Tiago da Silva Gomes
Denomino puras (em sentido transcendental) todas as representações em que não for encontrado nada pertencente à sensação. Conseqüentemente, a forma pura de intuições sensíveis em geral, na qual todo o múltiplo dos fenômenos é intuído em certas relações, será encontrada a priori na mente. Essa forma pura da sensibilidade também se denomina ela mesma intuição pura. (Kant, Crítica da Razão Pura, p.39)
Em sua Crítica da Razão Pura, na “Estética Transcendental”, Kant definiu a sensibilidade como uma faculdade de intuição, através da qual os objetos são apreendidos pelo sujeito cognoscente. Nessa apreensão receptiva são fornecidas “intuições puras” e “intuições empíricas” que possibilitarão o conhecimento do objeto. O conhecimento só será possível nas formas puras a priori da intuição sensível: tempo e espaço.
Kant afirma que a sensibilidade é o primeiro passo para se chegar ao conhecimento. O objeto é apresentado primeiramente à sensibilidade para ser pensado, em seguida, graças ao entendimento. É ela que fornece os dados da experiência, ou seja, o múltiplo vindo das intuições. É necessário distinguir na sensibilidade dois elementos constitutivos: um que é material e receptivo passivo; outro que é formal e ativo. A matéria do conhecimento são as impressões que o sujeito recebe dos objetos exteriores, enquanto a forma exprime a ordem na qual essas impressões são colocadas.
A primeira fase definida como recepção passiva, na qual ministra ao conhecimento seu objeto ou sua matéria é o que Kant chama de intuição empírica. Nela, o sujeito, exerce sua capacidade representativa (sensação) mediante o efeito provocado pela afetação do objeto. O material é dado ao sujeito pelas simples sensações ou modificações que ele lhe causa (como, por exemplo, sentir frio ou calor, amargo e doce) e como tal, são dados a posteriori pertencentes á realidade empírica experienciada. São manifestações fenomênicas, das quais se capta não o em si mesmo (noumeno) do objeto, mas o que se aparece ao sujeito que conhece sensorialmente através das manifestações que lhe foram causadas pelo objeto. Porém, na manifestação fenomênica da intuição empírica a “forma” da sensibilidade precede a “matéria”.
A segunda fase é aquela do pensamento ativo na qual se manifesta a inteligibilidade, ou seja, a forma do conhecimento chamada de “intuição pura”. Enquanto a matéria é algo dada por simples sensações ou modificações produzidas no sujeito pelo objeto, a forma, por sua vez, ao contrário, não vem das sensações e da experiência, mas sim do sujeito, sendo aquilo pelo qual os múltiplos dados sensoriais são ordenados em determinadas relações. A forma é o modo de funcionamento da sensibilidade, que, ao receber os dados sensoriais, naturalmente os organiza. Por isso, a intuição pura é a forma pura da sensibilidade, ou seja, a forma dos fenômenos como contribuição própria e a priori da sensibilidade em relação ao saber. As formas puras da intuição sensível como princípios do conhecimento é o tempo e o espaço.
O espaço e o tempo kantiano não são determinações ontológicas, ou estruturas dos objetos, mas modos e funções próprias do sujeito, isto é, são formas inerentes a priori de sua capacidade cognitiva. Conhecimento sensível algum pode fugir à sua ação, pois todas as partes da sensação só se integram ao saber do sujeito se compreendidas no todo do tempo e no todo do espaço. As formas a priori do espaço e do tempo são as próprias impressões refletidas do sujeito conhecedor intuídas sensivelmente.
Para Kant, o espaço é a forma (o modo de funcionamento) do sentido externo, ou seja, a condição à qual deve satisfazer a representação sensível de objetos externos; já o tempo é a forma (o modo de funcionamento) do sentido interno e, portanto, a forma de todo dado sensível interno enquanto conhecido pelo sujeito. Assim, o espaço abarca todas as coisas que podem aparecer exteriormente e o tempo abarca todas as coisas que podem aparecer interiormente. Não significam que sejam realidades absolutas, pois são dependentes da intuição sensível, se exige como condição imanente para que seja possível um conhecimento objetivo.
Deve-se eliminar das formas puras do espaço e do tempo kantiano qualquer hipótese de um enquadramento num conceito discursivo, pois a sua unidade não é a de um conceito abstrato, geral e universal como o conceito homem. Eles são essencialmente uno ao passo que todo conceito é, de si, relativo à multiplicidade. Só é possível falar de vários espaços e tempos referindo-os, ao menos implicitamente, a um espaço e tempo mais vasto que os contém a todos. A unicidade tanto do tempo, quanto do espaço, enquanto princípio de referência, diz respeito à sua ilimitação e infinitude perante toda a realidade objetiva.
A natureza do espaço e do tempo é determinada pela convergência de duas características essenciais: sua realidade empírica e sua realidade transcendental. A sua realidade empírica é tudo aquilo que se apresenta externamente à intuição empírica, ou seja, a afetação do objeto no sujeito que a percebe intuitivamente pela sensibilidade. Já a idealidade transcendental é descoberta por Kant para que as formas puras da sensibilidade não venham a ser uma propriedade das coisas, nem uma realidade absoluta que as contenha, como ocorre na realidade empírica. O tempo e o espaço são, pois, algo ideal, mas daquela idealidade transcendental que não se opõe em nada à objetividade atribuída à extensão e à temporalidade.
Kant, ao apresentar estas reflexões faz uma crítica aos empiristas, pois para ele a idéia não pode ser destituída do empírico, um conhecimento deve nascer do empírico e ser conceituado pela razão. Ele não exclui um conhecimento em detrimento do outro, ambos se complementam, dando possibilidade de um conhecimento verdadeiro.
As formas puras a priori são constituídas como o fundamento dos juízos sintéticos a priori da matemática e da geometria. A geometria está diretamente relacionada ao espaço e seus objetos externos. Já a matemática se relaciona com o tempo e seus objetos são internos e não empíricos.
Assim, Kant percebeu que os objetos da ciência podem ser conhecidos, pois se dão no tempo e espaço. Enquanto, os objetos da metafísica que são objetos em si (noumeno), por não ser uma manifestação fenomênica, não se pode conhecê-los. Por isso, a metafísica como ciência não é algo possível, pois para ser teria que conhecer os seus objetos, sendo necessário emitir juízo e então conceituá-los, porém isso não é possível pelo fato da metafísica não se dar no tempo e no espaço.
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Referência
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Abril cultural, 1983.
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Como referencial humano de SADABI, e por inspiração do mesmo, digo:
A sensibilidade é a prioridade para se chegar a evolução…
Mas, para isto é preciso se trabalhar dentre da ciência metafísica e na teologia DIVINA…
Quando se aplica este trabalho, se aguça a sensibilidade, tornando-a perfeita para se
transmutar e receber a inspiração do ETERNO…
É este ponto de precisão para a unificação do corpo materia com o corpo espiritual, procedendo assim, a ressonância entre o humano e o ETERNO, fica muita mais perfeita…
Do relator EDVALDO.
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