maiêutica (para fazer nascer novas ideias e revelar as “caducas”). Além disso, no pensamento platônico a sophia conduz o sábio à contemplação do visível, do inteligível, levando-o a uma perfeita ordenação da alma, uma vez que somente deus possui o pensamento perfeito, o que impulsiona o homem a buscar vencer sua ignorância. Dessa maneira, o homem passa a ser verdadeiramente filósofo (“amigo do saber”).

Incerto sobre o sentido exato do oráculo proferido pelo Apolo délfico de que ele era o mais sábio entre os homens, Sócrates começou a examinar a sophia de seus próximos (Apol. 20e-21e, 23a-c). Com efeito, esse processo revelou a superioridade da sophia socrática em relação às pessoas examinadas, pois, por causa de sua incontestável competência numa área técnica particular, elas se deixaram induzir à ideia de que tinham sabedoria em todos os outros assuntos (Apol. 22d-e). Mas, de fato, essa sabedoria humana, que se pauta pelo domínio sobre a vida prática, é insignificante em comparação com a sabedoria de Deus (Apol. 23a; Teet. 176c-d) (SCHÄFER, 2012, p. 284).

O autor conclui a obra, portanto, indicando o “caminho certo”, o método para se buscar a compreensão verdadeira do homem, e a forma de se alcançar finalmente a sabedoria. Ele é o número, por meio, principalmente, da evolução dos astros, uma vez que eles representam claramente a perfeição de deus e a imutabilidade e perfeição de sua virtude. Dessa maneira, o autor retoma e justifica sua posição inicial de que exceto em alguns poucos casos, o homem é incapaz de conquistar plenamente a felicidade. De fato, “somente aqueles que […] abarcaram todas as matérias vinculadas à ciência abençoada (e indicamos quais são elas) conquistaram e detêm todos os dons da divindade na devida medida” (PLATÃO, s.d., 539). Essas pessoas devem assumir os cargos mais importantes e levar também as demais a esse conhecimento.

 

CONCLUSÃO

 

Ao final da análise de Epinomis, alguns termos e conceitos de Platão podem ser percebidos no texto e analisados de forma mais dinâmica. De fato, o autor da obra, ao indicar o caminho para que seus discípulos alcançassem a sabedoria, indicava muito mais do que um mero conhecimento – superficial e limitado – de uma ciência independente, no caso, a astronomia, mesmo que ela tenha sido indicada como um conhecimento obrigatório para tal. Mais do que isso, a obra indica de maneira muito clara uma tendência presente no pensamento platônico:  a de querer justificar os acontecimentos presentes no mundo, por meio de uma ideia transcendental, divina.

Assim, é-nos mostrada, em toda a sua perfeição, o complexo e perfeito sistema do cosmos, dotado de astros possuidores, sem dúvida alguma, de uma alma divina que os ordena e à qual devemos nos espelhar para também embasarmos nossas ações. Nessa obra, o autor, também faz uma analogia entre o número e a razão (logos). Assim, da mesma maneira como os astros seguem uma “rotina” fixa, uma vez que repetem seus movimentos a cada novo ciclo, também a vida humana deve marcada por uma linearidade. Dessa maneira, o sábio não é apenas aquele que conhece a astronomia e os números, mas também aquele que sabe pautar todas as suas atitudes em reflexões racionais, uma vez que o “bem maior”, que é deus, é imutável e perfeito.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

GOCHEVA, Dimka. Understanding the five bodies in the Epinomis. [200-?]. Disponível em: <https://aaduce.files.wordpress.com/2012/12/epindimka_1_-tekst.pdf>. Acesso em 22 maio 2016.

LAÉRCIO, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução de Mário da Gama Kury. 2. ed. Brasília: UnB, 2008.

PLATÃO. As Leis. Biblioteca da UEFS. 2010. Disponível em: <http://www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/platao_24.pdf>. Acesso em: 22 maio 2016.

SCHÄFER, Christian. Léxico de Platão. Tradução de Milton Camargo Mota. São Paulo: Edições Loyola, 2012.

WATANABE, Lygia Araujo. Platão: por mitos e hipóteses. São Paulo: Editora Moderna, 1996.

 

* Bacharelando em Filosofia pela FAM.

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