Leandro Alves Figueira
A linguagem humana possui papel fundamental para descrever o conhecimento das coisas que nos rodeiam ou não. É ela que manifesta da melhor forma o pensamento abstrato que nós fazemos para conhecer o mundo, através do mito, da arte, da ciência e principalmente da filosofia. Com essa perspectiva, procuraremos desenvolver o mais famoso argumento de Wittgenstein[1] a respeito da linguagem privada.
Para Wittgenstein, a filosofia é uma luta contra os mal-entendidos que provêm de um uso da linguagem cotidiana. Filosofar, para ele, em certo sentido é querer “compreender algo que já está aberto diante de nossos olhos” (WITTGENSTEIN, 1994, p.64). Isso significa, portanto, uma investigação gramatical (WITTGENSTEIN, 1994,p.65), isto é, a descrição do uso que fazemos de nossa linguagem cotidiana, das expressões linguísticas (WITTGENSTEIN, 1994, p.73).
Mas a linguagem pode se ampliar. Com certeza, mas se essa palavra “ampliar” tem um sentido, aqui, eu já sei qual é. Devo ser capaz de especificar como imagino essa ampliação. E o que não me é possível pensar não posso então exprimir ou até mesmo insinuar. E, neste caso, a palavra “então” significa “neste cálculo” ou “se as palavras forem usadas segundo estas regras gramaticais”… Signo assim nos leva para além de si mesmo, nem tampouco um raciocínio (WITTGENSTEIN,1994, p.42).
Por conseguinte, o argumento da linguagem privada se desenvolve como um “privilégio” peculiar das experiências, as quais fazem e adquirem conhecimentos a partir delas. Esse privilégio está voltado no que podemos chamar de ilusão da primeira pessoa. Como é que eu posso saber, ao ver uma pessoa sentindo dor, as causas dessa e o determinado complexo do organismo de um indivíduo? Pois bem, a própria dor está oculta por sua expressão, só podendo ser diretamente observada por aquele que sofre assim pensamos muitas vezes.
É comum nos depararmos com pessoas que expressam ao sentir uma dor, que só ela é capaz de mencionar a sensação que a mesma está passando. Como exemplo, podemos citar a sensação de algumas pessoas ao perderem um ente querido, as quais se sentem desesperadas, angustiadas, a tal ponto de afirmar que o outro não pode ter a noção da dor que a mesma está passando.
Até que ponto então as minhas sensações são privadas?-Ora, só eu posso saber se realmente sinto dor; o outro pode apenas supor.- Num sentido, é falso, noutro, absurdo. Se usamos a palavra “saber” como normalmente é usada (de que outra maneira usá-la senão assim!), então os outros saberão com muita frequência quando sinto dor.- Sim, mas decerto, não com a certeza com que eu próprio sei!- Ninguém pode, em absoluto, dizer de mim (a não ser por brincadeira) que eu sei que sinto dores. O que quer dizer isto- a não ser que eu sinto dores? (WITTGENSTEIN, 1994, p.124)
Quanto à questão da dor, Wittgenstein nos responderá contradizendo o pensamento acima, que os nossos comportamentos tendem a evidenciar a dor, a qual estamos sentindo. O enunciado “só eu sei que estou sofrendo a minha dor” possui funções diferentes quanto à linguagem expressa na primeira ou terceira pessoa. Na terceira pessoa, julga-se necessária uma consulta médica para diagnosticar a determinada dor. Ao contrário, na primeira pessoa não é necessária a descrição da dor, ela por sua vez é subjetiva.
Desse modo, não podemos referir as nossas sensações por meio de palavras inteligíveis numa linguagem pública, pensando que os outros não podem captar o que estamos sentindo. Com a evolução da ciência, as pessoas não estão obsoletas ao ponto de não desconfiar ou apontar na expressão do outro, o que a mesma está sentindo. Logo, as pessoas ao se depararem com um indivíduo sentindo uma determinada dor, por exemplo uma dor de cabeça, as mesmas se sentirão inquietas a tal ponto de buscarem de maneira superficial ou profunda a análise da determinada sensação que o indivíduo está sentindo.
Podemos dizer, contudo, que quanto à primeira e à terceira pessoa possuem importância para chegar ao conhecimento até mesmo para chegar à essência de qualquer estudo.
Wittgenstein confere um peso excessivo à distinção entre usos expressivos e descritivos. Um mesmo proferimento pode desempenhar ambas as funções: o proferimento de pode corresponder tanto à informação do próprio peso quanto à expressão de remorso. Além disso, embora o proferimento “Eu acredito que p” não constitua uma descrição, ele é, amiúde, um relato e não uma manifestação espontânea; pode indicar firmes convicções minhas (GLOCK,1998, p.155-156).
A expressão do outro na primeira pessoa demonstra privacidade, já que o falante não se preocupa com a visão do outro, já que suas experiências são pessoais. Você caro leitor, certamente pode relatar uma dessas experiências da linguagem privada, afinal todos nós conhecemos os nossos estados mentais mesmo que não observemos os nossos comportamentos, e sentimos coisas que ao nosso ver pode ser compreendido apenas por nós mesmos.
A possibilidade da linguagem privada é pressuposta desde a filosofia moderna, tomando como ponto de partida René Descartes. Podemos afirmar que a primeira pessoa possui a capacidade, através da razão, de bem julgar o que é bom e distinguir o falso do verdadeiro. Porém devemos ter a atenção para não privar este conhecimento só para nós mesmos, e, principalmente, não julgar que o outro não possua a capacidade de compreender a nossa dor, por exemplo, a partir do nosso comportamento.
Portanto, cabe a nós a partir deste artigo, a tarefa de não julgar como falsa ou verdadeira a expressão do outro. Devemos sim, saber usar a linguagem com a devida atenção em todos os campos, aprimorando o conhecimento, uma vez que a linguagem privada pode ser descrita. Porém, pode ser compreendida através do comportamento, da expressividade sensorial.
Referências
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: História e grandes temas. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
GLOCK, Hans-Johann. Dicionário Wittgesnstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
HINTIKKA, Jaakko; HINTIKKA, Merril B. Uma investigação sobre Wittgenstein. São Paulo: Papirus, 1994.
PENCO, Carlo. Introdução à filosofia da linguagem.Petropólis: Vozes, 2006.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Petropólis: Vozes, 1994.
[1] Ludwig Josef Johann Wittgenstein nasceu aos 26 de abril de 1889. Faleceu na Inglaterra dois dias após completar 62 anos, em 1951.O seu pensamento é dividido em duas fases: a primeira corresponde ao Tractatus logico-philosophicus, única obra que publicou em vida e que insere na tradição da análise lógica da linguagem. Já a sua segunda fase, conhecida como “o segundo Wittgenstein” tem como noção central o jogo da linguagem, ou seja, a multiplicidade de usos que fazemos de palavras e expressões sem que haja nenhuma essência definidora da linguagem enquanto tal.
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e laiaaa, rs tive uma prova sobre esse tópico semana passada…. muito bom o artigo, no entanto, estudamos pouco sobre a linguagem em Wittgensetin, vimos Filosofia da Linguagem em Locke, bem interessante tb… é isso aí pessoal, Abç a todos