Rosemberg Nascimento *
O problema a ser abordado neste artigo adentrando-se ao pensamento de dois grandes pensadores contemporâneos, a saber: Foucault e Merleau Ponty têm como objetivo de investigar e analisar de maneira concisa a partir dos textos de Michel Foucault o homem está morto? E o texto de Marilena Chauí acerca da obra a fecunda de Merleau-Ponty sobre o sentido do humanismo. Primeiramente veremos como Foucault em seu pensamento traz uma acepção do significado do humanismo em nossa cultura. No entanto podemos ressaltar segundo o pensamento Focaultiano que no discorrer da história o homem sempre se mostrou e se mostra como sendo questionador. Por isso ele afirma que o humanismo é uma noção muito antiga que permeia, sobretudo por Montaigne ultrapassando limites.
A palavra “humanismo” não existe na obra de Montaigne, ou seja, nos Ensaios. Sendo assim imaginemos que o humanismo foi o ápice da grande cultura ocidental. O que distingue esta cultura ocidental das demais culturas assim como das orientais ou islâmicas é o humanismo. Assim podemos frisar que o humanismo ele não só existe nas outras culturas, mas está também inserido em nossa própria cultura.
O Século XVI foi a era do humanismo, que o classicismo desenvolveu os grandes temas da natureza humana, que o século XVIII criou as ciências positivas e que chegamos enfim a conhecer o homem de maneira positiva, científica e racional com a biologia, a psicologia e a sociologia. (FOUCAULT, 1966).
Por outro lado, como podemos observar no século XVI a era do humanismo e também mais adiante com o classicismo deu-se inicio, portanto ao desenvolvimento de grandes temáticas no que emerge a natureza humana. E a partir do século XVIII criaram-se as ciências positivistas de tal modo que nos possibilitou conhecer o homem a partir de três vias relevantes assim como: positiva, científica e racional por meio do estudo da biologia, psicologia e a sociologia.
“O humanismo tem sido a grande força que animou o nosso desenvolvimento histórico e que é finalmente a recompensa desse desenvolvimento, (…) que é o princípio e o fim”. (FOUCAULT, 1966). O homem é aquele que contempla e simultaneamente admira a nossa cultura atual, por causa da maneira com que ela se preocupa importando-se com humano. Mas diante da questão supracitada no humanismo nos questionamos será que a cultura contemporânea ou a nossa sociedade se preocupa com o humano? Está é a seguinte indagação que devemos fazer diante do que delineia Foucault e do que observamos na sociedade contemporânea. O humanismo é a força que impele o desenvolvimento da história determinando como sendo princípio e fim. Portanto o movimento do humanismo atinge seu fim no século XIX. Por isso quando vemos as culturas dos séculos XVI e XVII e XVIII, podemos perceber como ressalta Foucault que o homem não tem literalmente nenhum lugar. “a cultura é então ocupada por Deus, pelo mundo, pela semelhança das coisas, pelas leis do espaço, e certamente também pelo corpo, pelas paixões e imaginação”. (FOUCAULT, 1966).
No texto o homem está morto? principalmente em sua célebre obra as palavras e as coisas, Foucault enfatiza quais peças ou quais pedaços compõem o homem no final do século XVIII e no limiar do XIX. Desse modo ele afirma que não é pelo fato de ter tido um cuidado moral para com o ser humano que se teve a ideia de conhecê-lo de maneira científica, todavia o ser humano é uma realidade em construção. A partir desse pressuposto constrói-se o ser humano como objeto de um saber possível que mais adiante desenvolveram-se temáticas morais do humanismo na contemporaneidade. Ademais, já o problema de Sartre acerca do humanismo se torna diferente, como ressalta Foucault, pois o humanismo, a antropologia e o pensamento dialético estão intimamente ligados.
O que ignora o homem é a razão analítica contemporânea que se viu nascer com Russel, e que aparece em Lévi-Strauss e nos linguistas. Está razão analítica é incompatível com o humanismo, enquanto que a própria dialética se nomeia acessoriamente de humanismo. (FOUCAULT, 1966).
Deste modo existem varias razões que são aparentemente nomeadas pela razão analítica que por causa de ser uma filosofia da história, pelo fato de ser uma filosofia da prática humana, da alienação e reconciliação. De certo modo como nos afirma Foucault a dialética promete em certa medida ao ser humano que ele se tornará um homem autêntico e verdadeiro. Ela promete o homem ao homem e, nessa medida, não é dissociável de uma moral humanista. Neste caso os grandes responsáveis do humanismo contemporâneo são Hegel e Marx.
