Edivaldo de Oliveira Ribeiro
O presente artigo, cuja base inspiratória se pauta no pensamento do filosofo pós-moderno de Jean-François Lyotard – uma chave hermenêutica que mostra a passagem do pensamento moderno para o pensamento pós-moderno – objetiva-se analisar o problema do método nos jogos de linguagens.
Porém, antes de se adentrar nesse aspecto se abordará em linhas gerais o tema que perpassa todo o seu pensamento, que é o saber na sociedade pós-industrial e na cultura pós-moderna. Por sociedade pós-industrial entende-se a sociedade que surgiu dos anos cinquenta para cá, que não é mais uma sociedade guiada pelo capitalismo, pela exploração comercial e cujo trono não é mais ocupado pela máquina a vapor que na modernidade aumentara a produção de bens de consumo. Nesse sentido, o termo pós-industrial pressupõe que houve uma outra revolução que superou a da industrial, concebida por Lyotard como sendo a da era da informação em todos os sentidos que agora ocupa o centro e adquire valor de troca, reinando simplesmente o mercado da informação.
Já quanto à cultura pós-moderna, deve se destacar que a sua concepção é composta por aspectos da filosofia, da literatura e da arte que revelam bem o que é a era pós-moderna. No que concerne à arte é perceptível que há uma desconstrução de formas e representações, ao contrário da arte renascentista na qual há um culto à forma; na literatura nota-se que a narração dos fatos já não é mais feita de modo linear, que em seus feitos não há mais defesas de valores ou a pretensão de se fazer política ou moral e, por fim, na filosofia, há algo típico da pós-modernidade que lhe é intrínseco – ausência de fundamentos – o que revela uma erosão do discurso filosófico, já que, desde o seu inicio, a filosofia propôs a verdade, ao metadiscurso que diante das ultimas premissas da modernidade e das premissas da pós-modernidade são colocados em xeque.
Consequentemente isso revela que há uma decomposição dos grandes relatos ou metarrelatos, havendo uma ênfase do componente comunicacional e da agonistica da linguagem, permeando também os discursos de descontinuidade e paradoxos. Os metarrelatos estão relacionados a todo tipo de pensamento sistematizador e interpretativo do todo que agora sai de cena. Em relação à ênfase do componente comunicacional afirma-se que o discurso pós-moderno pretende apenas comunicar, visto que não tem a pretensão de legitimar uma dada ética ou de ser absoluto (meta-discurso); já a expressão agonistica da linguagem (na Grécia, denotava a arte da luta, “combate e tensão”) designa a ideia de que no discurso pós-moderno há uma tensão constante da linguagem que se autoquestiona e se pergunta, criticamente, sobre o seu próprio uso.
Diante disso, uma vez que Lyotard tem consciência de que não é mais possível a existência de um metadiscurso, afirma que é necessário criar jogos de linguagens (convenções) e suas regras, com base no estudo que Wittgenstein fez em sua obra Investigações Filosóficas, acerca da linguagem a partir do zero em relação a sua obra anterior, centralizando a sua atenção sobre os efeitos dos discursos e denominando os diversos tipos de enunciado de jogos de linguagem (LYOTARD, 1998, p.16).
A linguagem é jogo, porque se joga com palavras. É necessário fazer algumas observações acerca da definição dos quatro princípios dos jogos de linguagem (LYOTARD, 1998, p.17). O primeiro é que suas regras não são autolegitimadas, mas constituem objeto de um contrato explícito ou não entre os jogadores, em que esse contrato de regras se apresenta como fator primordial para que, de fato, haja uma comunicação entre as pessoas. O segundo é que diante da ausência de regras implica a não existência de jogos, ou seja, “uma modificação, por mínima que seja, de uma regra modifica a natureza do jogo e que um “lance” ou um enunciado que não satisfaça as regras não pertence ao jogo definido por elas.” E o terceiro é que todo enunciado deve ser considerado como um “lance” feito num jogo sendo que em cada área existe uma regra especifica. Esse último princípio, impele à admissão de um outro que alicerça todo o método e que pode ser resumido na ideia de que: “…falar é combater, no sentido de jogar, e que os atos de linguagem provêm de uma agonística geral” (LYOTARD, 1998, p.17).
Porém,
Isto não significa necessariamente que se joga para ganhar. Pode realizar um lance pelo simples prazer de inventá-lo: não é este o caso do trabalho de estímulo da língua provocado pela fala popular ou pela literatura? A invenção continua de construções novas, de palavras e de sentidos que, no nível da palavra é o que faz evoluir a língua, proporciona grandes alegrias. Mas sem dúvida, mesmo este prazer não é independente de um sentimento de sucesso, sobre um adversário pelo menos, mas de envergadura: a língua estabelecida, a conotação. (LYOTARD, 1998, p. 17)
Portanto, após se ter deixado claro que o pensamento de Lyotard é chave de leitura para a passagem do pensamento moderno para o pós-moderno e se ter evidenciado, segundo ele, as principais marcas deste período, em que não há mais a possibilidade de grandes relatos ou metadiscursos, quer se destacar que a sua releitura do pensamento de Wittigenstein e a proposta de jogos de linguagem para a pós-modernidade foi algo muito contundente e que conseguiu dar saída para o não fundamento da mesma, evitando assim um relativismo.
Referências
LYOTARD, François-François. A condição Pós-moderna. Tradução de Ricardo Corrêa Barbosa. 5.ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1998.