Geraldo Felício da Trindade
Jean-Paul Sartre é um dos filósofos mais importantes da corrente existencialista. Pode-se ver em seu pensamento a angústia do homem moderno, em especial, daquele homem pós-guerra. Ele se atreveu a pensar essa realidade existencial que corresponde à visão de um homem sem fé, sem família, sem amigos e sem finalidade na vida.
Partir-se-á sob a temática da liberdade perpassando o pensamento sartreano e deter-se-á também às visões e percepções deste tema na contemporaneidade.
Sartre analisa de primeiro a consciência, que não é reflexiva, mas que acompanha todo o conhecimento, por exemplo, quando se conta balas, tem-se consciência de contá-las, isto é, o seu conteúdo é o objeto.
A concepção existencialista de homem para Sartre está intimamente ligada a este fundamento. Primeiramente, o homem existe e com o passar do tempo se descobre, passando a se perceber como criador de sua própria história e somente mais tarde é que se define. Passa, então, a ter consciência de si, além de tornar-se um aglomerado de projetos, cuja soma é o homem.
O homem concebido por Sartre tem uma dignidade imensa e por isso é capaz de se lançar e buscar.
A existência do homem é uma condição para ele construir-se como homem, pois sua realidade humana consiste no hoje que determina realizar. Por isso, o homem é responsável por si próprio, não no sentido individualista e intimista, mas responsável por todo os homens.
O subjetivismo no sentido existencialista é o homem que escolhe a si próprio e ao mesmo tempo todos os homens. Nesta escolha, o homem escolhe somente o bem e nada pode ser bom para um indivíduo se não for para todos. Assim, a escolha envolve toda a humanidade. Relacionando com a atualidade, mesmo que as escolhas sejam subjetivistas elas terão repercussão no todo. Daí , pode-se pensar hoje a preocupação com uma ação global em favor da vida, da paz e da ecologia, de forma que um gesto particular há de certa forma influenciar o todo, apelando para o senso de totalidade, mesmo se tratando de escolhas individuais.
O homem reconhecendo-se livre, percebe que não é apenas o que escolheu ser, mas também um legislador, que ao escolher escolhe também toda a humanidade. Dessa forma, ele se angustia porque tem que escolher a sua vida, o seu destino e dessa forma escolhe a humanidade e por isso não pode escapar do senso de responsabilidade.
Ele tem de escolher a vida e o seu destino sem nenhum apoio ou orientação de ninguém. O homem se encontra na condição de desamparo porque não tem algo em última instância que o salve, nem valores eternos.
O homem nada mais é do que uma série de empreendimentos, a soma, a organização, o conjunto de relações que constituem tais empreendimentos. Ele tem o destino em suas mãos e a esperança está em sua ação e ela é a única coisa que permite ao homem viver.
Se em Sartre se valoriza e se destaca o sujeito que escolhe e está fadado a sempre escolher, a contemporaneidade tem como princípio caracterizador a subjetividade. De forma que o homem não é visto mais como fenômeno totalizante com o mundo, mas nele o homem encontra seu lugar e seu destino. Esse distanciamento do mundo permite ao homem a descoberta de sua subjetividade, ele se descobre inserido totalmente no mundo. Como ser no mundo o homem estende-se para além do mundo, com capacidade de transformá-lo em função de si.
A liberdade em Sartre nada mais é do que a atuação do homem pela liberdade sobre o mundo e a realidade que o rodeia, dando assim sentido ao mundo. Nos tempos hodiernos o homem se contrapõe ao mundo como apenas meio para sua auto-realização. No pensamento sartreano, o homem é fonte de sentido para si mesmo. A partir de sua liberdade, isto é, sua incondicional condição, o homem vai escolhendo e se construindo. Essa tarefa de autogênese do homem será sempre incompleta.
Dentre os pontos de convergência da contemporaneidade e do pensamento do filósofo francês Jean-Paul Sartre, há a afirmação do eu. Essa afirmação leva em conta o contexto histórico e a forma como o homem tratará o mundo em que vive e toma decisões ante ao que lhe é apresentado. Expressa, também, o desejo do homem tomar o futuro e as esperanças dele em suas próprias mãos. Outro fator que está presente na contemporaneidade e está intimamente ligado a Sartre é a tentativa de fundar uma nova época tendo por base uma racionalidade que se auto-afirma no lugar de uma determinação teológica. Sartre parte do princípio de que Deus não existe e a partir dessa afirmação é que se construirá o homem e sua história. Fazer suas escolhas e se auto-construir sem qualquer ordenação divina-daí se vê onde brota a angústia sartreana.
A principal caracterização da filosofia contemporânea é a encarnação da própria filosofia, ou seja, o seu lugar é na temporalidade. Dessa forma, coloca-se o homem na existência. A liberdade se torna casual, a existência dela é criativa. Ao afirmar o homem como centro ele não tem um ponto de referência, ele é o fim da ação.
Referências
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
_____. O ser e o nada. Petrópolis: Vozes, 1997.