Joel Santos de Marselha
O presente artigo fará uma análise acerca da linguagem e seus limites no pensamento de Wittgenstein[1] conforme expresso em sua obra Tractatus Logico-Philosophicus (1921). Para ele, sua tarefa filosófica consiste em analisar a relação da linguagem com o mundo, a possível coincidência entre linguagem e realidade. A filosofia da linguagem examina até que ponto proposições escritas ou ditas representam os dados da experiência sensível e, portanto, têm sentido ou são absurdas.
A função da linguagem, segundo Wittgenstein, é descrever a realidade, pois nada pode existir fora da linguagem. O que ela não diz não existe no mundo: “os limites da minha linguagem denotam os limites de meu mundo” [2]. Existe uma mesma forma entre linguagem e realidade, pois a linguagem é o espelho do mundo e só por meio dela se pode compreender a realidade; e o conhecimento neste caso consiste na análise dela.
Sendo assim, a linguagem é o conjunto de proposições que descrevem ou figuram algum estado de coisa possível; o sentido destas resulta do fato de descreverem algo que acontece na realidade. A linguagem é a totalidade das proposições e constitui figura da realidade, modelo de uma situação possível: “A proposição é figurada da realidade. A proposição é o modelo da realidade tal como a pensamos”[3].
A proposição, expressão do pensamento, tem algo comum com o que é descrito: a forma lógica. Como por exemplo, “o disco da vitrola, o pensamento e a escritas musicais, as ondas sonoras estão uns em relação aos outros no mesmo relacionamento existente entre a linguagem e o mundo. A todos é comum a construção lógica”[4]. O pensamento e a linguagem são uma e a mesma coisa. Ele é constituído de proposições complexas que ligam entre si nomes, signos dos objetos.
Já os limites da linguagem consistem em “dizer” e “mostrar”; não é possível “dizer” ou expressar a forma lógica comum à realidade e à linguagem. Esta apenas se mostra. As expressões que não descrevem um estado de coisa possível não têm sentido, pois não figuram nada. Dentre estas expressões, destacam-se as expressões filosóficas sobre a natureza das coisas, o valor, e o sentido da vida. Trata-se de expressões que transcendem o mundo e, portanto, carecem de sentido.
Assim, Wittgenstein critica a própria filosofia, pois segundo ele “toda filosofia é ‘critica da linguagem’” [5]. A filosofia não pode dizer nada acerca do mundo, pois ela não é ciência nem uma forma de conhecimento. Ela deve ser uma atividade de análise da linguagem, pode nos ajudar a distinguir o que se pode ou não dizer. A tarefa da filosofia é clarificar a linguagem, ou seja, o pensamento. Preocupa-se com princípios e não com a verdade, pois esta é da competência das ciências.
Esta crítica wittgensteiniana da linguagem não tem como objetivo reformá-la. Não pretende melhorar a linguagem nem as ideias nela expressas. Quer, isto sim, refleti-la, esclarecer sua estrutura lógica. O resultado de seu trabalho não pode ser formulado como uma doutrina filosófica, mas quer estabelecer limites que impeçam o homem de dizer coisas indizíveis, afinal, sobre “o que não se pode falar, deve-se calar”[6].
Referências
PINTO, Paulo Roberto Margutti. Iniciação ao silêncio: Análise do Tractatus de Wittgenstein. São Paulo: Loyola, 1998.
REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Paulinas, 1991. Vol. 3.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. José Arthur Giannotti. São Paulo: Companhia Editor Nacional/ Editora da Universidade de São Paulo, 1968.
ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento e teoria da ciência. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2008.
[1] Ludwig Wittgenstein nasceu em Viena, em 1889, encaminhado pelo pai para estudar engenharia, inscreveu-se na Technische Hochschule de Berlim-Charlottenburg, posteriormente transferiu-se para a faculdade de engenharia de Manchester, de onde, em 1911, a conselho de G. Frege, foi para Cambridge para estudar os fundamentos de matemática, sob a guia de Betrand Russell. Wittgenstein foi o primeiro filósofo vienense que, com o Tractatus, inspirou o neopositivismo e posteriormente, na década de 30, foi o maior representante da “filosofia da linguagem”.
[2] Tractatus Logico-Philosophicus 5.6.
[3] Tractatus Logico-Philosophicus 4.01.
[4] Tractatus Logico-Philosophicus 4.014.
[5] Tractatus Logico-Philosophicus 4.0031. A crítica tractatiana da linguagem se reduz a uma ‘crítica da proposiçao’, apesar de Wittgenstein não explicar o porquê desse fato.
[6] Tractatus Logico-Philosophicus 7.
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Estou fazendo um trabalho sobre as múltiplas linguagens infantis, e, a procura de uma definição, cai no seu blog. Gostei muito do artigo de Marselha. Simples mas bem fácil de entender. Parabéns. Marisa.
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estava pesquisando para escrever minha redação que tem como tema dissertar concordando ou não com a frase de Wittgenstein : “Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo.” E o seu artigo me ajudou bastante. Parabéns.