Wagner Júnior dos Santos
O presente artigo abordará, de uma maneira objetiva, a idade da razão e das paixões no pensamento de Rousseau (1712-1778), fase esta compreendida entre jovens de 15 a 20 anos. Segundo o filósofo, “o homem não foi feito para permanecer sempre na infância” (ROUSSEAU, 2004, p. 286). Vale aqui nos questionar acerca de como compreender as paixões se passamos rápido por essa vida.
Rousseau afirma que até a chegada da idade núbil, as crianças dos dois sexos nada têm de aparente que as distinga; ambas têm o mesmo rosto, mesma voz, mesmo aspecto, meninas são crianças e meninos são crianças, o mesmo nome basta para “seres” tão semelhantes, todos são iguais (ROUSSEAU, 2004, p. 285).
Uma revolução na vida humana é anunciada pelos murmúrios das paixões nascentes, e com ela também é anunciada a aproximação do perigo. Até certa idade, os olhos que são os espelhos da alma, não passam de um olhar dócil de bondade. A partir do momento em que se encontra a paixão, ganham outra linguagem e expressão. Os mesmos olhos que antes eram inocentes tornam-se sensíveis, antes de saberem o que sentem, inquietam-se sem razão para isto.
Segundo o pensamento de Rousseau, em sua tese fundamental que consiste na liberdade bem guiada pela razão e pelo pensamento educativo, os estágios de idade devem variar, para preparar os jovens para a vida social. Rousseau queria uma sociedade em que as pessoas fossem não apenas livres e iguais, mas também soberanas, que exercessem um papel ativo dentro do contexto. E para que isso acontecesse seria necessário ensiná-las a serem livres, autênticas e autônomas. Seria essa uma tarefa de poder civilizar a civilização, ou seja, deveria iniciar com a educação das crianças. Rousseau afirma que o ser humano é bom, mas deixou-se corromper pela sociedade, “as crianças que são criadas em uma sociedade que é civilizada, vai se perdendo o instinto de criança dócil e a partir daí, começa a ser falsa e cheia de vícios”. (CHALITA, 2004, p. 282).
Todo apego é sinal de insuficiência. Se cada um de nós não tivesse nenhuma necessidade dos outros, não pensaríamos em unirmo-nos a eles. Nossas paixões são o principal instrumento de nossa conservação, portanto, vã seria nossa intenção de querermos distraí-la. Estaríamos raciocinando bem se, do fato de ser constituinte da natureza do homem ter paixões, concluíssemos que todas as paixões que sentimos e vemos-nos outros, são naturais. “Nossas paixões são limitadas, são os instrumentos de nossa liberdade, tendem a nos conservar”. (ROUSSEAU, 2004, p. 287).
A fonte de nossas paixões, a origem e o princípio de todas as outras, a única que nasce com o homem e nunca o abandona enquanto ele vive, é o amor de si. Paixão essa primitiva, inata, anterior a todas as outras, e que todas as outras não passam de certos sentidos de modificações. O amor a si, que só a nós mesmos considera, fica contente quando nossas verdadeiras necessidades são satisfeitas. Mas o amor-próprio, que se compara, nunca está contente ou poderia estar, pois esse sentimento, preferindo aos outros, também exige que os outros se prefiram a eles, o que é impossível. Assim, o que torna o homem essencialmente bom é ter poucas necessidades e pouco a se comparar com os outros; ao contrário do que o torna essencialmente mau, ou seja, ter muita necessidade e dar muita atenção e opinião aos outros é que o torna essencialmente mal.
O adolescente quando chega aos dezesseis anos sabe o que é sofrer, pois ele próprio sofreu. No entanto mal sabem que outros seres também sofrem; ver o sofrimento sem o sentir, não é conhecê-lo. E não imagina o que sentem os outros, quando porém, o primeiro desenvolvimento dos sentidos acende nele o fogo da imaginação, começa a perceber em seus semelhantes, suas queixas e, comovendo-se sofre com suas dores. É então que o triste quadro da humanidade sofredora deve trazer ao seu coração a primeira compaixão que jamais tenha experimentado.
