Marney Barcelos Araújo
Vanderlei Guimarães
O presente estudo pretende mostrar o sentido do chamado “fim da metafísica”. Ao longo da história muitos filósofos questionaram sobre a autenticidade da metafísica e na modernidade estes questionamentos foram ganhando mais força, pois com o avanço da técnica e da absolutização da razão a metafísica foi perdendo a centralidade que possuía no período medieval.
Em primeiro lugar é preciso buscarmos na língua grega a origem da palavra metafísica: é metà tà physiká, cujo significado é metà igual à ultrapassagem e tà physiká igual a físico, denominando assim, aquilo que esta além do físico, terminologia usada até hoje.
O homem buscando um sentido para suprir suas exigências e também buscar um modo de explicar o seu estar no mundo, entra na tradição religiosa sofrendo influências socioculturais. Na tradição religiosa o homem já encontra em sua totalidade um horizonte de sentido da própria existência, sendo o ser humano em um todo como um ser essencialmente metafísico. Segundo Mac Dowell “a metafísica é conseqüência necessária da sua racionalidade” (MACDOWELL, 2001, p.11).
Com sua racionalidade, o ser humano percebe no horizonte metafísico que algo ultrapassa os seus sentidos (conhecimentos), sendo tudo imaterial, intemporal e imutável que derivam de algo supra-sensível, onde reina um absoluto. Este mundo supra-sensível será questionado por vários filósofos sobre tudo Nietzsche e Heidegger, que deixará o horizonte de sentido questionável, tendo este período marcas culturais na sociedade contemporânea.
No período contemporâneo dois fatores influenciaram o “fim da metafísica”: de um lado a absolutização da razão cientifica onde houve um avanço tecnicista. Por outro lado à reação para uma não absolutização da razão, onde a pretensão não é mais um saber unificado, mas um saber dominado pela razão.
Ao tratarmos sobre o avanço científico, em junção com um avanço da técnica, voltamos ao período moderno com Galileu Galilei que com seus estudos oferece a oportunidade de um avanço que acentuou a modernidade. Durante um longo período este avanço ficou apagado, ou não foram explícitos de tal forma para a sociedade. Somente agora na contemporaneidade esta ciência veio a surgir forte, com um sistema de dominação do ser humano em todas as áreas, não somente na racional, ela mostra um poder que na sua forma sistematizadora, logo conquista o homem. Como diz Macdowell:
Em primeiro lugar, a tecnociência exerce um fascínio todo especial sobre todo-mundo, em função dos resultados concretos que apresenta. O progresso contínuo das diversas ciências na explicação dos fenômenos e os benefícios que trazem à humanidade as suas descobertas, trazidas em tecnologias cada vez mais sofisticadas, conferem-lhe um prestígio incomparável. (MACDOWELL, 2001, p.13)
Aos poucos esta ciência vai construindo sua forma no mundo mostrando que a realidade e o homem podem ser progressivos. Com isso a sociedade busca melhoras na área da produtividade, tendo tudo explícito com a objetividade pela razão científica. A história e a natureza se tornam agora matéria de pesquisa, sendo manipulado pelo homem. Não é mais necessária a buscar de algo supra-sensível para fundamentá-la.
Em relação ao domínio pela racionalidade cientifica segundo o positivista Augusto Comte baseado em critérios pragmáticos, afirma que a ciência suprema é a sociologia, onde irá estabelecer os laços entre os seres humanos com uma política positivista. Seus fundamentos é que com o avanço científico voltado para as áreas da educação será alcançada uma ordem.
Já os neopositivistas não pretendem substituir à metafísica e a religião, para eles, tais respostas não pertencem ao campo do conhecimento, mas do emotivo e do irracional, pois é opção subjetiva e arbitrária. Logo este pensamento entrou em crise, por fundamentar nas proposições analíticas da matemática e lógica, que são tautológicas, e as preposições das ciências empíricas. Não sendo a metafísica nem em uma, nem em outra, acaba pelos próprios termos, sem sentido.
Nem os neopositivistas, nem os positivistas, conseguiram superar a metafísica, mas surgiu um problema, que abalou até o campo da própria ciência. Ou seja, uma reação contra o racionalismo modernista. Um dos fatores são os conceitos da física (espaço, tempo), que os próprios cientistas vão criticar com teorias mais concisas, como o conceito da teoria da relatividade de Einstein. Outro campo que deu uma nova compreensão é o das ciências naturais em fazer a separação entre matéria e espírito, racionalidade e místicas.
Percebendo que a razão cientifica foi afetada dentro dela mesma, o ser humano perde a consciência própria, voltando seu olhar não para forma racional, mas como se dá por trás dela uma busca pelo poder. A determinação a cerca da existência humana é deixada para o sujeito escolher, através dos seus interesses e sentimentos, ocorrendo uma relativização dos valores caindo em um vazio, ou seja, niilismo.
Tendo rompido com este absoluto pela racionalidade o homem busca em vão fundamentá-la. Esta razão leva a uma desordem, onde a busca de colocar o homem no lugar de Deus foi em vão. Resta agora somente um “eu” arbitrário sendo instrumento individual. As conseqüências trágicas do racionalismo moderno trouxeram a tona uma busca de um paradigma da racionalidade que permite superar a crise que se encontra.
Referências
MACDOWELL, João. O fim do “fim da metafísica”. Revista Reflexões, n.1, Mariana, 2002, p. 9-44.