Entretanto Foucault salienta e ao mesmo tempo faz uma saudação a Sartre que deduz de forma extraordinária o episódio da cultura em que teve inicio em Hegel. Ele fez tudo que podia para integrar a cultura contemporânea, a psicanálise, a economia política da história, da sociologia a dialética. A cultura não dialética está próxima de se formar varias razões. Em primeiro lugar por ter aparecido de modo espontâneo em regiões em que os extremos são diferentes. A cultura não dialética deu-se início, com Nietzsche e assim Foucault declara:
Quando ele mostrou que a morte de Deus não era o aparecimento, mas o desaparecimento do homem, que o homem e Deus tinham estranhos parentescos, que eram ao mesmo tempo irmãos gêmeos e pais e filhos um do outro, que Deus estando morto, o homem não poderia não desaparecer, ao mesmo tempo deixando atrás de si uma monstruosidade. (FOUCAULT, 1966).
Neste sentido, cultura não dialética também apareceu em Heidegger, quando ele retoma a questão fundamental sobre a abordagem do ser retornando a origem grega. Ao contrário em Russel quando ele faz uma crítica lógica a filosofia. Em Wittgenstein quando ele expõe o problema das relações entre lógica e linguagem, tanto nos linguistas quanto nos sociólogos como em Levi- Strauss. Além do mais as manifestações da razão analítica ainda são dispersas conforme ressalta Foucault. Segundo ele o pensamento não dialético que se constitui de modo imediato não põe em jogo a natureza ou a existência, mas isso é o que determina o saber. Este terá de indagar sobre a relação que pode haver entre diferentes domínios do saber e, todavia entre saber e não saber.
Conforme norteia Foucault, o pensamento atual deve definir isomorfismos entre os conhecimentos. No entanto compreender, pois a relação positiva e constante que existe entre o não-saber e o saber, vemos que um não exclui o outro. Desta maneira, a literatura está inerente ao pensamento não-dialético que caracteriza a filosofia. “Toda a literatura está em uma relação com a linguagem que é no fundo a que o pensamento mantém com o saber. A linguagem diz o saber não sabido da literatura”. (FOUCAULT, 1966). Quer dizer a literatura está inerente a linguagem que é na essência do pensamento que mantém o saber. A linguagem ressalta o não sabido da literatura ela é o instrumento que ultrapassa qualquer determinado saber.
Entretanto, já no artigo de Marilena Chauí ela esmiúça algumas partes relevantes da obra fecunda de Merleau-Ponty abordando o significado do humanismo em nossa cultura. Percebe-se que ela afirma que o problema ontológico é aquele que está subordinado a todos os outros problemas e por isso a ontologia não pode de modo algum ser um teísmo, isto é doutrina pessoal causa de Deus nem um naturalismo ou humanismo. Pois não podemos identificar o ser como um dos seres isto é Deus, o homem ou a natureza. Assim três impulsos filosóficos que de certo modo serão afastados pelo trabalho Merleau- pontyano, a saber: o teológico, o humanista e por fim o naturalismo cientificista e o de um certo materialismo. Conforme afirma Chauí acerca da crítica do naturalismo, ou seja, ao característico das filosofias empiristas e do positivismo científico e do humanismo da filosofia da consciência vemos que esta foi inaugurada com Descartes e prosseguida com o idealismo transcendental por meio de Kant e Husserl há uma indagação pertinente sobre a herança deixada pelo racionalismo na modernidade.
Ademais “o comportamento humano não é uma coisa nem é uma ideia. No entanto, o referencial de Merleau-Ponty ainda conserva ressonâncias da antropologia filosófica, pois o papel central é conferido à consciência perceptiva e não à percepção”. (CHAUÍ, 2010). Em sua obra Fenomenologia da percepção Merleau-Ponty faz uma crítica voltada contra o intelectualismo das filosofias da consciência, mas segundo ele o verdadeiro ato de filosofar é reaprender a observar a realidade do mundo, pois através do corpo, espaço, tempo, motricidade, sexualidade, linguagem, visão, emoção, pensamento e liberdade surgem a partir dos acontecimentos corporais e derrubam a consciência reflexiva de seu papel constituinte projeto de posse intelectual do mundo. Tomando a filosofia não como fonte de explicação, mas como indagação interminável. “A filosofia e a ciência não são a fonte de sentido e que não há um ponto de partida absoluto (Deus, o homem, a natureza), mas um solo originário e uma inerência ao mundo que merecem ser interrogados” (CHAUÍ, 2010).
Na obra O visível e o invisível o ser é o que exige de nós criação para que possamos ter experiência. Além do mais segundo Chaúi Merleau-Ponty afirma que filosofia e arte, juntas, não são fabricações arbitrárias no universo da cultura, mas contato com o ser justamente enquanto criações. Cogita-se que há um momento em que o ser vem a ser. Desse modo o que torna possível a experiência criadora é a existência de algo.
Realizam um trabalho no qual vem exprimir-se o co-pertencimento de uma intenção e de um gesto inseparáveis, de um sujeito que só se efetua como tal porque sai de si para ex-por sua interioridade prática como obra. È isso a criação, fazendo vir ao ser àquilo que sem ela nos privaria de experimentá-lo. (CHAUÍ, 2010).