Enfim, a fonte de todas as paixões é a sensibilidade. Todo ser que sente suas relações é necessariamente afetado quando essas relações se alteram e quando se imagina ou acredita imaginar outras relações mais convincentes que a sua natureza. Os erros da imaginação que transformam em vícios as paixões de todos os seres são limitados. Eis então a síntese da sabedoria humana quanto ao uso das paixões: sentir as verdadeiras relações do homem, tanto na espécie quanto no indivíduo, e ordenar todas as afeições da alma conforme essas relações.
A partir desse princípio, é possível verificar como podemos dirigir, para o bem ou para o mal, todas as paixões das crianças e dos homens. A adolescência não é a idade da vingança, nem do ódio, é a idade da clemência e da generosidade. Assim como afirma Rousseau, podemos concluir que, a criança que conservou até os vinte anos a inocência, é nessa idade o mais generoso, o mais amoroso e o mais amável dos homens, pois não se deixou corromper diante da civilização. Um jovem educado é levado pelos primeiros movimentos da natureza na direção das paixões ternas e afetuosas, onde seu coração compassivo se comove com os sofrimentos de seus semelhantes. O homem do “mundo” está inteiro em sua máscara, não estando quase nunca em si mesmo, é sempre um estrangeiro e sente-se pouco a vontade quando é obrigado a voltar a si. O que ele é nada é, o que parece ser é tudo pra ele.
Rousseau não considera a educação como uma “segunda natureza”, mas como uma continuação da natureza por todos os desvios possíveis e imagináveis. O problema se torna um paradoxo quase que insuperável, uma vez que se trata de socializar o ser humano sem “desnaturá-lo”, educá-lo e deformá-lo. Então como elevar o ser humano à cultura sem sair da natureza? Para responder um paradoxo como este Rousseau trata de retirar a educação das mãos exclusivas dos educadores, tomando por norma última a própria natureza, quererem secundá-la seria um erro, é preciso apenas segui-la; sem o que como Rousseau gosta de dizer, “tudo está perdido”, não há mais remédio.
Vemos um grande descaso hoje na educação das crianças e dos jovens, e vale aqui se perguntar por qual motivo isso vem ocorrendo nos dias de hoje? A educação do nosso tempo tem contribuído para formar homens que sejam capazes de se tornarem livres? Vemos que para formar um homem livre há apenas um meio: tratá-lo como ser livre e respeitar sua liberdade.
O que vemos hoje é na verdade são pais fracos, que cedem a todos os pedidos dos filhos, longe de respeitar sua liberdade, corrompem-na: longe de fazer dele um ser livre, submetem-no às fantasias e mais tarde as suas paixões. O mais grave não é que eles próprios se tornem escravos dos filhos, o pior que fazem dele um escravo. Isso pode acarretar em acostumá-lo a obter tudo, pois, crescendo, seus desejos sem cessar pela facilidade de satisfazê-los, mais cedo ou mais tarde a impotência vos forçará, ainda que contra a vontade a usar da recusa.
O pensamento de Rousseau teve grande influência no desenvolvimento da pedagogia. Por valorizar as emoções, foi reconhecido como precursor do Romantismo e se caracterizou pelo predomínio dos sentimentos e da imaginação em relação à razão.
Referências
ROUSSEAU, Jean-Jaques. Emílio ou da educação. Tradução Roberto Leal ferreira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. 2. ed. São Paulo: Atual, 2004.
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Belo comentário sobre a paixão. Principalmente se tratando dessa idade que temos de educar os filhos para a vida sexual. Você foi muito feliz em seu artigo Wagner. Parabens!
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Por favor eu preciso uma resposta pura sobre a idade da razão