Alan Lopes de Oliveira
“Sapere aude! Tenha coragem de fazer uso de seu próprio entendimento.” (Kant)
Kant, em seu artigo Resposta à pergunta o que é Aufklärung, propõe um esclarecimento, ou seja, a saída do homem de sua menoridade. Essa menoridade é a falta da capacidade do indivíduo para usar sua própria razão sem o auxílio do outro. O próprio homem é culpado dessa menoridade, pois ele mesmo não aproveita de sua razão e sim se serve sempre do outro para alcançar suas respostas.
Muitos são os motivos que levam o homem a cair em uma menoridade intelectual, dentre eles a preguiça e a covardia, pois é mais fácil se acomodar na menoridade do que se libertar dela. É, por exemplo, mais fácil basear-se em coisas já prontas do que tentar formular novas ideias; é mais fácil cair em um comodismo intelectual, já que sair dessa menoridade exige esforço. Mas, também deve se levar em conta a dificuldade para o homem de se libertar desses princípios, pois há uma cultura que o acompanha, na qual foi educado dessa forma.
Para o homem obter o esclarecimento “porém nada mais se exige senão liberdade” (KANT, Resposta à pergunta…). Kant entende liberdade como condição e fundamento moral:
Ora homem é, acima de tudo, um ser livre e isto se manifesta e se realiza, na dimensão da práxis. Realiza-se na práxis a passagem das inclinações da natureza sensível para a razão pura. É a partir da pura razão que se deve estabelecer a norma do agir do homem. (OLIVEIRA, A filosofia na crise da modernidade, p.20-21)
Essa liberdade, por vários motivos, o homem não tem aproveitado, pois se prende a dogmas e crenças que o restringem à menoridade. Menoridade essa que se percebe no mundo contemporâneo de maneiras diversificadas. Em salas de aula, alunos que simplesmente se fecham em seus dogmas e não se abrem a novos horizontes, não querem conseguir um crescimento intelectual, pois os mesmos pensam em terminar seus devidos cursos e prosseguir com suas vidas. Pessoas fechadas em seus devidos trabalhos, que nunca buscam um avanço em suas profissões, pois os mesmos caem em um comodismo e se contentam com o que têm e nunca pensam no futuro.
Quanto mais o homem usar de sua razão mais ele é livre, mais ele poderá usufruir de uma liberdade intelectual e não se prender a fatos e acontecimentos históricos para pautar suas teorias e assim poder formulá-las com a capacidade de seu próprio intelecto.
Mas até que ponto o homem verdadeiramente está livre para usar de sua razão? Até que ponto o homem realmente pode expor suas ideias de maneira livre, sem medo de uma condenação ou algo parecido?
Kant, em seu artigo Aufklärung, expõe de maneira bem clara que muitas pessoas estão presas por determinadas instituições e não podem simplesmente expor suas ideias como querem, pois cada instituição tem suas regras, caminhos que cada pessoa integrante da mesma deve seguir, pois são princípios básicos para se estar na mesma. Por exemplo: pessoas que fazem parte de uma determinada religião, devem se portar como a religião pede, seguindo o credo que a ela prega. Pessoas que trabalham em determinadas áreas, também têm que se portar como a empresa pede, pois, se não fosse assim, a empresa demitiria o funcionário que não seguisse suas normas.
Como, então, se libertar dessa menoridade se por várias situações as pessoas estão presas por normas? O homem deve fazer aquilo que faz de modo plausível. O homem que está na sociedade deve fazer o que faz da melhor maneira possível, e não somente fazê-lo desinteressadamente. O homem deve estar na sala de aula a fim de adquirir conhecimento, deve levar a sério a todo instante, deve buscar esse conhecimento cada vez mais. O homem que trabalha para seu sustento deve trabalhar da melhor maneira possível, não se prendendo somente a um trabalho que leve ao comodismo de fazer sempre a mesma coisa, e sim usufruir de sua área de serviço para um crescimento. E o homem religioso também deve fazer uso de seu conhecimento para poder crescer. Mesmo ligado a dogmas religiosos, ele tem o direito e a total liberdade de expor ao público ouvinte suas ideias, mas para o mesmo fazer isso, deve-se examinar bem tudo antes de explicitá-la para não haver o risco de se cair em erros. Fazendo isso, e fazendo bem, talvez até contribua para um melhoramento do credo da devida religião.
O homem, por estar nesse processo de racionalidade, deve sempre procurar o melhor para si e para a sociedade, deve sempre buscá-lo com um crescimento pessoal. O homem é um ser entregue às suas próprias mãos, pois ele deve buscar com seus próprios esforços o seu desenvolvimento.
Em beneficio da sociedade, o homem deve fazer um bom uso público de sua razão. Usando dessa razão com liberdade de expressão, podem se gerar inúmeros benefícios para a sociedade, dentro de vários campos como, por exemplo, o político, pois todo homem é um ser político, ele está inserido na sociedade e com isso se dá o compromisso de cada um com a mesma.
Enfim, a grande questão que se levanta é: “vivemos em uma época esclarecida?” O mesmo que Kant questionou a respeito de sua época pode estender-se à nossa. A resposta é não. Não vivemos em uma época esclarecida, estamos longe disso, e sim vivemos em uma época em que se busca constantemente o esclarecimento.
Referências
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: Que é esclarecimento [Aufklärung]. In: Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 1974, p 100-107.
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. A Filosofia na crise da modernidade. São Paulo: Loyola, 1989.
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Muito bom o texto. É libertador.
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encontrei aqui tudo que procurava, gostei!
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