4 Comentários

  1. Thiago Gandra

    Boa reflexão parabéns!!! Ainda mais pela audácia de confrontar dois autores… Mas o que une a alma ao corpo em Descartes é a tal glândula pineal, tratada na própria obra “As paixões da alma”, e o coceito de unidade substâncial não é aplicado por ele mas sim por Tomas de Aquino.. Em descartes não há unidade substãncial, mas pra ele, seu interesse é provoca uma separção de ambas, embore ele fracasse… O que há é uma ligação entre corpo e alma entre as sensações de ambas que passam pela glândula pineal.

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  2. Thiago Gandra

    Na verdade não é o que une porque Descartes não tem interesse nessa união mas sim na distinção (alma e corpo), mas o que aproxima alma e corpo pelas sensações de ambas é a glãndula pineal…

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  3. Juliana Pinheiro

    Caro Thiago,

    Devo dizer que sua crítica não faz sentido. Primeiramente, porque ela é contraditória em si mesma. Segundo, porque, mesmo que fosse coerente em seus próprios termos, ela não procede.

    Você admite, num primeiro momento, que, em Descartes, a glândula pineal “une” o corpo e alma, para dizer, logo em seguida, que não se aplica o conceito de “união substancial” na doutrina cartesiana. Ora, “unir” corpo e alma não é dizer que há uma “união substancial”, pois, afinal, corpo e alma são, para Descartes, substâncias? Depois, você diz: “O que há é uma ligação entre corpo e alma entre as sensações de ambas que passam pela glândula pineal”. Aqui, você substitui o termo “une” por “ligação”, mas continua afirmando uma espécie de união entre corpo e alma. Porém, está incorreto dizer que “há uma ligação entre as sensações de ambos que passam pela glândula pineal”. O corpo, cartesianamente falando, não sente. Portanto, não pode ter sensações. Descartes diz na “Segunda Meditação”: “aquilo que em mim se chama sentir, tomado assim precisamente, nada é senão pensar”. (DESCARTES, 1988, p. 27). Sensações são pensamentos e, como tais, não estão no corpo, mas são sentidas na alma, já que, para Descartes, o corpo é extenso e não pensa, e a alma pensa e não é extensa (DESCARTES, 1988, p. 66). Tampouco pode ser dito que “as sensações de ambos passam pela glândula pineal”, pois, sendo a glândula pineal uma parte do corpo, não pode ela propriamente “sentir”. Quem sente é alma que tem sua sede principal na glândula pineal – assim seria mais correto dizer. De qualquer forma, você se contradiz em seus próprios termos.

    Mais a frente, você tenta precisar sua interpretação dizendo que “na verdade não é [a glândula pineal] o que une porque Descartes não tem interesse nessa união mas sim na distinção (alma e corpo), mas o que aproxima alma e corpo pelas sensações de ambas é a glândula pineal…”, insistindo na idéia de que Descartes não defende a união substancial, mas o que há apenas é uma “aproximação” entre as substâncias. Vamos novamente ao Descartes para tirar essa dúvida. Ele diz na “Sexta Meditação”: “A natureza me ensina, também, por esses sentimentos de dor, fome, sede, etc., que não estou alojado em meu corpo, como um piloto em seu navio, mas que, além disso, lhe estou conjugado muito estreitamente e de tal modo confundido e misturado, que componho com ele um único todo”. (DESCARTES, 1988, p. 68). Não se trata, portanto, de uma mera “aproximação” entre corpo e alma, mas de um todo no qual corpo e alma se “misturam”. E afirma também na carta a Elisabete de 21 de maio de 1643: “Considero haver em nós certas noções primitivas, as quais são como originais, sob cujo padrão formamos todos os nossos outros conhecimentos. […] Possuímos em relação ao corpo em particular apenas a noção de extensão, da qual decorrem as da figura e do movimento; e, quanto à alma somente, temos apenas a do pensamento, em que se acham compreendidas as percepções do entendimento e as inclinações da vontade; enfim, quanto à alma e ao corpo em conjunto, temos apenas a de sua união, da qual depende a noção da força de que dispõe a alma para mover o corpo, e o corpo para atuar sobre a alma, causando seus sentimentos e suas paixões.” (grifo nosso. DESCARTES, 1988, p. 147-148). Portanto, sua crítica, Thiago, de que Descartes não falou, nem teve interesse na união entre corpo e alma, não procede. A doutrina cartesiana tanto defende a distinção entre corpo e alma, quanto a união substancial. Se você vê um problema na conjugação destas duas noções, ou até mesmo se reconhece que a concepção de união substancial de Tomás de Aquino é diferente da de Descartes, isto é uma outra questão. Mas não podemos negar que ele não tenha dito.

    DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
    ________. Cartas. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

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  4. Eduardo Lopes

    Concordo e comungo plenamente com as colocações feitas por Juliana Pinheiro. Segundo o que já estudei, com certeza ela deve ser uma grande estudiosa de Descartes, certo? O artigo de vocês ficou muito bem feito e estruturado, por ser carregado de modéstia, acabou levando alguns a se contradizer em seus próprios termos. O filósofo de fato deve ser audacioso, ele não deve ter medo de debater, apresentar e confrontar suas idéias. Já pensou se Sócrates não tivesse sido audacioso (no bom sentido) e tivesse voltado atrás em sua palavra? Com certeza ele não teria atingido o renome que atingiu, por isso o filósofo deve ser sim audacioso, senão outro vem e ultrapassa ele. Vejo que para criticarmos ou debatermos sobre determinado tema filosófico, é necessário estar por dentro do tema, conhecer; criticar por criticar até mesmo uma criança do ensino fundamental pode criticar qualquer texto filosófico.

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