Chauí compreende o ser bruto de Merleau-Ponty o ser de indivisão, que não foi submetido a separação (metafísica e científica) entre sujeito e objeto, alma e corpo, consciência e mundo, percepção e pensamento. É pela diferença entre sons e signos que uma língua existe e se constitui como sistema expressivo, pois sons e signos não são átomos positivos e isoláveis, mas pura relação, posição e oposição. O ser bruto é um sistema privado de “equivalências” diferenciado e diferenciador pelo qual há no mundo. Assim ser bruto e espírito selvagem estão entrelaçados, abraçados e enlaçados. O mundo da cultura como nos aponta Merleau-Ponty a fecundidade que passa, mas não cessa é o parto interminável do ser bruto e do espírito selvagem. A ciência manipula as coisas recusando habitá-las. A filosofia corresponde a um sujeito universal que se ergue como olhar intelectual desencarnado que contempla o mundo. A tradição filosófica científica é o abandono do mundo, podemos dizer que o abandono do pensamento encarnado num corpo, alcança de modo indireto.
A experiência de uma atividade requer de nós comprometimento “se o sair de si e o entrar em si definem o espírito, se o mundo é carne ou interioridade e a consciência está originariamente encarnada já não pode ser o que era o empirismo, isto é passividade (…) e resposta a estímulos sensoriais externos”. (CHAUÍ, 2010). Por outro lado, o que era para o intelectualismo ser uma atividade de inspeção intelectual do mundo como nosso modo de ser e de existir, a experiência nos possibilita experimentar aquilo que ela sempre foi que evocamos de iniciação aos mistérios do mundo. Ademais a experiência é o meio que me é dado de estar ausente de mim mesmo. Contudo a tradição tanto empirista como intelectualista, em que cindiu o ato e o sentido da experiência que coloca o homem diante da esfera confusa e o segundo a do conceito. Por isso precisamos decifrar e compreender a experiência sendo ela a cisão inseparável. “A experiência é o ponto Máximo de proximidade e de distância, de inerência e diferenciação, de unidade e pluralidade em que o mesmo se faz Outro no interior de si mesmo”. (CHAUÍ, 2010). O que difere a própria experiência de certo modo não é posta por ela. Manifesta-se nela, pois o próprio mundo que se coloca a si mesmo como visível-invisível, dizível-indizível, pensável – impensável. Todavia a cisão dos principais termos distingue sem separá-los e os unifica sem identificá-los. A experiência é o que fundamenta a manifestação da própria experiência.
Com efeito, filosofia e ciência almejam como ideal de uma linguagem pura e transparente. O sonho da filosofia e da ciência é o que faz que a linguagem o mesmo que fez com que o sensível perdesse a linguagem identifica consigo mesma.
Som e sinal, a linguagem é mistério por que presentifica significações, transgride a materialidade e, corpo glorioso e impalpável e acasala-se com o invisível (…) a nossa língua nos insere num mundo cultura no qual ela parece exprimir completamente e não porque realmente o faça ou possa fazê-lo. (CHAUÍ, 2010).
A temática da linguagem nos ajuda a compreendermos que ela está somente naquilo que a exprime. Quando se faz esquecer somente há esquecimento quando exprimi algo. O conceito de livro Merleau-Ponty faz uma analogia a uma máquina infernal que produz significados.
Exprimir é empregar os meios disponíveis oferecidos pelo instituído o mundo da percepção e da cultura para descentrá-los e deformá-los, instituindo uma nova coerência e um novo equilíbrio que, a seguir, serão retomados numa nova expressão, que os recolheu como falta e excesso do que se desejava exprimir. (CHAUÍ, 2010).
Portanto, no exposto acima vemos que ao exprimir algo deve retomar uma nova expressão entre a falta e o excesso daquilo que deseja exprimir. Destarte, a história que perpassa as obras de arte e das obras de pensamento não é uma história empírica de acontecimentos como nos salienta Merleau-Ponty, mas se torna uma história que designa uma história de adventos. “O acontecimento fecha-se em sua diferença empírica ou na diferença dos tempos, esgota-se ao acontecer. O advento (…) é o excesso da obra sobre as intenções significadoras do artista; (…) mas também o que eles deixam como ainda não realizado”. (CHAUÍ, 2010). Quando se torna, pois algo excessivo em suas obras retoma o feito através do não feito, descobrindo o que almeja a obra daquilo que mostra e se deixa ver ou o que se revela.
(*) Graduando na FAM
Referências
FOUCAULT, Michel. O homem está morto? Tradução de Michel Foucault e Márcio Luiz Miotto, revisão de Wanderson Flor do Nascimento. Dits et Ècrits. Paris: Gallimard, 1994. Disponível em: <htpp://www. filoczar.com. br/Foucault/o homem-esta-morto-Michel-Foucault-entrevista.pdf.>.Acesso em: Junho de 1966. p.8-9.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Merleau Ponty: A obra fecunda. Disponível em: <htpp://www. revistacult.uol.com.br /home/2010/03/ Merleau-ponty-a-obra-fecunda/pdf/.>. Acesso em: 03 de Março. 2010.