Júlio César Ferreira
“O que é a tolerância? É o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da natureza.” (VOLTAIRE, Dicionário Filosófico, p. 290)
Voltaire nasceu em 1694 em Paris e foi educado em um colégio mantido por Jesuítas. Tendo recebido considerável herança, deixou o colégio e iniciou seus estudos de direitos . Voltaire viveu a experiência de cárcere e escreveu poemas em homenagens a reis, freqüentou a alta corte em vários países da Europa. Publicou várias obras e mesmo em idade avançada não cessou suas atividades intelectuais. Morreu aclamado e considerado pelo povo em maio de 1778. Voltaire foi curioso por toda a ciência, expunha com clareza e ironia as questões mais obscuras e exerceu, sobre os homens de sua época e posteridade, considerável influência.
O legado de Voltaire se faz perceber especialmente na defesa da tolerância. Voltaire mostra que desde sua época a intolerância já acontecia muito e principalmente entre as denominações religiosas, como os cristãos, que segundo ele deveriam dar exemplo de tolerância ensinando o perdão, mas ele mostra que foram os mais intolerantes de todos os tempos, colocando vários exemplos disso em sua obra Dicionário filosófico, na qual discursou sobre a tolerância.
“Por ter sofrido a intolerância, as ordens e a insolência dos poderosos e também por ter coração e imaginação, foi adversário tenaz de todo fanatismo e despotismo. Por ter sido burguês e ótimo homem de negócios, admirava a constituição que, na Inglaterra, dera-se ‘uma nação de bodegueiros’” (REALE; ANTISERI, História da filosofia, p.733).
Ao ver intolerância em todas as partes, Voltaire quer afirmar que, sem a tolerância, o mundo continuará desordenado: “o melhor meio para diminuir o número de maníacos, se ainda restam, é de confiar esta doença do espírito ao regime da razão, que lenta, mas infalível ilumina os homens” (ibidem).
Voltaire percebeu que a tolerância poderia fazer do homem um ser mais compreensivo, seria como que um remédio para a doença feroz da intolerância. O conhecimento humano é limitado e por isso está sujeito ao erro; nisso consiste a razão da tolerância, que é privilegio assegurado e reservado à humanidade. Ele evidencia que tolerância não é aceitar tudo que se encontra pelo mundo, mas sim o ato de respeitar. Se o ser humano vir que todos são cheios de defeitos, erros e tolices,e reconhecer que o erro é natural a todo ser humano e que todos são iguais, será mais fácil existir o perdão mutuamente.
O homem insiste em promover a discórdia, que é de fato cruel e flagela a humanidade. Mas pode-se ver que, se o ser humano se tornar mais tolerante nas relações sociais, culturais, intelectuais e outras, viverá melhor e em harmonia.
Vale perguntar se existem tais “maníacos” hoje, e se de fato há, quem são, para que se possa solucionar pela razão as intolerâncias que possam haver na sociedade. O fato é que se vê a todo o momento discussões, guerras e conflitos por terras, por ideologias, por denominações religiosas, por pensamentos. Por isso, a questão que se faz é a seguinte: o mundo contemporâneo é tolerante ou intolerante? Diante disso, Voltaire nos leva a propor que se deve viver em paz respeitando e mostrando que é possível um mundo em que convivem a diversidade e a igualdade.
Referências
VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. 2 ed. Trad. Marilena Chauí. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores).
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: vol. II, de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005.
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Muito proufundo!
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Segundo pesquisadores, antigamente a intolerancia era vista como um virtude. Por outro lado, a tolerancia era sinal de subserviencia, de fraqueza, de submissao. O conceito de tolerancia e intolerancia mudaram a partir de 1572 depois do massacre de protestantes pela igreja catolica. A partir desta data, a tolerancia comecou a ganhar novos sentidos e valores. Porem, ate os dias de hoje, a discriminacao e o preconceito ainda representam uma forma de intolerancia. Mas a realidade esta se modificando a cada dia, e devemos nos obrigar a treinar a tolerancia todos os dias, seja atraves de uma situacao ou qq outra coisa.
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Muito obrigada por publicar esse comentário sobre a Tolerância de Voltaire. Encontram-se ideias pertinentes que me ajudaram a pensar melhor na estrutura de um comentário que estou a escrever .
“A tolerância é a consequência necessária do conhecimento de que somos falíveis: errar é humano e todos nós cometemos permanentemente erros. Por isso devemos desculpar uns aos outros as nossas tolices. É esse o fundamento do direito natural.”
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Hoje, mais do que nunca, precisamos de humildade, sabedoria e paciência para derrotar este gigante bélico da intolerância, digo bélico porque toda intolerância gera conflito, guerra e insatifação que afasta pessoas, grupos, comunidades e nações. Portanto, desde as mais simples relações interpessoais, para se construir amizades que permanecem, é preciso tolerar o diferente de ser, viver e falar, mesmo discordando, tolere o colega de trabalho, de escola, o vizinho, o companheiro de viagem e de butiquim, o conjuge, o pai, o filho e todos com os quais convivemos, pois, das tolerâncias das relações humanas, permanentes ou fortuitas, contínuas ou casuais, podem nascer grandes amizades e prosperos amigos, tão necessários para uma satisfatória convivência humana, portanto, antes de responder, de ensoberbecer, de discordar com afronta, respeite, reflita no que vê e no que ouve, seja tolerante e você poderá construir grandes amizades, amigos que permanecem, grandes amantes e irmãos que deixam saudades. Tolerância é o caminho.
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Muito obrigado por publicar esse texto incrível,além de me fazer adquirir conhecimento, está me ajudando muito em uma redação.
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A tolerância é o resultado da prática do uso inconfundível do Princípio da Razão, sendo seu uso na ordem jurídica um realce de vulto. Na prática do Direito sem a tolerância, contida no uso da Razão, jamais ter-se-á uma Justiça plena. Ocorreria, sim, um julgamento alheio ao estudo e uso dos detalhes, ou seja, o trato do uso intolerante do Princípio do Vue d’ensemble, em moda nos julgamentos.